Prólogo

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A aldeia estava em silêncio, o único som era o crepitar das chamas que devoravam a madeira e o clamor abafado da multidão. No centro da praça, a fogueira erguia suas chamas com fúria, o fogo lambendo o céu noturno, tingindo-o de laranja e vermelho, como uma mancha de sangue contra a escuridão.

Teresa estava amarrada, com suas mãos e pés atados a um poste que, a cada instante, parecia encolher sob a pressão das chamas. Seus cabelos grisalhos estavam molhados com o suor que escorria, enquanto o calor a envolvia com um abraço cruel. O rosto da mulher era um retrato de uma calma resignação, os olhos fechados como se procurassem encontrar paz em algum lugar além da dor.

Isabella estava na borda da multidão, suas mãos estavam fechadas em punhos, as unhas cravando a pele, marcando-a com a dor que parecia refletir o inferno à sua frente. Seu olhar estava fixo em Teresa, mas não via a mulher; via apenas uma imagem distorcida pelo fogo e pela raiva que a consumia. O calor fazia seu rosto suar, mas não era o calor da fogueira; era a febre de uma injustiça tão profunda que parecia corroer suas entranhas.

A fumaça envolvia a praça em um véu opaco, tornando o ar espesso e quase insuportável. Isabella não sabia se o nó em sua garganta era causado pelo fumo ou pela dor que sentia, um tormento constante que parecia gritar contra a opressão, mas que se perdia na monotonia dos gritos da multidão. Era uma cena que se repetia em seu íntimo: o mesmo sofrimento, o mesmo grito de desespero, mas nunca o suficiente para mudar o curso dos eventos.

Cada estalo da madeira era um lembrete cruel de que o mundo ao seu redor não se importava com a vida de Teresa, e cada grito do povo parecia aumentar a agonia da jovem. A indiferença dos rostos ao seu redor parecia uma afronta, uma zombaria do sofrimento que ela sentia, como se a dor fosse um espetáculo para a diversão dos outros.

Isabella tentava sufocar a raiva que a consumia, mas ela crescia a cada segundo, uma chama que não se extinguia. Seus pensamentos eram um turbilhão de revolta e impotência. O desespero que a envolvia a tornava quase cega para o que estava acontecendo ao seu redor; tudo era uma sombra de uma noite sem fim, onde a única coisa clara era o rosto sereno de Teresa, agora cada vez mais obscurecido pela fumaça e pelas chamas.

A visão da mulher se desfazendo em cinzas era a imagem que Isabella carregaria para sempre, uma lembrança dolorosa que não poderia ser apagada. 

 

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⏰ Última atualização: Aug 09 ⏰

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