Diários de uma Apotecária (Kusuriya no Hitorigoto) Light Novel 4

Disputa Intelectual entre a Raposa e o Tanuki

Na capital, dizia-se que havia um tanuki à oeste e uma raposa à leste. Em Li, a sede do quartel militar ficava à leste, de modo que 'o leste' às vezes era usado como uma forma de se referir ao exército, enquanto 'o oeste' significava a burocracia civil.

Desde os tempos antigos, as pessoas acreditavam que quando os animais selvagens atingiam uma idade venerável, eles se tornavam espíritos sobrenaturais. Basen às vezes pensava que talvez fosse isso o que tinha acontecido com esses dois. O tanuki do oeste era Shishou, filho do governante de Shihoku-shu, no norte. Contudo, a palavra 'filho' era um tanto enganosa; ele era de fato um genro. Os pais de sua esposa o adotaram em seu clã. Apesar de sua situação familiar, ele conseguiu a aceitação da Imperatriz Regente e, portanto, foi uma presença importante mesmo quando jovem. Embora a Imperatriz Regente estivesse em seu túmulo há muito tempo, a figura corpulenta de Shishou ainda era proeminente no palácio.

Quanto à raposa à leste, era Lakan, o homem conhecido como 'o estrategista'. Embora ele próprio viesse de uma tradicional família de renome, seu poder e privilégio não se aproximavam aos de Shishou. No entanto, havia um entendimento tácito entre os oficiais: Lakan era o único homem com quem, sob nenhuma circunstância, se brigava. O pai de Basen lhe ensinou que ele não deveria deixar seu próprio preconceito controlá-lo, mas às vezes era impossível evitar. Diante do tanuki e da raposa, Basen só conseguia ficar tremendo.

O que devemos fazer? Ele tentou perguntar ao seu mestre lançando-lhe um olhar. Não, não ao seu mestre; na verdade, ele poderia ter se sentido menos nervoso se seu mestre estivesse presente. Mas a figura mascarada com ele não era o personagem da alta nobreza que o palácio interno conhecia como Jinshi. O longo manto escondia sapatos de plataforma que adicionavam quase três sun, ou dez centímetros, de altura, enquanto os ombros de suas vestes estavam com um enchimento de algodão para fazê-los parecerem mais largos. Tudo isso escondia muito bem o verdadeiro tamanho e forma daquela pessoa que era muito baixa e transformando-a em um dublê natural de Jinshi — ou melhor, do irmão mais novo Imperador. O companheiro de Basen se portava com certa presunção. Bem, havia as costas curvadas e o ar de relutância, mas era bem a personalidade esperada do irmão mais novo do Imperador. Qualquer um acreditaria que era ele.

Se o outro lado tinha um tanuki e uma raposa, o lado de Basen tinha um cachorro — não um vira-lata sarnento, mas algo mais como um orgulhoso cão de caça.

"E quais assuntos o senhor traz?" Basen falou em nome de seu mestre substituto. O homem usava uma máscara porque estava constrangido com as queimaduras no rosto que sofreu quando era um garoto. Ele raramente falava em público, mas se o fizesse, essa história seria mais do que suficiente para explicar as coisas se alguém achasse sua voz estranha. Ele passava muito tempo confinado em seus aposentos fazendo papelada; fazia quase um mês desde que ele apareceu no Conselho da corte. Mesmo agora, ele simplesmente estava sentado em seu assento, sem dar nenhuma indicação de que falaria. Mas estava tudo bem. Era assim que tinha que ser.

Ele raramente enviava um substituto ao Conselho. Quando o fazia, era apenas para entregar a papelada que estava pronta. Quanto mais obtuso o irmão mais novo do Imperador parecesse, melhor. Era o que o próprio herdeiro queria, e o governante permitia. Porque, exatamente — para qual propósito eles prefeririam e permitiriam isso — não era algo que Basen estivesse em posição de questionar.

"Oh céus, é simplesmente que fomos agraciados com uma presença tão incomum hoje; pensei que talvez um pouco de chá fosse uma boa ideia. Ainda temos muito tempo até a hora da reunião do Conselho Militar" Lakan disse.

Na verdade, era Lakan quem tinha muito tempo até ir pra a reunião do Conselho Militar; Basen não havia dito nada sobre a agenda de seu mestre. No entanto, está longe de Lakan demonstrar consideração pela agenda de outra pessoa.