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Helena

Encarei meu reflexo no espelho: olheiras, cansaço, sono. Estava claramente abatida, mas nada que uma boa maquiagem não resolvesse, e eu precisava estar apresentável hoje. Enquanto me maquiava, minha mente vagava, cada vez mais distante. Só essa semana, vazaram fotos minhas com o Gabriel, o que resultou em uma enxurrada de seguidores, hate, e eu até tive que privar meu perfil. Recebi críticas por "namorar" uma pessoa que, definitivamente, não namoro. Medina não se pronunciou, e eu também não, mas estão enxergando algo que simplesmente não existe.

Olhei para o meu rosto com a maquiagem finalizada e soltei o cabelo, ajeitando-o em seguida. Peguei minha bolsa e caminhei até o carro, respirando fundo e me perguntando se deveria mesmo ir a essa porcaria, mas eu não tinha muitas opções. Jantar de casamento! Qualquer pessoa com dois olhos vê que eu e minha mãe não temos a melhor relação do mundo, mas, independentemente disso, eu sempre vou torcer pela felicidade dela. Porém, ela se casar com o melhor amigo do meu pai é sacanagem. Enquanto dirigia, meus olhos estavam fixos na estrada, concentrados na música calma que tocava. Meu dia foi terrível, terrível mesmo, e para fechar com chave de ouro o meu estresse, estou indo a esse maldito jantar porque sei que, se eu não for, minha mãe vai ficar no meu ouvido, se fazendo de vítima, dizendo que eu não tenho tempo para ela e outras ladainhas. Sempre é assim, sempre. Sou ausente na vida de todos do meu círculo social, inclusive familiares, porque gosto de viver no meu próprio mundo, e muita gente não entende isso, inclusive a minha mãe!

Ao chegar no local, peguei minha bolsa e desci do carro. Caminhei lentamente e, ao entrar na casa, procurei minha irmã com o olhar, mas não a encontrei. Infelizmente, vou ter que socializar! Forcei um sorriso e fui cumprimentar alguns parentes, passando direto pelo meu padrasto e indo diretamente até minha mãe.

── Que milagre, Leninha. — Disse ela com um sorriso breve. — Não achei que fosse vir! A Helô não vem.

── Sério? — Falei, claramente chateada por ter que socializar com outras pessoas, sem poder me trancar no meu antigo quarto com a minha irmã. ── Que droga! Queria que ela viesse.

── É, acho que ela não aceita muito bem o fato de eu estar com o Fabrício.

── Você está com o melhor amigo do papai, mãe. É óbvio que é, no mínimo, estranho para a gente aceitar isso, ele é o padrinho dela. Meu pai confiava nele, e agora ele está com você. — Soltei, e ela franziu a testa.

── Qual é o seu problema, Helena?

── Que problema, mãe?

── Você está sempre estressada. Sempre acha um motivo para brigar, nunca aparece, e quando aparece, fica discutindo! — Falou séria, enquanto eu a encarava. Nossas personalidades são muito parecidas, por isso acabamos nos chocando tanto. ── Por que você é assim?

── Eu não estava brigando, só comentei que essa situação é estranha. — Desviei o olhar.

── Lê?! — Ouvi a voz da minha tia e me virei, forçando outro sorriso. ── Oi, famosa!

── Ah, não. — Choraminguei. ── Você viu?!

── Viu o quê? — Minha mãe questionou.

── Helena tá namorando. — Passou o braço ao redor do meu pescoço. Eu não aguento mais nenhum minuto aqui.

── Era fake news. — Afirmei, me afastando e pegando minhas coisas. ── Foi bom ver vocês, mas eu preciso ir, passei só para dar um oi, tenho que acordar cedo. — Menti, e minha mãe me encarou, me fuzilando com aqueles olhos de víbora dela.

── É sério, Helena?

── É muito sério, mãe. — Respondi, já estressada. ── Qualquer dia a gente se fala!

Me afastei e ignorei os comentários. Entrei no carro e bufei alto, passando as mãos no rosto. Olhei meu reflexo e só conseguia imaginar o quão cansada eu estava. Comecei a cogitar se deveria sair para algum lugar ou só ir para casa dormir, então decidi pelo menos beber alguma coisa. Dirigi até a conveniência mais próxima e, ao chegar lá, notei um amontoado de gente. Senti uma presença ao meu lado enquanto estava na fila e virei o rosto, rolando os olhos.

── E quando eu penso que meu dia não pode piorar! — Resmunguei.

── Bom te ver também, mulher. — Richard ajeitou o boné. ── Tá de bobeira?

── Por que isso te interessaria? — Me virei, encarando o jogador.

── Porque eu poderia te convidar para dar um rolê, tá rolando uma festa agora. — Falou. Senti a sensação de estar sendo observada e me virei, procurando com o olhar qualquer pessoa que fosse.

Até que meus olhos pararam nele. Ao ver que eu o encarei de volta, Gabriel, que estava com algumas mulheres e dois homens, virou o rosto para cima e fingiu encarar o céu, se fazendo de desentendido. Cerrei os olhos e ele me encarou de novo, dessa vez com aquela típica cara de canalha dele. Neguei com a cabeça e voltei minha atenção para o palmeirense.

── Festa na casa de quem? — Perguntei, interessada.

── Minha. — Deu de ombros. ── O que me diz?

Me virei novamente, e Gabriel estava segurando um copo na mão com os olhos cravados em mim, porém com várias mulheres ao redor dele, o que me deixou um pouco enciumada, por mais que eu não tivesse o direito. Encarei Ríos novamente enquanto pensava, foi então que eu decidi.

── Que calor! — Fechei minha boca ao ouvir a voz de Gabriel, atrás de nós. ── Vocês dois estão na fila?

Cruzei os braços e fiz cara de tédio para ele, que começou a rir e me puxou pela cintura, beijando minha bochecha.

── E aí, nega! — Me encarou. Que moleque sínico! Richard saiu de lá em seguida. ── Quem era?

── O que eu te falei que encheu meu saco aquele dia no Choque-Rei. — Falei, e ele concordou com a cabeça.

── Ah, entendi.

── E você? Tá fazendo o quê aqui? — Perguntei.

── Aniversário de uma amiga minha. E você?!

── Tava em um jantar que só me deu dor de cabeça. — Rolei os olhos, e ele me encarou, interessado.

── Do quê?

── Minha mãe. Te contei que não somos próximas? — Ele negou com a cabeça. ── Pois é! Saí só para passar raiva e nervoso hoje.

── Vamos dar uma volta. — Sugeriu. ── Sei de um lugar que talvez possa te acalmar.

Então eu sorri, desviando o olhar e concordei com a cabeça. Não acho que vá ser uma má ideia, não! Levantei a chave do meu carro e entreguei para ele, que sorriu como uma criança ganhando doce.

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora