Seis

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ADA SNOW

Olhei para Asmund, desmoronado na cadeira, e uma onda de indiferença me invadiu. Não importava se era mais uma crise hipertensiva ou algo mais grave. Segurei a mão de Ella com urgência e avancei pela multidão, lutando contra sua resistência e minha própria fragilidade. Meu coração batia descompassado, gritando que aquela era a oportunidade da minha vida.
De longe, observei o Sr. Aksel entrar no primeiro elevador com seus acompanhantes e outros homens. A porta se fechou, mas não vacilei. Continuei em direção ao segundo elevador, ignorando os puxões de Ella e as cólicas torturantes.
— Ada, o que você pensa que está fazendo? Me solte, meu pai precisa da medicação! — Ella me puxou com muita força, fazendo-me perder o equilíbrio, mas rapidamente me reergui, segurando-a com firmeza.
— Apenas venha comigo — declarei, meus olhos fixos no painel do elevador, no destino da minha liberdade. — Precisamos ir ao topo...
Levei-a para o segundo elevador, mas estava em descida. Tentou se desvencilhar, mas a segurei mais forte, nossos olhares se cruzando em um impasse silencioso.
— Por que não pensa, por um instante, em se manter em segurança, Ada?
— Há vinte e cinco anos estou remando contra a maré, enfrentando toda forma de insegurança que um ser humano pode suportar. Não posso e não vou deixar passar nenhuma chance de respirar livremente. — Puxei-a novamente, sentindo um fardo gigante sobre mim.
— Você tem tudo. O que mais deseja?
— Viver, Ella. — Minha voz falhou, a garganta apertada. — Estou cansada de apenas sobreviver.
— Papai jamais perdoará isso. Você ultrapassou todos os limites! — Se debateu, mas sua força não sobressaiu à minha determinação. — Você não vai aguentar uma correção assim, Ada! E o bebê? Não pensa na fragilidade dele?
Deixei escapar um riso melancólico.
— O que mais seu pai pode me fazer? Sou uma prisioneira, Ella! Até comida ele me nega. Nem com a criança sugando tudo de mim ele se compadece.
— Você o desafia, o confronta, perturba a ordem de submissão, não aceita seu lugar na sombra dele! Não atribua a meu pai a culpa por suas escolhas! Ele apenas protege nossa família, guia você dia e noite pelo caminho da subserviência celestial. Você que sempre rejeita o amor e escolhe a dor. Você!
— Esse bebê não será um reflexo do seu pai! — exclamei.
— Por que você não aceita que essa é a sua realidade, que é assim você vai sucumbir quando chegar a hora?
Exalei, cansada, suas palavras ácidas querendo corroer o resquício de esperança que eu mantinha.
— Não aguento mais... — Solucei, cobrindo meus olhos com a segunda mão, segurando as lágrimas. — Isso não é vida. Eu não aguento mais...
— Então, vamos voltar. A gente fala que veio pedir ajuda, chamar um médico. — O tom da menina enterneceu.
— Não posso voltar, Ella. Não vou ter outra oportunidade como esta.
— Meu pai não vai enfrentar a Ordem sozinho a menos que se torne viúvo novamente, Ada. — Cravou as unhas em meu braço, como se quisesse me despertar de um delírio. — Se não estiver pronta para se jogar do navio, é melhor nem tentar fugir. E você sabe que estou dizendo a verdade. Não tem ninguém por você. Até Charlotta te abandonou.
Uma lágrima surgiu no meu olho esquerdo. Eu a senti, mas, como sempre, a contive. Estava exausta, mas me recusava a desistir.
— Aksel... — sussurrei, a exaustão de anos pesando em cada sílaba.
Ella piscou, confusa, perdida no vazio.
— Ak... Aksel.? — verbalizou.
— O homem que foi apresentado como Sr. Elijah Boulder. O mais velho que estava discursando. Com tatuagem no pescoço e nas mãos. Aksel costumava ser o nome dele — expliquei, apressada.
— Esse nome...
— Sim, ele é o seu irmão — cortei, direta. — O irmão que você nunca conheceu. E talvez... não, certamente, esta seja sua única chance de vê-lo de perto, de realmente conhecê-lo. — Minha mão encontrou a bochecha dela, implorando em silêncio. — Esqueça nossos medos, os riscos, e venha comigo. É seu irmão mais velho. Ele costumava ser gentil. Vai nos ouvir.
A menina sacudiu a cabeça, desviando o olhar, erguendo um muro de negação.
— Não.
— Ella... — Minha voz falhou enquanto ela secava as lágrimas. — Por favor, não chore.
— Será que meu pai o reconheceu?
— Sim — confirmei, buscando em seu rosto algum indício de que ela me acompanharia. — Eles se reconheceram. Ficou nítido.
— Ele é a fonte de toda a amargura em nossa casa.
— Não, não é...
— Ele manchou a Ordem, pecou contra o divino, enlouqueceu minha mãe, desonrou o ministério do papai e obrigou ele a assumir essa cruz.
