finding the victim

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Eu estava sentado no velho circo abandonado esperando algum bobo aparecer. Vinha sendo assim durante anos, tantas vítimas, tantas expressões faciais, tantas falsas tristezas. Estava arrastando meus dedos na gélida superfície de terra, sentindo minhas calças molhadas pela chuva que recentemente havia caído; ouvindo os passos do que parecia uma boa escolha.

Observei o menino baixo se aproximando, encolhido e abraçado ao seu casaco, com as mãos no bolso e parecendo tão pequeno que poderia sumir dentro dele; mesmo de longe podia ver seu nariz avermelhado e seu corpo tremendo, cambaleando, como se não soubesse andar sem a ajuda de alguém.

Sorri e me arrastei para mais perto, deitando no chão e ficando cada vez mais visível. Joguei o casaco que me cobria para longe e comecei a tremer, sentindo o vento frio batendo nos meus braços e costas, a camiseta um tanto molhada trazendo arrepios a minha espinha.

Senti os passos cada vez mais próximos e soltei um sorriso fraco, logo sentindo meus dentes baterem e uma fresta de sangue sair do lábio inferior, pela falta de hidratação. Estava realmente frio. Mas algo em meu interior dizia que valeria a pena.

- Hey. - Ele falou baixo, perdido, rouco... Parecendo assustado e fazendo-me sentir sua respiração ofegante. Meu sorriso aumentou, um gemido de dor pelos lábios secos saindo de minha garganta, acabei por levar isso como uma ajuda para minha cara de tristeza, então somente respirei fundo e esperei sua atitude.

Seu corpo trazia cada vez mais vento gélido e quando o senti abaixando-se uma sensação estranha apossou-se de mim, como se algo estivesse me esperando.

O garoto me tocou e tremi mais uma vez, sentindo o calafrio cortando minha espinha e então virando-me para o encarar.

- Ah! Saia, saia! - Meu cérebro revirou-se na alternativa de achar uma explicação ao seu medo, múltiplas alternativas passavam por minha cabeça, porém nada fazia sentido; não no momento.

- Me ajude. - Minha voz saiu rouca e triste como planejava e eu quase sorri pela vitória, lembrando-me de continuar fingindo, sempre continuar fingindo.

- V-você... N-não, não! - Meus instintos foram mais fortes que meus pensamentos e quando percebi já estava andando em direção ao menino assustado, seus passos para trás eram tão perdidos que meu coração apertou-se ao pensar na possibilidade de vê-lo cair.

Quando já estava perto da saída do local, consegui o alcançar, tentando segurar sua mão, mas sendo impedido por um impulso para trás. Quanto mais perto eu chegava, mais longe ele ia, era como um ciclo vicioso e torturante.

- Está tudo bem? - Sussurrei, dessa vez de longe. Observando suas sobrancelhas juntas em confusão, como se ele não houvesse entendido minha perguntando, fazendo-me repeti-la em tom mais alto.

Seus olhos estavam arregalados e parecia que ele podia chorar a qualquer momento, seu corpo estava tremendo e eu já não sabia distinguir se o causador disso era o inverno que se aproximava com a chegada de janeiro.

- V-você é um p-palhaço. - Depois de um tempo finalmente falou, seu corpo tremeu, sua voz falhou e gaguejou. O garoto fechou seus olhos com força e balançou a cabeça como se estivesse se repreendendo por tal ato.

Sem perceber sorri; depois de muito tempo soltei um sorriso sincero sem precisar assassinar alguém para isso, somente a grande ironia que estava acontecendo ali me fez sorrir de uma forma que já não era tão cínica como sempre fora.

Ele poderia estar de frente a um assassino, talvez um estuprador, um sequestrador e todas as coisas ruins que você poderia encontrar ao andar sozinho - pela madrugada - nas ruas de Londres. Mas ele estava apenas com medo da maquiagem, mesmo tendo-me como um assassino a sua frente, ele estava com medo da camada que cobria meu rosto.

circus » larryOnde histórias criam vida. Descubra agora