Capítulo 11

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O eco da decisão

"Os homens de ressentimento são férteis em vinganças ocultas." Friedrich Nietzsche em Genealogia da moral

A escuridão ao meu redor parecia respirar, como se estivesse viva, pulsando com uma energia que eu sentia nas profundezas da minha alma. A presença sombria que me encarava, uma versão distorcida de mim mesmo, parecia se alimentar do medo e da incerteza que me envolviam. Eu sabia que não poderia fugir desse confronto, pois ele era inevitável e necessário. Essa entidade, essa sombra viva, era uma parte de mim que eu precisava enfrentar se quisesse alguma esperança de redenção, ou ao menos de paz.

Eu comecei a me mover em direção àquela figura, sentindo cada passo como se estivesse caminhando sobre vidro quebrado. Cada fragmento de dor, arrependimento e ódio que carregava dentro de mim parecia ressurgir com força total. As vozes em minha mente, antes caóticas e conflituosas, agora eram um coro unificado, instigando-me a ceder, a aceitar o que eu havia me tornado. Elas prometiam poder absoluto, controle sobre o destino, mas eu sabia que essas promessas vinham com um preço terrível.

Finalmente, fiquei cara a cara com meu reflexo sombrio. Ele não falou, mas o silêncio entre nós era ensurdecedor. No fundo de seus olhos, vi uma infinidade de lembranças e vi todas as escolhas erradas, todos os caminhos não tomados, todas as vidas tocadas pelo meu poder destrutivo. Ele representava tudo o que eu temia me tornar, e ao mesmo tempo, tudo o que eu já era. A fusão da minha humanidade com a escuridão que havia cultivado.

Num gesto de desespero, ergui minhas mãos, como se pudesse afastar a sombra. Mas ela imitou meus movimentos, cada gesto, cada expressão. Percebi que não havia como escapar disso, pois nós éramos um e o mesmo. O confronto não seria uma batalha física, mas uma luta interna, uma guerra travada nas profundezas do meu próprio ser. A única saída era decidir entre o poder absoluto e a perda completa de minha alma, ou a luta desesperada para salvar o que restava de minha humanidade.

Então, algo inesperado aconteceu. Enquanto eu encarava aquela figura, algo dentro de mim começou a mudar. As vozes que antes eram uma cacofonia de escuridão começaram a se silenciar, uma por uma. Um novo pensamento, uma nova voz surgiu e não uma que sussurrava promessas de poder, mas uma que lembrava o que era ser humano, o que era sentir compaixão, amor e arrependimento. Essa nova voz, frágil mas persistente, me lembrou de quem eu era antes de tudo isso, antes do poder, antes do abismo.

Com um esforço que parecia rasgar minha alma ao meio, eu me recusei a ceder à escuridão. Recusei-me a aceitar que esse reflexo sombrio era meu destino final. A sombra em frente a mim se contorceu, como se estivesse sendo atacada por uma força invisível. E então, ela começou a desmoronar, pedaço por pedaço, até que tudo o que restava era uma névoa negra que rapidamente se dissipou.

Quando tudo terminou, fiquei sozinho no vazio, exausto, mas com um estranho sentimento de paz. Eu sabia que a luta não estava completamente vencida, que a escuridão ainda residia dentro de mim, esperando por uma nova oportunidade de surgir. Mas, por ora, eu havia feito uma escolha... escolher resistir, lutar por quem eu realmente era, e não pelo que o poder queria que eu me tornasse.

E assim, com o eco dessa decisão ainda reverberando em minha mente, eu dei o primeiro passo de volta à realidade, sabendo que o caminho adiante seria incerto, mas com a determinação de que não deixaria a escuridão definir meu destino final.

A rota do desesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora