Capítulo 15

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Ecos de dissolução

"A moralidade é a melhor de todas as invenções para guiar a humanidade."  Friedrich Nietzsche em A genealogia da moral

A lanterna que segurava em minhas mãos se tornou minha única companhia naquela jornada solitária. Cada passo que eu dava parecia levar-me mais fundo em um labirinto de sombras, onde o mundo ao meu redor se desintegrava lentamente. A luz da lanterna era fraca, mal conseguia iluminar o caminho à frente, mas era o suficiente para me manter em movimento, para evitar que eu fosse completamente engolido pela escuridão que parecia se agigantar a cada instante.

O silêncio era absoluto, cortado apenas pelo som abafado dos meus próprios passos sobre o chão de pedra. Eu sentia que estava caminhando em círculos, preso em um ciclo sem fim, onde as mesmas sombras e os mesmos medos me assombravam repetidamente. A cada esquina, a cada corredor, eu esperava encontrar algo ou alguém que pudesse explicar o que estava acontecendo, que pudesse me oferecer alguma saída daquele pesadelo. Mas não havia ninguém, apenas a escuridão e a incerteza que me cercavam.

Em um momento de desespero, parei e olhei ao redor, tentando encontrar algum sinal de vida, algo que pudesse me indicar que eu ainda estava no mundo real. Mas tudo o que vi foram paredes de pedra frias e vazias, como se o próprio universo estivesse me isolando em uma prisão feita de sombras. As vozes que antes me atormentavam começaram a retornar, sussurrando promessas vazias e ameaças veladas, tentando me puxar de volta para o abismo que eu estava lutando para evitar.

Tentei ignorá-las, focando na luz fraca da lanterna, mas era difícil. A sensação de que estava perdendo o controle crescia a cada segundo, e a escuridão parecia ganhar força com minha fraqueza. Eu sabia que, se parasse agora, se desistisse de lutar, seria consumido pela sombra, tornando-me parte daquele vazio interminável.

Então, algo inesperado aconteceu. No horizonte distante, um brilho tênue apareceu, um feixe de luz que parecia diferente da lanterna que segurava. Era mais intenso, mais vibrante, como se estivesse tentando romper as trevas que me cercavam. O impulso de seguir aquela luz foi irresistível, e com renovada determinação, comecei a caminhar em sua direção, sentindo uma estranha mistura de esperança e medo.

A medida que me aproximava, a luz ficava mais forte, revelando o que parecia ser uma saída ou uma abertura que levava para fora daquele labirinto de sombras. Mas quanto mais perto eu chegava, mais percebia que algo estava errado. A luz, que antes parecia ser um sinal de salvação, agora exalava uma sensação inquietante, como se estivesse me atraindo para uma nova armadilha.

Quando finalmente alcancei a abertura, hesitei. O que quer que estivesse além daquela luz era desconhecido, um salto no vazio que poderia tanto me libertar quanto me aprisionar ainda mais. As vozes em minha mente se intensificaram, misturando-se em uma cacofonia de dúvidas e tentações, tentando me convencer a recuar, a ficar nas sombras onde eu já estava acostumado.

Mas algo dentro de mim se recusou a ceder. Com um último suspiro de coragem, atravessei a abertura e fui envolto pela luz. Por um momento, tudo ao meu redor foi cegante, um mar de branco que me deixou desorientado e sem referência. E então, lentamente, a luz começou a diminuir, revelando o que parecia ser um novo cenário.

O que vi me deixou perplexo. Eu estava em um campo vasto e aberto, onde o céu era de um cinza profundo, e o horizonte parecia infinito. Mas a sensação de alívio que esperava sentir nunca veio. Ao meu redor, o campo estava vazio, desprovido de vida, como se fosse um lugar esquecido por todos. A luz que me guiou até ali agora parecia distante, quase inacessível, e mais uma vez me vi cercado por uma solidão opressiva.

E foi então que ouvi algo, uma espécie de som distante, quase imperceptível, que parecia vir de todos os lados. Era um sussurro, mas não como as vozes que me atormentavam antes. Esse sussurro era diferente, carregado de uma urgência que me fez parar e escutar.

"Não acabou", dizia o sussurro, repetindo a frase em um ciclo interminável. "Não acabou... Não acabou... Não acabou... Não acabou..."

Aquelas palavras ecoaram em minha mente, plantando a semente de uma nova dúvida. Eu havia escapado da escuridão, ou apenas entrado em uma nova fase dela? O caminho à minha frente estava envolto em incerteza, e a sensação de que algo mais estava por vir se instalou profundamente em mim. Talvez o verdadeiro desafio ainda estivesse adiante, escondido nas sombras que se estendiam até onde meus olhos podiam ver.

Com o coração pesado e a mente em turbilhão, comecei a caminhar novamente, sabendo que minha jornada estava longe de terminar. O que quer que estivesse me esperando no horizonte, eu teria que enfrentar. Mas agora, com a certeza inquietante de que, mesmo no aparente fim, algo mais estava prestes a acontecer. E assim, com a luz distante ainda visível, continuei em frente, pronto para encarar o que quer que viesse, ciente de que a escuridão e a luz, em suas formas mais misteriosas, ainda tinham muito a revelar.

A rota do desesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora