Capítulo 14: Ângulo de Lázaro

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Eu me sentia cada vez mais isolado e desanimado com a amizade crescente entre Rogério e Jesus. Eles passavam o tempo conversando sobre filosofia, trilhas e lugares que, sinceramente, eu nunca teria interesse em visitar.

Enquanto observava de longe, pensei: *Acho que estou com ciúmes.*

Decidi me aproximar para tentar me incluir na conversa. "Sobre o que vocês estão falando?" perguntei, tentando soar casual.

Jesus sorriu para mim. "Estávamos falando sobre trilhas e aventuras ao ar livre. Você curte esse tipo de coisa, Lázaro?"

Dei de ombros. "Não sou muito de aventuras, prefiro ficar na cidade. Mas e você, Rogério? Desde quando começou a curtir essas coisas?"

Rogério riu, percebendo o tom de insatisfação em minha voz. "Eu só estava ouvindo o que o Jesus tinha a dizer. Ele é todo zen, gosta de acampar e tal."

Jesus riu também. "É, acho que a cidade pode ser sufocante às vezes. Não precisa se preocupar, Lázaro. Tem espaço para mais um na nossa conversa."

Forçei um sorriso, ainda desconfiado. "Ah, legal. Talvez algum dia eu me anime."

Me afastei e peguei meu celular para escrever uma mensagem para Rogério: *Engraçadinho esse Jesus 😂 Tô morrendo de saudade de você.*

Rogério respondeu: *Tente se encaixar e agir normal, Lázaro. Não podemos mais ficar juntos como antes, não temos local pra isso.*

Enviei um emoji de carinha triste 😞 e respondi: *Esse povo não fala nada de interessante. Eles não conversam como a gente. Me sinto um alienígena perto deles.*

Rogério respondeu: *Precisamos arrumar um local em breve. Eu prometo conseguir, vou tentar dar um jeito.*

Deixei o celular de lado e fui ajudar Jesus em uma tarefa na obra. "Vamos levantar essas paredes aqui. Preciso de alguém para segurar a escada enquanto eu fixo as vigas."

Mais tarde, enquanto estava no expediente, fui para a galeria do celular e olhei uma foto de Rogério nu, dormindo. Senti um misto de saudade e desejo ao ver Rogério dormindo vulnerável nu na foto, com um olhar de paixão. A imagem me trouxe uma lembrança do quanto eu sentia falta da presença dele e de como as coisas tinham mudado entre nós.

Assim que o dia de trabalho terminou, voltei para casa, tentando me recompor antes de enfrentar a família. Ao chegar, minha esposa Juliana e minhas filhas estavam me esperando.

Eu tentei agir normalmente, brincando e alegrando as crianças, mas Juliana me observava com um olhar desconfiado.

"Você está estranho, Lázaro," ela disse, tentando disfarçar a irritação enquanto as crianças brincavam na sala. "Você nem me nota mais, não dá atenção. O que está acontecendo?"

"Não é nada, Juliana," respondi, tentando ser evasivo. "Tô cansado, só isso."

"Cansado? Parece mais que você está sempre longe," insistiu ela, cruzando os braços. "Parece que eu nem existo pra você."

Suspirei, começando a perder a paciência. "Olha, Juliana, não quero discutir."

"Mas vamos discutir, sim!" retrucou Juliana, com a voz ficando mais alta. "Você não se importa mais. Nem liga pra mim, e eu fico aqui cuidando dos seus filhos, da casa. Que tipo de marido é você?"

Não consegui segurar a frustração e fui bem frio nas palavras. "Desculpa, mas é a verdade. Eu não tenho mais nenhum desejo por você."

Desconstrução (Thriller Gay Erótico)Onde histórias criam vida. Descubra agora