Capítulo 5: Ângulo de Rogério

104 6 0
                                    

Acordei com o som familiar do alarme, sinalizando o início de mais um dia na rotina agitada de minha família. Levantei-me rapidamente, ouvindo a movimentação da minha filha pela casa, a correria para a escola e o burburinho das manhãs que eu conhecia tão bem. Vesti-me apressado, preparando-me para enfrentar mais um dia de trabalho.

Durante o café da manhã, percebi que minha esposa estava um pouco distante. Nos últimos tempos, notei que a conexão entre nós havia diminuído, mas não tinha dado muita importância. As responsabilidades e o cotidiano tinham se tornado prioridades, e eu me acomodara à ideia de que alguns distanciamentos eram normais após tantos anos juntos.

Ela, por sua vez, reparou que eu estava mais animado do que o habitual ao sair para o trabalho. "Você parece mais empolgado ultimamente. Alguma coisa nova no trabalho?" ela perguntou enquanto preparava o lanche da nossa filha.

Tentei disfarçar a sensação de novidade que me preenchia. "Ah, acho que fiz um novo amigo por lá," respondi com um tom casual. "O Lázaro. A gente começou a conversar mais, ele é um cara interessante."

Minha esposa levantou os olhos, surpresa. "É sempre bom ter alguém para conversar e tornar o dia mais leve. Fico feliz por você."

Com um aceno afirmativo, terminei meu café e me preparei para sair. Embora não tivesse refletido profundamente sobre isso, a amizade com Lázaro estava se mostrando um ponto positivo na minha rotina, trazendo uma nova dinâmica ao meu cotidiano.

Ao deixar a casa, senti um misto de excitação e curiosidade sobre o dia que me aguardava. No caminho para o trabalho, pensei sobre a conversa que tivemos no dia anterior, sobre teorias de conspiração e reflexões filosóficas. Havia algo em Lázaro que provocava minhas ideias e me desafiava a ver as coisas de maneira diferente, algo que eu não experimentava há algum tempo. O que ele trouxe para a minha vida estava despertando um interesse renovado em explorar novas perspectivas, algo que me animava para o dia que estava por vir.

Ao chegar ao canteiro de obras, avistei Lázaro já mergulhado no trabalho, levantando materiais. Ele tinha uma energia contagiante, sempre de bom humor, o que fazia o ambiente mais leve.

"Bom dia, Rogério!" Lázaro me cumprimentou com um sorriso largo assim que me viu se aproximar. "Pronto para mais um dia de batalha?"

"Com certeza," respondi, sentindo-me automaticamente mais animado. "Espero que hoje a gente consiga terminar aquela parte do telhado."

Enquanto trabalhávamos lado a lado, a conversa fluía naturalmente entre nós. Começamos a falar sobre coisas que nunca faríamos, uma brincadeira que se tornou um passatempo comum para descontrair.

"Eu, por exemplo, nunca pularia de paraquedas," admiti. "Tenho medo de altura."

Lázaro riu. "Isso eu também não faria, pelo menos não de livre e espontânea vontade. Mas sabe o que mais eu não faria?" Ele lançou um olhar divertido para mim. "Nunca recusaria um convite para um bom churrasco."

Ri. "Comida nunca é algo que eu recusaria também."

A conversa tomou um rumo mais brincalhão quando Lázaro, com um brilho nos olhos, comentou: "E nunca, em hipótese alguma, eu diria não para uma oportunidade de conhecer alguém mais... intimamente, se é que você me entende." Ele piscou, deixando a insinuação no ar.

Ri, sentindo-me um pouco constrangido, mas também curioso sobre o que Lázaro realmente queria dizer. "Você está sempre com essas piadas, Lázaro."

"Só estou falando a verdade," respondeu ele, dando uma palmadinha amigável no meu ombro. "Às vezes, é bom não levar tudo tão a sério."

Apesar de ser apenas uma brincadeira, não pude deixar de pensar no que Lázaro quis insinuar. Essa nova amizade estava trazendo à tona questionamentos e curiosidades que eu nunca havia considerado antes.

Enquanto a manhã avançava e continuávamos trabalhando, Lázaro mudou o tom da conversa para um tema que sempre o intrigava. "Sabe, Rogério," ele começou, enquanto nos sentávamos para uma breve pausa, "às vezes eu acho que nós, homens, deveríamos ser mais afetivos uns com os outros."

Olhei para Lázaro, curioso com a direção que a conversa estava tomando. "O que você quer dizer com isso?"

"Quero dizer que existe tanto tabu em torno da ideia de homens demonstrarem afeto uns pelos outros. É como se qualquer gesto de carinho ou proximidade fosse visto como algo estranho ou suspeito," ele explicou, gesticulando enquanto falava.

verdade," concordei, refletindo sobre como muitos homens na minha vida pareciam evitar qualquer demonstração de vulnerabilidade ou emoção. "Mas acho que é uma coisa cultural, não é? Desde cedo nos ensinam a sermos duros e a esconder o que sentimos."

Lázaro assentiu. "Sim, e isso só reforça a fragilidade da nossa própria masculinidade. Afinal, por que é tão difícil para alguns caras aceitar que podem ser sensíveis ou demonstrar afeto sem comprometer quem são?"

Pensei por um momento. "Talvez seja medo do que os outros vão pensar. Ninguém quer ser alvo de piadas ou julgamento."

"É um medo real," Lázaro concordou. "Mas talvez, se mais homens começassem a desafiar essas normas, as coisas pudessem mudar."

Enquanto conversávamos, observei atentamente as reações de Lázaro, procurando qualquer sinal de abertura. Admirava a maneira como ele lidava com esses tópicos, mas também estava interessado em ver até onde poderíamos ir com essas discussões.

"E você, Rogério?" Lázaro perguntou, inclinando-se um pouco mais perto. "Acha que seria capaz de quebrar esse tabu? De ser mais aberto com outros homens sobre como realmente se sente?"

Dei de ombros, um pouco desconfortável com a pergunta direta. "Não sei, talvez. Acho que é algo que leva tempo para mudar, não é?"

Lázaro sorriu, satisfeito com a resposta. Eu sabia que ele estava tentando desafiar os limites e explorar as complexidades da amizade masculina, e eu me sentia cada vez mais intrigado pela profundidade das conversas que estávamos tendo.

A conversa foi interrompida pelo som das máquinas de construção reiniciando. Levantei-me, pronto para voltar ao trabalho, quando Lázaro, em um impulso, disse: "Ei, Rogério, que tal um abraço? Às vezes é bom receber um."

Hesitei por um instante, surpreso com o pedido. Não me lembrava da última vez que alguém me oferecera um gesto tão simples, mas significativo. Dei de ombros, sorrindo timidamente. "Por que não?"

Nos aproximamos, e Lázaro me envolveu em um abraço firme e caloroso. Para mim, aquele gesto foi inesperadamente reconfortante. Percebi o quanto sentia falta desse tipo de contato humano. Não era tocado por ninguém há meses, e isso mexeu com algo dentro de mim.

O abraço durou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para me deixar refletindo. Havia algo instigante naquele momento, uma conexão que eu não esperava sentir. Contudo, também reconheci que havia algo genuinamente bom em ser abraçado daquela maneira.

Quando nos separamos, dei um passo para trás e ajeitei o capacete de proteção em minha cabeça. "Obrigado, Lázaro. Acho que eu precisava disso."

Lázaro riu suavemente. "Não tem de quê. Às vezes, tudo que precisamos é de um pouco de contato humano para lembrar que não estamos sozinhos."

Voltamos ao trabalho, mas o gesto simples ficou em minha mente, acendendo uma centelha de curiosidade e algo mais profundo que eu não conseguia nomear. O abraço parecia ter aberto uma porta para sentimentos que eu não tinha explorado há muito tempo.

Desconstrução (Thriller Gay Erótico)Onde histórias criam vida. Descubra agora