Capítulo 66: Sábado no Hospital

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A noite avançava e meu pai começava a insistir que era hora de irmos para casa. Estávamos exaustos e a atmosfera pesada do hospital parecia não aliviar. No entanto, eu sabia que precisava fazer algo mais antes de ir. A mãe de Erick não estava mais presente, e era meu dever ajudar de qualquer forma que eu pudesse.

— Pai, eu preciso ir até a casa do Erick para pegar algumas roupas para o Davi e também algo para o Erick. — Falei, tentando manter a voz firme apesar da tensão.

Minha mãe concordou imediatamente, compreendendo a importância de não deixar Davi sem suas coisas e de tentar fazer algo pelo Erick. Passamos rapidamente pela casa de Erick, onde com a ajuda de Davi, conseguimos pegar algumas roupas e itens essenciais. A casa estava estranha, marcada pela ausência de Erick e pela tristeza que pairava no ar. Depois disso, voltamos para casa, e Davi se acomodou no meu quarto para dormir. A noite foi cansativa e mal dormida, com a inquietação constante de que nada seria suficiente para aliviar a situação

No dia seguinte, fui direto para o hospital logo cedo. Ao entrar no quarto de Erick, vi que ele estava visivelmente melhor do que na noite anterior. Ainda sentia muita dor, mas o semblante dele estava mais tranquilo. Conversamos um pouco, e eu deixei Davi lá, ao lado dele, para dar um pouco de conforto.

Depois de um tempo, decidi que precisava sair do quarto para respirar um pouco de ar fresco. Desci para o andar inferior do hospital e, ao chegar lá, encontrei dois meninos do time esperando na sala de espera.

Quando eles me viram, se aproximaram.

— Oi, Raquel, como é que o Erick tá? — perguntou um deles, com preocupação na voz.

— Ele está um pouco melhor, mas ainda sente muita dor. — Respondi, tentando ser o mais clara e positiva possível. — O Davi está com ele e já está mais tranquilo.

Os meninos pareceram aliviados por ouvir que Erick estava melhor, mas logo um deles perguntou:

— E lá na escola, como é que ficou a situação depois que te levaram pra coordenação? Você tava tão desesperada na hora do que aconteceu que todo mundo ficou preocupado contigo.

— Pois é, me levaram para a coordenação, e, a partir daí, eu não soube mais de nada. Minha preocupação foi toda com o Erick e o Davi. Então tentaram me acalmar lá, mas eu só melhorei um pouco quando o Davi chegou. — Falei, um pouco cansada. — O que aconteceu depois lá na quadra?

O outro menino começou a explicar.

— Então, a comissão anunciou que o time do Colégio Santa Cruz estava eliminado do campeonato. Foi um caos. Na hora o time de lá fez uma bagunça doida. Não queriam aceitar, mas conseguiram acalmar depois.

— E os próximos jogos? — Perguntei, tentando entender o que viria pela frente.

— Parece que vão partir direto pras semifinais com as outras quatro escolas. A gente decidiu que não ia continuar jogando depois do que fizeram com o Erick. O Gabriel foi o único que quis continuar, mas a maioria decidiu parar pelo resto do semestre. Talvez a gente jogue nos jogos finais do ano, mas, por agora, o time perdeu a vontade de competir. — Explicou o menino, com um tom de desânimo.

— O Erick era o melhor do time. Sem ele nem fazia sentido a gente jogar. — disse o outro, um pouco nais tranquilo.

Depois de ouvir o relato, agradeci a eles por me atualizarem e expliquei onde era o quarto de Erick. A situação no hospital parecia estar sob controle, mas eu ainda estava preocupada com tudo que havia acontecido e como isso estava afetando a todos ao redor.

Quando a noite chegou, eu me preparei para a chegada do pai do Erick, Ricardo. Ele ainda não tinha chegado, e eu me sentia responsável por garantir que ele fosse bem informado e não se sentisse perdido.

Finalmente, Ricardo chegou, visivelmente desesperado. Ele se dirigiu diretamente ao atendimento sem me notar.

— Eu quero falar com o Erick! Onde está meu filho? — Sua voz estava cheia de pânico.

Eu me aproximei e falei com ele, tentando oferecer algum conforto.

— Ricardo, você se lembra de mim? Sou a Raquel. Eu estava com o Erick ontem. — Falei com calma.

Ricardo se virou e, ao me ver, seu alívio era notório, misturado com culpa e tristeza. Ele me abraçou com um sentimento de gratidão e desespero.

— Raquel, eu me sinto tão culpado. Não deveria ter deixado ele morando sozinho e ido pra tão longe. E o Davi, é minha responsabilidade. O que aconteceu com o Davi? Ele dormiu aqui? — Ele estava visivelmente abalado.

— Não se culpe, Ricardo. O Erick quebrou a perna, ou melhor, quebraram a perna dele em um jogo lá na escola. Mas já está bem melhor hoje. O Davi dormiu na minha casa e tá tudo bem com ele. Pode se acalmar. — Tentei suavizar as palavras e transmitir alguma segurança.

Conduzi Ricardo até o quarto onde Erick estava. Assim que ele entrou, começou a conversar com os filhos. Decidi ficar do lado de fora, dando espaço para que eles pudessem ter esse momento em família.

Sentada na cadeira do corredor, esperei pacientemente. Apesar da carga emocional, sabia que havia feito o possível para apoiar a todos e garantir que a situação fosse tratada com o devido cuidado.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora