Os seus pincéis já não deslizavam com facilidade e cores como antes, seus quadros de alegres cheios de vida se tornaram mórbido e escuros. Engoli em seco quando procuro seus olhos e não encontro mais o brilho de quando a conheci, suas obras cheias de alegria e momentos felizes de um dia ensolarado. Se transformaram em um dia cinzento cheio de cinzas depois de um incêndio, que dilacera dezenas de pessoas.
- Ulisses, contou a ela?
- Ela descobriu hoje - meu amigo me olha de forma frustrada - Não sei o que fazer, eu não queria isso.
- Sim, você quis! Não me ouviu quando disse que aquela mulher queria apenas seu dinheiro e status, céus jogou 6 anos de um relacionamento com uma mulher excepcional no lixo. Porquê, Ulisses?
Passei a mão pelos cabelos fartos e tive vontade de chorar, eu me deixei consumir pela paixão de uma história que já havia acabado.
- Eu..
- Nem resposta pra minha pergunta você tem, achou mesmo que ela não iria perceber? Caralho, olha para a mulher que está segurando o mundo para não desabar na frente dessas pessoas!
- Acha que não estou sofrendo, também?
- Não, você não está. E nós dois sabemos disso, que decepção. Avisei a você Ulisses, foi o que mais fiz no último ano. Porém não me ouviu, me diz o que vai fazer agora?
Tomei o whisky em um único gole e andei até Helena, doeu ver o esforço que ela fez para não me afastar quando segurei sua mão.
- Ulisses, está orgulhoso de mais uma exposição de sucesso de sua esposa?
- Helena é uma artista espetacular, sempre soube que ela é perfeita.
- Agradeço os elogios, posso ser tudo menos perfeita - a sua voz saiu amarga e soube que estava se referindo a mim - Aguardo os crítico amanhã.
- Todas as suas obras foram vendidas querida, se não é perfeita. Não tenho palavras para lhe definir - ela sorriu, mas seu sorriso não chegou aos olhos. Nem ao coração, é como ver uma terra fértil morrer a sua frente.
E assim foi por todas sua exposição, o sorriso frio e parcial. Quando entramos no carro, subi a divisória e me virei para ela que ainda olhava fixamente para frente.
- Me perdoe, Helena.
- Há quanto tempo?
- Helena..
- Há quanto tempo, Ulisses?
- Quase um ano e meio - minha voz saiu baixa e ela negou devagar - Mas acabou, eu me arrependo tanto e..
- Não, você não se arrepende de ter me traído. Se arrepende de ter sido descoberto, sabe, você pode até me amar. Mas gosta dessa vida, de ser um canalha sem caráter.
- Eu te amo, não falei assim. Podemos esquecer isso e seguir em frente, você me ama!
- Sim, eu te amo. Porém, aprendi que me amo mais! Que o problema é você, não eu.
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Delírios literários
Historia CortaPequenas cenas e histórias que passeiam pela minha mente durante os dias.. jamais me deixando solitária.