Capítulo 3: Ângulo de Rogério

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Eu sempre chego cedo ao trabalho, gostando do silêncio antes que a fábrica ganhe vida com o som das máquinas. Visto meu uniforme azul, ajeito o crachá e dou uma última olhada no espelho do banheiro. A rotina diária sempre me acalma, mas hoje tem algo diferente no ar, como se uma corrente elétrica estivesse pairando ao meu redor.

Pouco depois, sou surpreendido por Lázaro, que chega sorrateiro e me dá um beijo inesperado no pescoço, provocando com um "bom dia, gostoso". Sinto meu rosto esquentar e dou um passo para trás, tentando esconder o embaraço.

Lázaro ri, aquele som claro e debochado que ecoa pelo corredor vazio. “Relaxa, cara. Só tô brincando”, ele diz, piscando para mim. Tento mudar de assunto rapidamente.

“E aí, já começou a produção de hoje?”, pergunto, fingindo interesse na lista de tarefas pendurada na parede.

A manhã avança e, durante uma pausa, Lázaro se aproxima de novo, iniciando uma conversa mais séria. “Sabe, eu estava pensando... O que é ser homem, afinal?” Ele começa a falar sobre exemplos de diferentes culturas onde homens tinham relações íntimas para fortalecer laços de amizade.

“Você sabia que, na Grécia Antiga, era comum homens terem relações com outros homens como forma de tutoria e amizade?” Lázaro continua. “E os samurais no Japão medieval também viam isso como uma parte natural do relacionamento mestre-aprendiz.”

Meu rosto fica vermelho novamente, mas desta vez de indignação. “Ah, você tá maluco! Isso é coisa do passado”, respondo, cruzando os braços, mas sinto uma pontada de curiosidade nos meus olhos.

“E não podemos esquecer dos guerreiros de Esparta,” Lázaro prossegue. “Eles acreditavam que a proximidade entre soldados fortalecia o vínculo no campo de batalha. Era mais do que uma questão de sexo, era sobre confiança e companheirismo.”

“É, talvez. Mas quem disse que a gente precisa seguir o que os outros dizem o tempo todo? Ser homem pode significar várias coisas”, continuo, tentando disfarçar o desconforto. Ele fala com uma naturalidade que eu invejo e temo ao mesmo tempo.

A manhã avança e o sol já brilha intensamente quando eu e Lázaro nos dirigimos ao canteiro de obras. A poeira suspensa no ar e o som das ferramentas criam uma sinfonia familiar, um pano de fundo para a conversa que continua a se desenrolar entre nós.

Enquanto trabalhamos, levantando tábuas e ajustando estruturas de metal, a conversa gradualmente se desvia para tópicos mais pessoais. Lázaro, sempre o provocador, é o primeiro a desabafar.

“Cara, sabe... Eu amo meus filhos, mas às vezes parece que eles sugam toda a energia que a gente tem,” Lázaro diz, enxugando o suor da testa. “Aí quando chega a noite, depois de um dia de trabalho e de lidar com eles, a última coisa que eu quero é qualquer coisa na cama.”

Solto uma risada curta, reconhecendo a verdade nas palavras dele. “Nem me fale. Parece que faz um século desde que eu e a Mariana tivemos uma noite só nossa, sem interrupções.”

Lázaro concorda, balançando a cabeça. “Às vezes me sinto culpado por não estar mais... animado, sabe? Como se tivesse algo errado comigo.”

“Isso é normal, cara,” digo, tentando consolar. “A gente passa tanto tempo sendo pai que esquece como é ser... nós mesmos. Mas não significa que não queremos mais. Só estamos cansados.”

Desconstrução (Thriller Gay Erótico)Onde histórias criam vida. Descubra agora