Capítulo 61: Primeiro Jogo

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No dia do primeiro jogo da fase de grupos, acordei com uma sensação estranha. Não deveria nem estar pensando em ir, já que os alunos que não faziam parte do time nem tinham permissão para assistir esses jogos. As aulas seguiam normalmente, e a única coisa que mudava na rotina era a ausência dos jogadores. Mas, claro, Gabriel tinha que arrumar um jeito de me envolver.

No primeira aula, ele me avisou que tinha conseguido convencer o técnico a liberar as namoradas dos jogadores para acompanhá-los. Segundo ele, o time jogava melhor quando estava com apoio moral. Eu sabia que, no fundo, ele só queria que eu estivesse lá para ver ele em campo e pra que todos soubessem que ele tinha uma namorada. Eu tentava gostar disso, mas não conseguia.

Eu não estava nem um pouco preparada. Fui para a escola com o uniforme normal, como em qualquer outro dia. Tinha uma esperança forte de que não precisaria ir. Mas, no meio da primeiraaula, o professor de Educação Física apareceu na sala, chamando por mim, Erick e Gabriel. Fomos os últimos a sair das nossas turmas, já que o restante dos alunos envolvidos no jogo estavam em classes diferentes.

Todos os meninos levavam suas mochilas com os uniformes do time, prontos para a partida. A ideia era se trocarem nos vestuários do Colégio Santa Cruz. Gabriel, como de costume, se sentou ao meu lado, forçando beijos que eu não desejava.

Enquanto o ônibus avançava pela cidade, percebi que Erick estava observando nós dois. Um olhar rápido, mas que carregava algo que não consegui decifrar completamente. Havia um desconforto em sua expressão que me deixou intrigada. Gabriel, claro, estava ocupado demais se vangloriando para perceber.

Alguns dos meninos mais à frente cantavam, tentando aliviar a ansiedade que pairava no ar. O ambiente no ônibus não estava exatamente pesado, mas dava para sentir que todos estavam nervosos. De repente, o técnico, sentado na frente, atendeu uma ligação. O silêncio se seguiu. Quando ele desligou, sua expressão era de puro descontentamento.

— Eu sabia que essa história de trazer as namoradas ia dar nisso! — bufou ele, olhando diretamente para nós. — Os vestiários da escola estão com problema, e agora vocês vão ter que se trocar aqui no ônibus mesmo. E precisa ser logo agora, porquê a escola vai precisar que o jogo termine cedo pra gente liberar a quadra pra um evento que eles vão fazer lá depois.

Um misto de surpresa e constrangimento se espalhou entre os meninos, enquanto as meninas, que éramos só eu e mais duas, tentavam conter o riso nervoso.

— Ah, qual é, professor? — alguém reclamou, mas o técnico já estava irritado demais para dar ouvidos.

— Vocês querem jogar ou não? Então, se virem. Meninas, pro fundo do ônibus. Nada de espiar.

Tentando evitar o riso, eu e as outras duas fomos para o fundo do ônibus, virando de costas enquanto os meninos começavam a se trocar. O ambiente logo se encheu de piadas e risadas abafadas, uma tentativa desesperada de aliviar o constrangimento.

— Esses cara sabem usar cueca não? Se as meninas virarem agora vão se assustar! — gritou um dos meninos, seguido de risadas.

— Relaxa, ninguém quer ver nada disso! — a menina que estava do meu lado, sem conseguir segurar o riso.

— É melhor assim. Corre mais rápido — disse o técnico, que já havia passado a raiva e começado a entrar na brincadeira.

Quando finalmente nos disseram que podíamos nos virar, todos já estavam vestidos com os uniformes do time. Mas as risadas continuavam. Nem foi tão engraçado, mas acho que o constrangimento da situação ajudou a acalmar os ânimos.

Chegamos à escola poucos minutos depois. Os meninos desceram do ônibus e foram direto beber água e se preparar para o jogo. Eu achava ter sido a última a sair e nem percebi que Erick estava logo atrás de mim. Quando todos já estavam a caminho da quadra, ele se aproximou do meu ouvido e, com um risinho e um tom brincalhão, sussurrou:

— Pena que o técnico mandou todas as meninas virarem. Tu perdeu a chance de me ver do jeito que tu gosta.

Eu ri, mas antes que eu pudesse responder, ele já estava indo em direção à, deixando-me ali com aquelas palavras pairando no ar. Não foi uma pena, tinham muitos lá trocando de roupa. Eu só queria ver ele...

Gabriel, como sempre, não perdeu a oportunidade de me beijar antes de entrar em campo, segurando meu rosto com uma das mãos e encostando seus lábios nos meus de um jeito que nunca gostei.

Na arquibancada, o cenário era desolador. Não havia quase nenhum espectador, já que na fase de grupos, as escolas não liberava os alunos para verem os jogos. Além de mim e das outras duas namoradas, só havia os professores de Educação Física, alguns reservas dos times e uns poucos alunos que, por algum motivo, foram liberados para assistir. A quadra ecoava com os sons dos jogadores e o apito do juiz, criando uma atmosfera quase melancólica.

O jogo começou e, apesar da tensão inicial, as equipes logo encontraram seu ritmo. No primeiro tempo, o time adversário. Pude sentir a raiva no rosto de todo o time. No segundo tempo, no entanto, Erick brilhou. Marcou dois gols que garantiram a vitória do Instituto Vidal, fazendo todos comemorarem.

Mas, enquanto a equipe vibrava com a vitória, notei que Gabriel estava irritado. Ele não disse nada, mas seu rosto não conseguia esconder o desconforto por não ter sido ele a estrela do jogo. Talvez isso fosse o início de uma nova tensão, algo que eu precisaria observar de perto.

E assim, o primeiro jogo da fase de grupos terminou. Enquanto nos preparávamos para voltar para o ônibus, eu sabia que esse campeonato estava apenas começando a mostrar seu verdadeiro impacto.

O time precisou voltar para o ônibus com todos completamente suados e sujos do jogo. Como o vestiário da escola onde estávamos ainda não tinha sido consertado, tivemos que voltar daquele jeito, e o cheiro dentro do ônibus era simplesmente horrível, quase sufocante. Estava tão ruim que todos decidiram que a primeira coisa que iam fazer ao chegar na escola seria correr para o vestiário para se limpar.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora