As lágrimas do céu

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— Vou repetir. –Ele olha mais profundamente nos olhos de Genya enquanto sua voz fica mais firme– Você está namorando o Tokito?

— I-irmão... –Suas mãos começam a ficar soadas e sente suas pernas ficarem trêmulas, sua voz soa quase como um sussurro de medo.

— Eu estou tentando ser paciente com você. –Sua voz tinha um tom de fúria e nojo enquanto falava, ele apontou o dedo para ele.

— Me desculpa. –Ele abaixou sua cabeça e mexeu os dedos inquietamente, sentia seu corpo paralisar. Proferiu em seu tom de voz baixo e rouco– Eu não posso escolher por quem eu me apaixono.

— ... –Ele se aproximou de genya em um passo pesado e segurou na gola da sua camisa com força e cerrou os punhos com força.

— Hmm... –Sua voz tremeu e virou cabeça de lado esperando que o pior acontecesse.

— Eu só não furo os seus olhos agora porque é contra as regras do esquadrão. –Sua voz se recoou em um tom totalmente trevoso, olha profundamente em seus olhos e soltou o outro.

— I-Irmão p-por favor me escute... Eu o am...

— Você é um pecador! –Berrou em fúria e uma veia saltava em sua testa, ele cerrou os punhos com mais força ainda.

— Eu não sou um pecador!  –Sentiu seu peito apertar em uma dor imensurável e seus olhos começaram a lacrimejar, o terror tomou conta de sua face.

— Você é sim! –Apontou seu dedo a ele e logo falou novamente em seu tom de voz rouco– Eu queria que você se casasse e tivesse filhos, não sair transando com um marmanjo por aí. –Gritou novamente e logo deu um forte soco na parede.

— I-Irmão... –As lágrimas escorriam pelo seu rosto e em um tom de voz rouco ele perguntou– O que é amar alguém pra você?

— De que merda está faland...

— O amor pra você é só sobre sexo e reprodução? Você sabe a sensação de se sentir amado e amar? –Gritou ainda tentando enxugar as lágrimas de seu rosto, seu grito ecuou pelo local de forma espontânea.

— Escuta aqui, Genya. –Ele vai até o mesmo e segura firmente em seus ombros– Esse amor que você sente não é verdadeiro, para de drama, você sabe muito bem que isso é pecado.

— Por que amar seria pecado? –Seus olhos ainda cheios de lágrimas, ele perguntou com sua voz trêmula.

— Porque devemos reproduzir! –Exclamou sacudindo ele com força, antes de parar por um momento– Você realmente quer condenar a sua alma? Você vai pro inferno assim!

— Não... Eu amo ele, eu quero passar até o fim da minha vida com ele... P-por favor i-irmão, eu não quero ser condenado por amar. –Ainda chorava, seu peito ainda tinha aquela sensação perfurante.

— Você não o ama! –O sacudiu com mais força ainda e logo parou e respirou fundo.

— ... –Ele abaixou sua cabeça e não disse uma palavra sequer, seus olhos ainda estavam cheios de lágrimas.

— Faça o que quiser. –Soltou suas mãos dos ombros do mesmo e se virou de costas para sair, antes de pegar na alça da porta para puxa-lá ele olhou para o outro– A nossa mãe sentiria nojo de você. –Ele puxou a porta com mais força ainda para sair do quarto.

Fungou tentando se livrar das lágrimas que o consumiam, uma dor aguda no peito que ainda persistia. Ele preferia que seu irmão tivesse batido nele ao invés de pronúnciar aquelas palavras, palavras que doíam mais que qualquer pancada que ele recebeu na vida. Escutou o barulho de algo se quebrando dentro dele, era o seu coração que agora estava despedaçado. Cada palavra que seu irmão disse foi uma tortura imensa.

"Mamãe, você sente nojo de mim?"

Perguntas que o cortavam por dentro, o perfuravam com tanta força que poderia vomitar sangue ali mesmo. Ficou ali pensando por tanto tempo que percebeu que estava anoitecendo, andou para fora do quarto e ir para o que iria dormir, ele se sentou na cama e expirou e inspirou, contou até vinte tentando se acalmar, ele se deitou e encarou o teto por alguns segundos.

— A nossa mãe sentiria nojo de você.

A voz entrou em sua cabeça novamente, e a dor aguda voltou a lhe atormentar.

Por que?
Mas por que?

Ele fechou os olhos na esperança de finalmente ir dormir, apertou os olhos com força e sua respiração estava ofegante, uma inquietação o perseguiu durante horas e horas a fio. Depois de horas, finalmente estava conseguindo dormir e foi pegando no sono lentamente.

Em um campo florido onde tudo estava calmo, ele corria com alguém segurando sua mão enquanto escutava risadas doces. Era muichiro que puxava a sua mão e logo sorriu para ele, seu tom de voz era tão gentil e delicado.

— Genya... –Seus olhos azulados o encaravam de forma tímida.

— Muichiro... –Ele pegou nas mãos do mesmo e estendeu seu rosto para perto dele e assim um pequeno beijo iria se iniciar.

— A nossa mãe sentiria nojo de você. –A voz repetiu e continuou a proseguir de forma firme e alta.

Genya empurra muichiro antes sequer de o beijar, ele olha ao redor com o peito fervendo e com tudo a sua volta girando, ele coloca as mãos nos ouvidos na esperança de não escutar mais nada. Que tudo ficasse calmo... Era a única coisa que desejava.

A nossa mãe sentiria nojo de você.

Nojo de você...

Nojo de você...

Nojo de você...

Acordou soando frio na madrugada, o pesadelo que teve e a voz que não parava de o pertubar em sua mente. E uma dor latejante que perseguia a sua alma. Nada disso mais faz sentido, nada mais valia a pena para ele, quem diria que as palavras seriam tão pesadas ao ponto de não conseguir dormir.

Se levantou e saiu em direção a entrada da mansão, olhando o céu escuro, seus olhos já estavam túmidos de tanto chorar, os grilos ainda estavam esbravejando intensamente. Uma gota de água caiu do céu, e logo, caiu mais uma e mais uma...

A primeira chuva de verão se iniciou.

"O céu parecia estar falando comigo"

Era como assim com ele derramou lágrimas, o céu também derrubará. O céu parecia estar chorando, assim como ele, que lá ficou, sentindo as gotas de água fria escorrendo pela sua pele, fazendo pequenos arrepios percorrerem pelo seu corpo, não importava mais se ficaria doente ou não, nada mais importa.

— Eu sou um pecador, mamãe? –Ele perguntou olhando para o céu escuro e calido, sobre o único brilho fraco da lua crescente.– Pecadores são capazes de amar?

O céu escuro que agora chorava sobre si, o sentimento de vazio que se estendia. Se afogou em um mar de culpa, o peso que carregava consigo sendo capaz de o rasgar de dentro a fora...

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