Capítulo 54: Sono

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Esperei o sinal tocar, ainda encostada naquela parede fria. As palavras de Milena rodavam na minha mente, como um eco que se recusava a ir embora. Tudo parecia distante, como se eu estivesse em um filme onde as imagens passavam lentamente, mas os sentimentos continuavam a me atravessar com força total. Era uma mistura de cansaço e tensão, e eu não sabia mais onde um terminava e o outro começava.

Quando o sinal finalmente tocou, levantei-me devagar, sentindo cada movimento como se estivesse submersa em um mar pesado. Peguei minha mochila e saí da escola quase em transe, sem me despedir de ninguém. A caminhada para casa foi um borrão; eu não conseguia focar em nada, apenas colocando um pé na frente do outro até chegar.

Ao entrar em casa, fui direto até minha mãe, que estava na cozinha.

— Mãe, eu tô com muito sono. Já vou dormir, tá? — dei-lhe um beijo rápido no rosto e subi as escadas sem esperar resposta.

No meu quarto, mal tive tempo de fechar a porta antes de me jogar na cama. Não troquei de roupa, não pensei em nada, apenas deixei meu corpo afundar no colchão, pesado como chumbo. Minhas pálpebras caíram como cortinas, fechando-me no escuro acolhedor do sono, que chegou de forma tão repentina que não consegui resistir.

De repente eu estava no pátio da escola, só que tudo parecia maior, mais distante, como se as paredes se esticassem ao infinito. Eu procurava algo, mas não sabia o quê. Então, Gabriel apareceu, vindo em minha direção com uma expressão que mesclava desprezo e raiva.

— Eu não gosto de você — as palavras saiam de mim como se eu estivesse vomitando. — Eu não quero namorar com você.

A expressão dele mudou para algo mais sombrio, mais cruel. Seus olhos se estreitaram, e um sorriso torto surgiu em seus lábios.

— Ingrata! Suja! Você é uma nojenta! — ele cuspiu as palavras, que caíam sobre mim como golpes. — Você devia ser grata por namorar um cara bonito, definido, loiro como eu. Olha pra você! Feia! Nunca vai conseguir nada melhor do que isso!

As palavras dele começaram a ecoar, repetindo-se nas vozes de outras pessoas ao meu redor. As pessoas que já haviam me machucado antes. Os colegas que riam de mim na antiga escola, os bullies que me perseguiam, as meninas que cochichavam pelas minhas costas. Todos eles estavam lá, formando um círculo ao meu redor, seus rostos se contorcendo em zombaria e desprezo.

Eu tentava fugir, mas não conseguia. Meus pés estavam presos, como se o chão os tivesse engolido. Eu estava cercada, sem saída. Gabriel continuava a cuspir insultos, e agora estava rindo de mim, junto com Erick, que observava a cena de longe, com um sorriso cruel no rosto.

As risadas e as palavras cortantes se misturavam, se tornando um rugido ensurdecedor. E então eu comecei a sufocar. O ar parecia se esvair, meus pulmões não conseguiam puxar o ar. Eu estava morrendo, eu sabia disso. E ninguém ali se importava. Pelo contrário, eles pareciam sentir prazer com minha agonia.

Eu estava prestes a ceder, a deixar que tudo escurecesse, quando, de repente, meus olhos se abriram.

O quarto estava escuro e silencioso. A primeira coisa que senti foi o coração batendo rápido e forte, como se estivesse tentando romper meu peito. O ar estava preso na garganta, e minha respiração vinha em pequenos e curtos soluços. Eu não tinha forças para me mover; tudo o que consegui fazer foi ficar ali, olhando para o teto, tentando me convencer de que estava acordada, que o pesadelo havia acabado.

Então, ouvi um som na porta.

— Raquel? — era a voz da minha mãe, preocupada. — Tá tudo bem? Eu escutei um gemido...

Ela entrou no quarto, seus passos eram suaves, mas apressados. Eu a olhei, ainda tentando recuperar o fôlego.

— Eu... Eu acabei de acordar — minha voz saiu rouca e trêmula. — Só tive um sonho ruim. Talvez eu tenha feito algum barulho enquanto dormia.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora