E o feio é o outro
Aquele que é estranho
Não se encaixa
Na proporção áurea
Um não-ser
Imperfeito
E o feio é outro
Ele tem cheiro de
Cabelo de
Corpo assim
Rosto assado
Tem muito
Ou pouco
Fala pelos cotovelos
Pensa pouco
Ele tem nariz de
Não tem ouvidos
Caminha desengonçado
Lhe falta tino
E o feio é o outro
É o ruim
O que não presta
Marginal
Se veste mal
Não tem gosto musical
Não estuda
Vive a Deus dará
O que incomoda
Uma ofensa ao gosto
E o preconceito
Nasce do olhar distorcido
Do encontro
Com o outro
O feio é a espera
Que se espreita
E contradiz
O que desejamos
E a beleza
não é que parece ser
Atrás da face bela
O escárnio
A inveja
O ódio
A fome
A miséria
A pobreza
O estupro
O racismo
A guerra
O lixo
O luxo
A não aceitação
Da verdade
Das atrocidades
A ignorância
É, senão, uma feldade?
E o feio é a chaga
A cicatriz danada
Não sanada
É erro
O mazelo
Do paraíso perdido
Anjo caído
Expiação
Desprezo
Humilhação
Tortura
No final das contas,
A verdade não seja somente a beleza
Quando falta-lhe cárater.
DVigo
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FELDADE
PoetryPoema que reflete sobre o que é o feio, é o que não aceitamos? Seria a fealdade nascida do preconceito, inveja, do olhar torto?