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Helena

Havia acabado de chegar na sorveteria e, apesar do atraso, nem peguei carona. Desci do carro e notei que o estacionamento estava vazio. Tranquei a porta, mas senti uma estranha sensação de estar sendo observada. Franzi o cenho, segurando as chaves na mão. Isso tá estranho! Olhei ao redor, tentando ignorar meus pensamentos, e comecei a caminhar. Foi quando ouvi o som de passos e, de repente, senti duas mãos no meu quadril. Por puro reflexo, me virei e empurrei a pessoa com toda a força que tinha, acertando um soco na região do rosto. Meu coração disparou, e eu bufei ao ver Medina se chocar contra a parede próxima, com a mão onde havia levado o soco.

── Puta que pariu! — Resmungou, com uma expressão de dor, fechando os olhos. Eu me aproximei, cruzando os braços.

── Desculpa, não tinha visto que era você. Tá bem? — Perguntei preocupada, sabendo que, como estava com a chave na mão, poderia ter machucado.

── Não estou! Que caralho de murro, Helena. — Ele levantou o rosto, e eu vi o arranhão da chave em sua pele. Coloquei o dedo ao redor do machucado, observando.

── Você parece uma geladeira e tá reclamando de um soquinho, Gabriel? Por Deus! Achei que fosse algum cara desconhecido tentando fazer graça, por isso reagi assim.

── Isso ficou bem claro! — Ele falou, e eu ri, beijando sua bochecha enquanto seus braços envolviam minha cintura. ── De verdade, como uma mulher tem uma força dessas?

── Fiz jiu-jítsu quando era adolescente. Tinha medo de me colocar em risco por ser mulher. — Contei, pousando meus braços ao redor do pescoço dele enquanto encarava suas íris.

── Você é um combo, hein? Gostosa, bonita, cheirosa e ainda sabe brigar. Tem alguma coisa que você não saiba fazer? — Perguntou, arrumando meu cabelo. Eu ri suavemente, desviando o olhar.

── Cozinhar não é meu forte. — Admiti, e ele me encarou.

── Em uma escala de zero a dez?

── Três!

── Como você mora sozinha, Helena?

── Semana passada fui fazer um miojo e ele ficou preto. — Contei, lembrando do ocorrido, e ouvi sua risada ecoar nos meus ouvidos, me fazendo rir junto.

── Miojo preto? Que porra você fez ou colocou nele?

── Não sei, a água secou toda e o miojo ficou preto. Esqueci no fogo! — Contei rindo, e ele riu junto.

── Puta que pariu, como você conseguiu a proeza de queimar um miojo?

── Se um dia eu descobrir, eu juro que te conto, mas até o momento, não faço ideia. — Falei, olhando o arranhão dele, que começava a sangrar. ── Tá doendo muito? Não queria ter te machucado.

Ele abaixou o rosto e, em seguida, me encarou com aquele sorriso de canto travesso e a cara de cachorro cafajeste que ele tem.

── Não tá doendo muito, mas não vou reclamar se você me der um beijinho! — Falou, aproximando nossos rostos.

── A insistência do gato. — Falei, afastando meu rosto.

── A insistência de uma gata linda que eu quero conquistar! — Disse, mexendo no meu cabelo.

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora