A Misteriosa Vida de Harper Young

Capítulo 3

1992

O dia em que eu completei dezenove anos foi mágico, foi o dia antes da minha mudança oficial para Los Angeles para a gravação do meu primeiro filme. Eu estava conhecida nos Estados Unidos pela série que tinha feito até os meus dezessete anos, "A Família Benson".  Passei cinco anos passando a semana em hotéis luxuosos que meu pai pagava para mim somente para as gravações.

Além do hotel, meu pai pagava uma profissional para minha voz, uma nutricionista para que eu comesse bem, um personal trainer para que eu me mantivesse saudável e um motorista que me acompanhava em todos os lugares que precisava ir. Todo o meu salário era guardado na minha conta no banco, ninguém tinha acesso, somente eu.

Olhei para minhas irmãs que naquele momento tinham doze anos de idade, a mesma que eu tinha quando fiz meu primeiro comercial. Eu era um espelho para as duas. Sorri olhando para Audrey brincando com Christian, os dois sonhavam em ser médicos.

- Harper, eu e seus pais queremos falar com você. - Tia Mary me chamou para dentro da casa.

Eu deixei todos os meus amigos lá fora e entrei atrás dos meus pais e de minha madrinha. Com um sorriso os vi sentados, os três no sofá.

Acho engraçado até hoje como tia Mary sempre sentava-se ao lado dos meus pais com o mesmo nível de autoridade que a deles. E realmente tinha.

- Sente-se. - Mamãe apontou para a poltrona.

- Nós estamos aqui para te apoiar e proteger em tudo o que precisar, te dei a chave do seu novo apartamento em Los Angeles, te dei a chave do seu novo carro e te dei todas as suas roupas novas. - Agora entendem quando eu disse que papai nunca poupou dinheiro para sua meninas? - Sua mãe, eu e Mary passamos todos os nossos ensinamentos para você.

- Confiamos cegamente em você, HarHar. - Minha madrinha olhou para mim. Mamãe estava quieta. Mamãe nunca ficava quieta. Ela estava com medo. - Quando for transar use camisinha.

Tia Mary fez meu pai rir, mas a mamãe continuava séria. 

Depois de um silêncio constrangedor, mamãe finalmente falou. Eu nunca esqueci suas palavras.

- Quando eu descobri que estava grávida de você em 1972 eu já sabia que ganharia uma melhor amiga para a vida toda. Você, Harper, foi tudo o que o seu nome significa, seu pai não poderia ter escolhido melhor. Você foi a minha força, foi a minha coragem! Eu te prometi quando nasceu que você nunca se sentiria sozinha e antes de ir para Los Angeles eu refaço essa mesma promessa. Eu te prometo, minha filha, que você sempre terá a mamãe, o papai e a tia Mary. Você, Harper, nunca se sentirá sozinha porque você nunca esteve e nem estará sozinha. Eu te amo.

Eu tinha meus olhos cheios de lágrimas e o meu coração transbordado de amor. Mamãe sempre cumpriu o que prometeu e eu realmente nunca me senti sozinha.

Mais tarde, deitada pela última vez na minha cama em meu quarto, eu olhava para o teto cheio de estrelas adesivas que eu tinha colado aos cinco anos de idade e nunca tive coragem de tirar.

Escutei uma batida na porta, sentei-me na cama e autorizei a entrada. Sorri ao ver que era meu pai. Ele entrou sem dizer uma palavra e sentou-se ao meu lado, com um sorriso meigo me abraçou como se eu fosse uma criança novamente.

- Papai, eu estou com medo. - Eu falei encostando minha cabeça em seu peitoral.

- Eu sei, por isso eu vim aqui. - Senti-o beijar o topo de minha cabeça - O papai sempre vai estar por perto.

- Se eu precisar de você, posso te ligar?

- Que pergunta mais boba, filha. Claro que pode! - Acariciou minhas costas - Você vai para sempre ser a menininha do papai, o meu...