Capítulo 10 - O Grande Jardim

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    Nicholas respirava fundo. Seu peito subia e descia profundamente. Suas mãos tocavam com força a pedra gelada da pia e seus ouvidos escutavam calmamente a água cair da torneira de forma gradativa.

   O barulho da água o acalmava de alguma forma. Ele tentava permanecer tranquilo. Por vezes, suas mãos iam até a pia e tocavam a água corrente, apenas para sentir o frio em sua pele, além de poder ter a chance de desfrutar desse líquido vital, que corre por seus dedos.

   Muitas vezes aquilo não funcionava. Seu coração batia mais rápido e mais forte, trazendo uma angústia inquietante para seu corpo. Ele batia na pia com uma força considerável e seus olhos enchiam-se de lágrimas diversas vezes.
Entretanto, era uma forma de sentir que estava cuidando de si mesmo.

    Assim, ele escutou que a porta havia se aberto e alguns passos percorreram o aposento até alcançá-lo. Nicholas nem quis olhar, ele já sabia quem era.

       - Eu não sei por que eu sou assim... - Antúrio dizia com um suspiro.

       - Nicholas... - disse Bernardo, que se aproximava dele com cautela. - Nada de errado vai acontecer, eu e a Celina estaremos lá... você só precisa aproveitar! Esse é um momento único na vida do casal!

Antúrio olhou-o de soslaio.

Bernardo vestia a casula, estava pronto para a cerimônia.

Nicholas estava vestido com um terno preto, estava todo formal... E muito bonito. Ele havia se arrumado de uma forma espetacular, porém a ansiedade o dominou poucos minutos antes.
O barulho da água ainda corria pelo aposento e tocava seus dedos calejados pelos trabalhos rurais.

           - Eu estou atrasado? - Antúrio perguntou

           - Faltam seis minutos. - Bernardo disse olhando em seu relógio.

Assim, houve um silêncio na sala. Nicholas olhava sempre para o chão, com os ombros caídos.

Bernardo se inquietou, então resolveu perguntar:
          - Por que você faz isso? - disse apontando para a torneira.

Nicholas hesitou e relutou um pouco consigo mesmo, mas resolveu dizer:

          - É uma das únicas lembranças que eu tenho com a minha mãe. - falava com o olhar perdido - Eu não sei quantos anos eu tinha... mas eu lembro que eu era bem pequeno e eu estava com muito medo de alguma coisa... depois disso, minha mãe me pegou no colo e me levou para passear em um rio... ela pegava minha mão e colocava dentro da água, da mesma forma como eu estou fazendo agora, ela dizia para eu sentir a água correndo por meus dedos, sentir a vida que existe ali dentro... Ela também disse que, todas as vezes que eu sentir medo eu deveria fazer isso, pois o rio é como a nossa vida, ela passa por nossos dedos e, se não aproveitarmos, ela nunca mais voltará. A mesma água nunca tocará minha mão duas vezes... Sempre que eu sentisse medo de fazer algo em minha vida, eu deveria lembrar que ela continua correndo, assim como a água... eu devo lembrar de aproveitar cada segundo... O medo extremo é só um empecilho para a alegria de viver a vida.

Bernardo ficou profundamente tocado com o relato do jovem.

        - Você nunca tinha mencionado sua mãe antes.

        - Não lembro muito dela... nem de ninguém.

        - Entendo... - Bernardo olhou o relógio novamente,  de uma forma inquieta - Nicholas... O casamento será uma festa fechada apenas para nossos familiares e poucos amigos... não terão câmeras nem mídias lá dentro... apenas o amor da família e dos amigos. Dará tudo certo, a Celina estará lá com você... tudo será incrível. Está bem? Não precisa se preocupar...

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