— Ella, me escute. Seu irmão...
— É um renegado! Um caído! Por isso brinca de Deus com aquelas heresias. Age como um anticristo, quer ocupar um lugar santo, o lugar do criador! — murmurou, a voz tingida de desprezo e medo.
— É seu irmão, Ella. Ele tem o seu sangue. — Minhas palavras saíram abafadas, sufocadas. — Vamos falar com ele. Ele ficará feliz em saber que tem uma irmãzinha.
Arfei, suplicante.
Os olhos da menina vacilaram, suavizando por um momento.
Ella tinha uma doçura inata, bem escondida. Não era como Asmund, eu conseguia ver isso.
— Você também achou ele parecido com o papai?
— Sim, princesa, ele é fisicamente parecido. Mas, por favor, não diga isso a ele — implorei, segurando seu olhar. — As feridas entre eles são profundas. Vamos! — Puxei-a suavemente, tentando guiá-la.
— Pare! — Me puxou, encarando-me com uma agressividade que transcendia seus treze anos, o olhar de quem ouvia as palavras do pai sussurrarem dentro da mente. — Você não tem vergonha de correr atrás de quem preferiu se entregar à morte para não ser o seu senhor?
— Eu o entendo. Sempre o entendi. Assim como eu, ele nunca se adequou aos costumes.
Ella agarrou meu outro punho com força.
— Você não vai me manipular, muito menos o renegado de meu pai. Se não me soltar, eu te arrebento.
— Não, princesa! Vamos ver seu irmão. Só ver. — Levei-a para mais perto do elevador, o desespero fortalecendo minha voz.
— Se quer isso, vá sozinha. — Me empurrou bruscamente, e eu tropecei contra a porta do elevador que se abria. — Se humilhe diante de um renegado sozinha. Vai perder tudo.
— É o que eu tenho a perder, Ella? Até esse filho não é meu! E não se iluda achando que suas viagens glamorosas pelo mundo a tornam menos prisioneira. Você e Freya são tão descartáveis quanto eu sou para ele. Qualquer mulher é, basta deixarem de fazer as vontades dele. Norabel é a prova. Vocês não valem nada para o seu pai! — gritei a verdade, mais alto do que pretendia, palavras que nunca havia verbalizado para ela.
— Vá, víbora! — gritou, ofendida, com lágrimas escorrendo, o minúsculo nariz se contraindo. — Vá e não volte. Desapareça de nossas vidas para sempre. Seja engolida pelo mundo de pecado como Norabel foi.
— Ella... Você é especial, todas vocês são, mas para o seu pai...
— E nunca mais nos compare com você. Messalina, imunda! Meu pai te deu sobrenome por pena, porque é um homem santo e assumiu responsabilidades que não eram dele. Se não fosse pelo meu pai, você estaria mendigando após a morte do seu pai, aquele beberrão. Ou talvez, talvez você estivesse vendendo o próprio corpo, já que aprendeu a pecar antes mesmo de virar mulher.
— Calada! — Levantei a mão para dar nela, mas não consegui. Congelei, um soluço escapando da minha boca, lágrimas acumulando no canto dos meus olhos. — Não deveria ser tão cruel. Você é apenas uma criança.
Eu a soltei, e ela fez o mesmo com minha outra mão.
— Sua existência é uma tentação ao pecado, Ada. Você destrói, leva todo mundo ao pecado. Estou exausta de você. Nunca mais espere minha compaixão.
Deu-me as costas e avançou em passos rápidos.
— Ella! — gritei uma última vez, mas o tempo era um luxo que eu não tinha.
Entrei no elevador, reunindo cada resquício de força e toda a determinação que restava em minha alma desgastada, e acionei o botão que me levaria ao topo.
— A gente vai conseguir — sussurrei para o bebê. — Confia na sua mãe. Confia em mim. — Fechei os olhos, mentalizando no silêncio.
Quando o elevador parou, obriguei-me a seguir em frente. Caminhei pelo convés superior, o vento açoitando minha pele, cada respiração me lembrando da liberdade que a esperança prometia.
Ao passar pela piscina, avistei o mais jovem do trio no topo das escadas que levavam ao heliponto. Segui naquela direção, minha mão direita apoiando meu ventre, enquanto a esquerda buscava impulso contra o vento.
— Solskinn! — gritei ao ver o rapazinho desaparecer no topo. — Solskinn! — O desespero tomou minha voz. — Sr. Aksel! — Alcancei o pé da escada. — Sr. Elijah! — Subi cada degrau com esforço, agarrando-me ao corrimão para ganhar impulso. — Sr. Elijah, por favor! — Minha voz se perdeu no uivo do vento, mas não cedi. Cada degrau era uma luta, um desafio à minha exaustão. O medo tentava me paralisar, mas a necessidade ardia dentro de mim. No topo, o heliponto se estendia, quase deserto. Minha fuga parecia tão real quanto as correntes que me aprisionavam. — Por favor, espere! — roguei, finalmente avistando-o entre os outros, perto do helicóptero, curvado.

ELIJAH - O CEO RENEGADO Onde histórias criam vida. Descubra agora