A Dama de Vermelho

Capítulo 7: O Encontro com o Passado

O nome que Emily encontrara nos arquivos parecia pulsar em sua mente, uma lembrança enterrada nas profundezas de sua memória. John Marlowe. Era um nome comum, mas o contexto em que aparecia repetidamente nas investigações antigas era tudo menos isso. Ele tinha sido um empresário respeitado na cidade, mas sua conexão com várias vítimas e a natureza dos crimes o tornavam um suspeito em potencial, um nome que de alguma forma escapara à justiça.
Determinada a desvendar a verdade, Emily decidiu visitar Marlowe em pessoa. Havia algo em seu instinto que a empurrava a confrontá-lo diretamente, algo que ela não conseguia ignorar. Com uma mistura de apreensão e determinação, dirigiu-se até a mansão imponente onde ele vivia, isolada em uma colina nos arredores da cidade.Quando chegou, a escuridão já havia envolvido a propriedade, dando ao lugar uma atmosfera ainda mais sinistra. Emily tocou a campainha, e momentos depois, a pesada porta de madeira se abriu lentamente, revelando um homem alto e magro, com cabelos grisalhos e olhos penetrantes. John Marlowe.— Detetive Carter — disse ele com um sorriso que não alcançava os olhos. — Estava esperando sua visita.Emily se surpreendeu, mas tentou não demonstrar. — Como sabia que eu viria?— Notícias correm rápido nesta cidade, especialmente quando envolvem a famosa detetive que está caçando a Dama de Vermelho — respondeu Marlowe, sua voz suave e controlada. — Mas não se preocupe, não sou seu inimigo. Entre, por favor.Relutante, Emily entrou na mansão, seus olhos analisando cada detalhe enquanto seguia Marlowe por um corredor luxuosamente decorado até uma sala de estar espaçosa, onde o crepitar de uma lareira era a única fonte de luz e calor.— Pode se sentar, detetive — disse Marlowe, gesticulando para uma poltrona próxima. — Tenho certeza de que tem muitas perguntas.Emily manteve-se em pé, recusando o convite com um leve aceno de cabeça.— Não estou aqui para um chá da tarde, Marlowe. Estou aqui porque seu nome apareceu em múltiplos casos de assassinato, todos ligados à Dama de Vermelho. Quero saber qual é sua conexão com esses crimes.Marlowe suspirou e se sentou em uma cadeira de couro, cruzando as pernas com uma tranquilidade perturbadora.— Não tenho nada a ver com esses crimes, detetive. Mas eu conheço a Dama de Vermelho. Muito bem, aliás.O coração de Emily acelerou.— Como assim?— Ela é minha filha.O silêncio que se seguiu foi tão espesso que poderia ser cortado com uma faca. Emily ficou paralisada por um momento, tentando processar o que acabara de ouvir.— Sua filha? — A incredulidade era evidente em sua voz.— Sim, detetive. Minha filha, Evelyn Marlowe. Mas é claro que você a conhece por outro nome agora.Emily mal podia acreditar. A Dama de Vermelho, a mulher que aterrorizava a cidade, era a filha de um homem que havia sido considerado irrelevante durante toda a investigação. Como isso tinha passado despercebido?— Por que está me dizendo isso agora? — perguntou Emily, tentando manter a calma. — Por que revelar essa informação?Marlowe a olhou diretamente nos olhos, sua expressão finalmente mostrando um vestígio de emoção — tristeza.— Porque quero que isso acabe. Não estou defendendo o que minha filha fez, mas há coisas que você não entende, detetive. Evelyn... ela não é o monstro que você pensa. Ela é vítima de algo muito maior. E se você continuar nessa busca por justiça, poderá acabar desenterrando segredos que deveriam permanecer enterrados.Emily sentiu um calafrio percorrer sua espinha. As palavras de Marlowe tinham um peso sinistro, uma advertência velada.— Que segredos? — Ela insistiu, recusando-se a ser intimidada.— Segredos que envolvem pessoas poderosas, detetive. Pessoas que farão de tudo para manter suas ações no escuro. Se você continuar, estará se colocando em um perigo inimaginável.A detetive se aproximou, sua expressão determinada.— Não me importa o quão poderosas essas pessoas sejam. Eu vou até o fim.Marlowe a olhou longamente, como se ponderando sobre o destino da detetive.— Nesse caso, detetive, eu lamento pelo que está por vir. Porque uma vez que você abrir essa porta, não haverá como fechá-la novamente.Emily deixou a mansão pouco depois, a mente fervilhando com as novas revelações. A filha de Marlowe era a Dama de Vermelho. E, aparentemente, havia forças em jogo muito além do que ela imaginava. Mas agora não havia como recuar. O passado estava se revelando, e com ele, segredos que poderiam destruir tudo e todos ao seu redor.Enquanto se afastava da mansão, Emily sabia que estava mais próxima do que nunca da verdade. Mas a pergunta que martelava em sua mente era: estaria ela preparada para enfrentar as consequências dessa verdade? As sombras não estavam apenas ao seu redor; agora, elas pareciam estar dentro dela, sussurrando segredos que ela nunca poderia ignorar.