Cap: 1 - O Chamado do Destino

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A tempestade rugia nos céus acima da pequena vila de Seridum. Relâmpagos cortavam as nuvens escuras, iluminando por breves momentos as ruas de pedra desgastadas e as casas simples de madeira. O vento uivava entre as árvores, fazendo-as curvar-se sob sua força. Os aldeões, assustados, recolhiam-se em suas casas, trancando portas e janelas, como se isso pudesse afastar o temor que sentiam.

Dentro de uma das casas, Eldric terminava de arrumar as últimas cadeiras no pequeno salão. Era uma noite qualquer, pensava ele, exceto pela tempestade. Ele era um jovem comum de dezessete anos, com cabelos castanhos e olhos verdes, herdados de sua mãe. Seu corpo estava marcado pelo trabalho árduo nos campos e na marcenaria do pai. Eldric não conhecia outra vida além daquela, e acreditava que o futuro lhe reservava apenas mais do mesmo: trabalho duro e a pequena alegria das colheitas abundantes.

- Eldric, venha logo! - chamou sua mãe, Margareth, da cozinha. - A tempestade está piorando!

Eldric suspirou e colocou a última cadeira no lugar, antes de seguir para a cozinha. A mesa estava posta com pratos de sopa quente, uma comida simples, mas reconfortante. Seu pai, Hector, já estava sentado, esfregando as mãos calejadas. O rosto de Hector era um mapa de rugas, testemunho de uma vida de trabalho no campo.

- Você fez tudo direitinho? - perguntou Hector com sua voz grave.

- Sim, pai. Tudo está em ordem - respondeu Eldric, sentando-se à mesa.

Enquanto a família começava a comer, o barulho da tempestade se intensificou. Os trovões ecoavam pela vila, e por um momento, Eldric sentiu um desconforto estranho, como se algo estivesse errado, mas não sabia dizer o que.

De repente, um som ensurdecedor sacudiu a casa. Um raio atingiu uma árvore do lado de fora, fazendo-a estalar e cair. Eldric pulou da cadeira, com o coração acelerado. A porta da frente foi aberta com um estrondo, e uma rajada de vento frio invadiu o salão.

- O que foi isso?! - exclamou Margareth, apertando o xale ao redor de seus ombros.

Eldric correu para a porta, esperando encontrar apenas a árvore caída. No entanto, ao abrir a porta, viu algo que o fez recuar: uma figura encapuzada, de pé na chuva, olhava diretamente para ele. A luz de um relâmpago iluminou brevemente o rosto da figura, revelando olhos profundos e brilhantes, que pareciam enxergar sua alma.

- Quem... quem é você? - perguntou Eldric, tentando manter a voz firme.

A figura não respondeu imediatamente. Em vez disso, deu um passo à frente, tirando o capuz lentamente. Era uma mulher jovem, com longos cabelos negros que brilhavam mesmo na escuridão, e sua pele tinha um tom pálido, quase etéreo. Ela carregava uma aura de mistério e poder, que fez Eldric sentir um calafrio.

- Eldric - disse ela finalmente, sua voz era suave, mas carregada de uma urgência que ele não conseguia ignorar. - Você não pode continuar aqui. O destino o chama.

- Como... como sabe meu nome? - Ele deu um passo para trás, olhando para seus pais, que pareciam igualmente surpresos.

- Seu nome está escrito nas estrelas, Eldric. Você é o último da linhagem dos antigos reis - disse ela, dando mais um passo em sua direção. - E o reino precisa de você agora.

Eldric piscou, confuso. - Reis? Eu não sou ninguém... sou apenas um fazendeiro.

- Não mais - respondeu a mulher, estendendo a mão para ele. - Meu nome é Amara, e estou aqui para guiá-lo. Há muitos que o procuraram por muito tempo, e agora que o encontrei, devemos partir imediatamente.

- Partir? Para onde? Eu não posso deixar meus pais... - Eldric começou, mas sua voz foi engolida por outro trovão que sacudiu a casa.

- Eldric - interrompeu Hector, que tinha se levantado, seus olhos fixos em Amara. - Se o que ela diz é verdade, então você deve ir. Há coisas que sua mãe e eu nunca contamos a você, mas sempre soubemos que este dia chegaria.

- Pai, o que está dizendo? - Eldric olhou para ele, incrédulo.

Margareth colocou uma mão no ombro de Eldric, com lágrimas nos olhos. - Nós sempre soubemos que você era especial, meu filho. Quando você era bebê, um velho sábio veio até nós e disse que um dia você seria chamado para um grande destino. Ele nos alertou para manter sua origem em segredo, mas agora... agora não podemos mais segurá-lo.

Eldric sentiu o chão fugir de seus pés. Era como se o mundo que ele conhecia estivesse desmoronando ao seu redor. - Mas eu não entendo... Como posso ser um rei? Eu não sei nada sobre isso!

Amara sorriu suavemente. - Você aprenderá, Eldric. Mas não temos tempo. Se ficarmos aqui, eles virão para buscá-lo à força. E se o encontrarem antes de estar pronto, tudo estará perdido.

- Quem são "eles"? - Eldric perguntou, sentindo o medo crescer em seu peito.

- Aqueles que querem destruir o legado de sua família e tomar o poder para si. Eles sabem que você está aqui, e o tempo está se esgotando.

Hector se aproximou de Eldric e colocou as mãos em seus ombros. - Filho, sei que isso é muito para você. Mas confie em mim, confie nela. Você precisa ir, agora. Nós ficaremos bem. Proteja-se e proteja o reino.

Eldric olhou para seu pai, depois para sua mãe, e finalmente para Amara. Ele não queria acreditar em nada daquilo, mas algo em seu coração, algo profundo e ancestral, o impulsionava a seguir. Ele deu um passo à frente e pegou a mão de Amara.

- Estou pronto - disse ele, sua voz ainda tremendo, mas decidida.

Amara assentiu e, sem mais palavras, o puxou para fora, na tempestade. Juntos, eles correram pela vila, Eldric lançando um último olhar para a casa onde cresceu, sabendo que a vida que conhecia havia terminado ali, naquela noite.

A jornada havia começado, e Eldric mal sabia os desafios que enfrentaria, ou os poderes que despertariam dentro dele. Mas uma coisa era certa: o destino o havia encontrado, e não havia como escapar.

O Herdeiro da TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora