A noite foi longa, cada minuto esticado pela agonia que me consumia. Eu revivia cada detalhe da conversa com Milena, o tom devastado da voz dela, os soluços que ela tentava controlar. A culpa e o ódio se entrelaçavam em meu peito, formando um nó apertado que me roubava o ar. Quando o despertador tocou, me arrastei para fora da cama, movida apenas pela necessidade de confrontar a fonte de todo esse caos.
Meus passos eram pesados, quase como se meus pés estivessem enterrados em cimento. Cada respiração era difícil, e meus olhos ardiam com a falta de sono. No fundo, eu sabia que esse dia não seria fácil, mas a raiva que eu sentia por Erick era o que me mantinha em pé. Eu não podia desmoronar antes de enfrentá-lo.
Ao chegar à escola, avistei Erick de longe, e meu coração deu um salto doloroso. Ele estava lá, encostado no muro do portão, os braços cruzados, exibindo uma empolgação irritante. Era como se ele estivesse me esperando, como se esse encontro fosse apenas mais uma parte do jogo dele. Quando nossos olhares se encontraram, percebi a expectativa no rosto dele, algo que me fez apertar os punhos com força.
Eu não queria admitir, mas a visão dele, tão despreocupado, me atingiu como uma lâmina. Como ele podia estar tão calmo depois de tudo? Como ele podia agir como se nada tivesse acontecido, como se a dor de Milena não significasse nada?
— Oi, Raquel — ele disse, com um tom carregado de expectativa. — Então, qual é a sua resposta?
Minhas palavras saíram antes que eu pudesse me conter. — Minha resposta? — minha voz estava carregada de uma fúria que eu nunca havia sentido antes. — É que você é um desgraçado, Erick! Você é um lixo, pior que um lixo! Você é um chorume!
Vi seu rosto murchar, o choque atravessando seu rosto, mas eu não parei. Não podia parar. Havia tanto a dizer, tanto ódio acumulado que precisava ser liberado.
— Você acha que pode brincar com as pessoas desse jeito? — continuei, avançando um passo em sua direção. — Que pode destruir alguém e depois aparecer aqui como se nada tivesse acontecido? Você terminou com a Milena do nada, Erick! Sem uma explicação, sem se importar com os sentimentos dela! Ela ficou destruída, chorou a noite inteira, porque você, seu miserável, decidiu que ela não significava mais nada pra você!
Minhas mãos tremiam, e senti o gosto salgado das lágrimas que começavam a rolar pelo meu rosto, mas não era tristeza. Era raiva, pura e ardente, que se misturava com a dor de ter visto minha amiga sofrendo.
— Raquel... — Erick começou, sua voz hesitante, mas eu não deixei que ele continuasse.
— Não quero ouvir sua voz! — eu praticamente gritei, minha voz ecoando ao redor do portão da escola. — O que você fez foi cruel, foi imperdoável! Você não tem coração, Erick! Seu lixo!
Ele parecia estar tentando encontrar as palavras certas, algo que pudesse acalmar a tempestade que eu havia desencadeado, mas eu estava além do alcance de qualquer desculpa.
— Mas você leu a carta? — Ele perguntou, mas eu não sabia de que carta ele falava.
— Carta? — Eu cuspi a palavra com desprezo. — Que carta? Eu não me importo com carta nenhuma! O que importa pra mim é o que eu ouvi! Ouvi minha amiga, minha melhor amiga, chorando sem parar, tentando entender por que você, esse desgraçado sem alma, descartou ela como se fosse um copo descartável!
A raiva me sufocava, cada palavra rasgando minha garganta enquanto eu lutava contra o desejo de simplesmente ir embora e nunca mais olhar para ele. Mas eu precisava que ele entendesse. Precisava que ele sentisse pelo menos uma fração da dor que ele havia causado.
O silêncio entre nós ficou pesado, carregado com tudo o que não foi dito. Eu vi Erick se encolher ligeiramente, com os olhos marejados, como se minhas palavras o tivessem finalmente alcançado, com os olhos marejado.
Então senti uma mão suave no meu braço.
Vitória estava ali, seus olhos grandes e cheios de preocupação. Ela tinha ouvido tudo, claro. Como poderia não ter ouvido? Eu não me importava. Se toda a escola soubesse do que Erick havia feito, melhor ainda.
— Raquel, calma... — Vitória disse, sua voz baixa, mas firme, tentando acalmar a tempestade dentro de mim. — A Milena me mandou uma mensagem agora há pouco. Ela disse que não vai vir hoje.
Essas palavras foram como um balde de água fria. Eu ainda estava tremendo, o ódio ainda queimava dentro de mim, mas a presença de Vitória, sua mão firme no meu braço, me trouxe de volta à realidade. O que eu estava fazendo? Gritando na frente de todos, expondo a dor de Milena como se isso pudesse mudar alguma coisa? Não podia. Nada do que eu dissesse ou fizesse agora poderia reverter o que já estava feito.
Olhei para Erick mais uma vez. A empolgação que eu havia visto no início havia desaparecido, substituída por uma expressão que eu não conseguia decifrar. Talvez ele finalmente estivesse percebendo as consequências de suas ações, ou talvez ele estivesse apenas tentando pensar em uma nova maneira de me manipular. De qualquer forma, eu não queria mais saber.
Com Vitória ao meu lado, dei um passo para trás, me afastando dele. Eu precisava sair dali, precisava de ar. A escola, as paredes, tudo parecia estar se fechando ao meu redor.
Enquanto eu me afastava, com Vitória ainda segurando meu braço, senti meus passos ficando mais leves, mas o peso no meu coração continuava. Sabia que isso ainda não tinha acabado. Sabia que o ódio ainda estava ali, esperando por uma nova oportunidade de se libertar.
Deixamos Erick lá, parado no portão, e mesmo que ele ainda estivesse no meu campo de visão, eu já havia decidido: não havia mais nada que ele pudesse dizer ou fazer que mudaria o que eu sentia. O que ele causou em Milena, o que ele causou em mim, não tinha volta.
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Entre Ódio e Desejo
RomansaRaquel se muda do interior para a cidade e começa a estudar com Milena, uma garota popular e carismática. No entanto, Raquel se vê atraída por Erick, o namorado dela. Enquanto Erick usa Milena para satisfazer seus próprios desejos e alimentar seu eg...