Me dou conta de que havia me desligado da realidade à minha volta, quando noto o delegado me segurando pelos ombros.
— Alison! – Ele grita ao perceber que eu não reagi aos chamados anteriores.
Olho diretamente em seus olhos, ainda chocada com o que acabara de ler no chat do grupo e murmuro a primeira frase que vem em minha mente.
— O deus cervo amaldiçoou a criança escolhida, jurando que a teria de volta e que quem tentasse impedir também seria consumido pelo fogo de sua ira.
Alan solta as mãos de meus ombros e se afasta com o olhar confuso.
— O que disse?
— A lenda que a velha senhora contava para Jessy. – Sinto meu coração bater como se estivesse em minha garganta e meu estômago se embrulhar. — Sou eu a criança escolhida. Essa coisa... – Tento definir o que essa entidade seria, mas não tenho palavras suficientes. — Não vai parar até que eu volte. Tudo isso é por minha causa.
— Alison, pare de se ater a essas besteiras de lendas. — O delegado passa a mão na cabeça e dá a volta em sua mesa, pegando um bloco de notas e uma caneta. — Você foi a última a falar com Eric. O que mais ele te contou? Consegue se lembrar de algo fora do comum? Ele estava em casa? Estava indo para algum lugar? Conte-me tudo.
— Ele falou sobre a fita da ligação. Falou que ia contactar alguém que podia identificar o registro daquele número que ligou. – Tenho certa dificuldade para focar minha memória apenas na nossa conversa, retalhos da lenda se misturam com pedaços das antigas escritas do livro Moonvale em minha mente. — Eu... não sei. Estou confusa.
— Alison, tente pensar em algo que poderia indicar que ele estaria em perigo. – Alan volta a me segurar pelos ombros, me forçando a olhar para ele.
Sinto minha cabeça girar, mas tento me esforçar ao máximo para lembrar de algo importante e, então, me dou conta do que Eric havia dito durante a ligação.
— Ele estava ofegante, como se estivesse correndo por algum tempo. O questionei sobre isso e ele disse que tinha estacionado o carro dentro da floresta, atrás da delegacia. – Me desvencilho das mãos do delegado e me coloco de pé. — Ele também disse que quase tinham o visto lá. E se realmente o viram? E se o encontraram antes de ele voltar para casa?
— Precisamos ir até lá. – Alan alcança as chaves da viatura sobre a mesa e caminha rapidamente para a saída, quando olha para mim, logo atrás, e me encara com os olhos sérios. — Faça suas mágicas tecnológicas. Temos que encontrá-lo.
No mesmo instante, me recordo de que havia habilitado sem querer o rastreio do celular do Eric no dia que nos conhecemos, através de um clique em uma foto que eu havia enviado para ele.
Enquanto entramos na viatura e seguimos rumo a Redlog Pines, acesso o meu aplicativo espião e busco pela localização de GPS do Eric. O celular aparece como inativo, provavelmente por ter sido desligado, mas ainda existia, no histórico, o último lugar em que ele esteve funcionando. O horário batia com da nossa última conversa. Penso ser melhor começarmos a procurá-lo por aquele ponto.
Minutos depois, chegamos ao local indicado no GPS. Uma pequena trilha no meio da vasta floresta, tão estreita que o delegado custa desviar das grandes árvores ao redor. Penso em como Eric conseguira chegar ali com a picape dele. Alguns metros adentro da trilha e logo vemos a picape abandonada, sem qualquer sinal de seu dono. Desço ansiosa da viatura e corro até o vidro do carro para olhar o que há dentro. Apenas um monte de nada. Forço a maçaneta e a porta se abre facilmente.
— Está destrancada. – Anuncio para Alan, do outro lado da viatura.
Ele se aproxima, enquanto eu me sento ao banco do motorista e noto a chave na ignição. Giro-a, fazendo o carro funcionar para ter certeza de que ele não o deixara ali por alguma avaria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Segredos da Floresta
FanficAlison, apesar de seu enorme talento social, é uma solitária investigadora digital que, após se envolver na resolução de um sequestro na pequena cidade de Duskwood e vivenciar coisas um tanto traumáticas, decidiu dar um tempo das atividades de detet...