JANEIRO

7 6 0
                                    

•• EU, VOCÊ e o que não dizemos! ••
Quando os olhos falam, as palavras silenciam.
______________________________________

"A flor que brota na adversidade é a mais rara e bela de todas." - MULAN

Após o Natal mais caloroso em muitos anos, meus olhos sofrem uma decepção inesperada, apenas algumas semanas depois.

Esmoreci.
Toda a convicção que tinha do meu elo afetivo se dissipou diante do afago que ele demonstrava por ela.
Senti Donavan escorrer entre meus dedos quando ele tocou seu belo rosto e sorriu.
Ele parecia rendido aos seus encantos físicos, seus olhos brilhando de admiração sobre a cor dourada dos cabelos lisos dela. Quanto mais eu observava aquela interação tão trivial, mais meu peito implorava por ar.
Involuntariamente prendi a respiração ao vê-los ali, parecia uma simples conversa, mas eu sabia que não era. As intenções de ambos eram perceptíveis a vinte quilômetros de distância.
Quanto mais eu me recusava a respirar o mesmo ar daquela abundante química que os envolvia, mais eu queria sufocar na minha imensa desilusão.
Eu estava do outro lado da lanchonete e podia ouvir seus corações acelerados batendo de forma descompassada à medida que eles riam entre si como se fossem as únicas pessoas nesse lugar.
No meu lugar favorito.
Aqui eles tinham os melhores hambúrgueres, as batatas fritas eram super crocantes e o milkshake era batido com leite na medida certa, eu sempre me sentava na última mesa longe de toda a agitação, e eles destruíram isso no instante que se reencontraram na minha lanchonete favorita, sentando no meu lugar favorito.

Desde que conheci Donavan nunca experimentei essa sensação, foi estranho mas não surpreendente, afinal eu sabia que gostar tanto dele um dia iria me causar problemas.
Me apaixonar por Donavan no meu caso era proibido, eu sabia disso. Mas quem consegue mandar no próprio coração?
Entre saber e sentir existia apenas uma mísera linha imaginária que me separava do certo e errado, da ética e da moral, do amor e da dor.
Estava de pé parada perto da porta de entrada, não avancei mais que três passos quando os vi sentados ali, simplesmente meu corpo todo adormeceu e minhas pernas paralisaram no mesmo instante que meu olhos desmancharam de ciúmes se enchendo de lágrimas.
Ele estava tão entretido com suas mãos sobre as dela, contornando com seu polegar no formato da unha cor de rosa dela que quando o sino da porta fez barulho anunciando um novo cliente, ele nem desviou o seu olhar.

Saí de ré, pela mesma porta que entrei com meus olhos congelados naquela cena.
Caminhei até o estacionamento no modo automático, ao entrar no carro ainda estava atordoada com o que vi, segurei firme o volante, foi tanta força que o sangue sumiu das minhas extremidades.
Meu coração não estava mais acelerado, estava mortificado.
Não conseguia fechar meus olhos pois era transportada para aquela cena desagradável, lamentável e insuportável.
Quando eu pensava que aquela garota já era coisa do passado ela reaparece para mudar tudo de novo.
Meg!
Seu nome era tão superfial quanto o seu estilo.
Descobri através de Ruan que
Meg era caloura na universidade, havia se mudado no meio do semestre no ano passado e imediatamente se aproximou de Donavan. Uma patricinha cor de rosa super mimada, que não combinava em nada com estilo dele.

Eu odiava a faculdade de Donavan, odiava Meg. Estava começando a odiar Donavan por suas péssimas escolhas.
Respirei fundo e retornei para casa sem meu hambúrguer com fritas e com uma baita azia de Donavan.

Estaciono o carro na frente de casa mas não entro, meus olhos ainda estão vermelhos por ter chorado todo caminho de volta. Eu nem sei porque estou sofrendo assim, no fundo eu já sabia que Donavan e Meg voltariam era só questão de tempo. Tempo.
Após o Natal ele viajou para Lisboa, para ficar com o pai nas férias e quando retornou já estava diferente comigo.
Ele passou de crush atencioso para meio irmão protetor novamente. Voltamos a estaca zero.
Precisava encontrar forças para desapegar de Donavan de uma vez por todas, mas como faria isso? Eu era completamente incapaz de me desvincular apenas virando uma chavinha, queria que pudesse ser tão simples assim.
Enxugo os vestígios de lágrimas em meu rosto com a manga da jaqueta, inspiro o mais fundo que consigo e então desço do carro, soltando o ar lentamente enquanto caminho até a porta de entrada, ao abri-la dou de cara com Bárbara.

EU, VOCÊ e o que não dizemos!Onde histórias criam vida. Descubra agora