Capítulo 38: Suspensa

0 0 0
                                    

O silêncio da biblioteca foi interrompido pela entrada do coordenador, que se aproximou com passos firmes. Ele olhou ao redor, encontrando-me sentada em uma das mesas, absorta em pensamentos.

— Raquel, o intervalo acabou. Vamos para a sala de aula — disse ele, com um tom pacificador.

Me levantei e o segui, um pouco atordoada, sem muita vontade de voltar ao normal, mas sem outra opção.

Quando chegamos à sala, o professor estava à espera. A tensão no ambiente era palpável, e os murmúrios dos colegas diminuíram à medida que o coordenador se dirigia à turma.

— Penha foi suspensa — o coordenador anunciou, chamando a atenção de todos. — A família dela já organizou para que ela retome as sessões com o psicólogo. Quando ela voltar, é importante que todos ajam normalmente, como se nada tivesse acontecido.

Os alunos começaram a sussurrar entre si, e eu me sentei, tentando processar suas palavras. O aviso sobre Penha ser afastada parecia uma tentativa de normalizar a situação, mas não ajudava a aliviar o desconforto que eu sentia.

Após o término da aula, Milena e Vitória se aproximaram de mim. Seus olhares expressavam uma mistura de preocupação e solidariedade. Eu me sentia aliviada por tê-las ao meu lado, mesmo sem saber exatamente o que dizer.

— Raquel, você está bem? Quer conversar sobre o que aconteceu? — perguntou Milena, sua voz carregada de empatia.

— Eu também estou aqui se precisar de alguma coisa — acrescentou Vitória, com um tom reconfortante.

Sentei-me em um banco próximo à horta, tentando organizar meus pensamentos. Era estranho estar no centro de uma situação tão tumultuada e não entender completamente o motivo.

— Eu não entendo por que Penha tem essa obsessão por mim. Foi tudo tão do nada — admiti, a frustração e a confusão misturando-se em minha voz. —Eu sei que ela não foi com a minha cara desde a primeira vez que me viu, mas eu não consigo entender porquê.

Milena respirou fundo

— Olha, Raquel, eu vou te explicar. Penha sempre teve um temperamento difícil, e ela carrega uma série de problemas. Quando a conheci, percebi que ela tinha uma necessidade constante de chamar atenção e uma certa inveja de quem estava à sua volta — começou Milena. — Ela já teve muitos conflitos com outras pessoas na nossa antiga escola, mas nunca tinha ido tão longe.

Vitória, ao meu lado, acrescentou com um olhar pensativo:

— Ela é complicada. Ela tem uma mania de projetar os problemas dela nas pessoas ao seu redor. Quando você começou a usar se tornar nossa amiga, isso parece ter mexido com ela. Ela viu em você algo que a fazia sentir-se menor, e isso despertou essa obsessão.

— Então, Penha se tornou mais agressiva porque se sentiu ameaçada? — perguntei, tentando entender melhor.

— Exatamente. — continuou Milena — Penha já tem um histórico complicado. A família dela está passando por uma crise. O pai dela traiu a mãe dela e parece que querem se divorciar. Você se lembra do que eu falei na casa do Erick? Se ela já não achava justo você ser próxima da gente sem se cuidar tanto quanto ela. Imagina como ela se sente vendo você linda. Ela sente que perdeu espaço de vez.

— Eu não fazia ideia de que a situação era tão complicada — disse eu, sentindo um peso maior sobre meus ombros. — Mas, por que ela me escolheu especificamente?

— O importante agora é que você está segura, e Penha foi suspensa. Vamos tentar focar em seguir em frente. Você tem amigos que se preocupam com você — disse Milena, com um sorriso encorajador.

— Foi uma sorte o Erick ter chegado a tempo. Ele realmente acalmou a situação — Vitória comentou, sua voz cheia de gratidão pelo apoio que Erick ofereceu.

— Sim, foi uma sorte — concordei, disfarçando o que realmente pensava. O fato de Erick ter aparecido no momento certo me fez sentir um misto de alívio e inquietação.

Eu estava tentando absorver todas as informações, me sentindo um pouco mais compreendida, mas ainda confusa sobre o que fazer a seguir. A situação com Penha tinha sido um choque, e agora, a vida parecia um pouco mais complicada do que antes.

Quando cheguei em casa, o peso do dia parecia finalmente ter aliviado um pouco. Corri para os braços da minha mãe, buscando conforto. Ela, meio confusa, me abraçou com força, como se tentasse transferir um pouco de sua força para mim.

— Eu não sei o que aconteceu, mas sei que vai ficar tudo bem — ela disse, sua voz tranquila e cheia de amor. — Você é forte e vai superar isso.

Suas palavras, embora simples, foram um bálsamo para minha alma cansada. Eu sorri, agradecida, enquanto me aninhava em seu abraço. A sensação de estar em casa, segura e amada, me ajudou a enfrentar o que viria a seguir com um pouco mais de esperança.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora