𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 6, chaos.

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Capitulo 6, caos.

HOUVER UMA NOITE EM QUE QUASE DESISTIR DE SER DELE. O quarto estava silencioso, exceto pelo som abafado da minha própria respiração. Eu me virei mais uma vez na cama, em busca de uma posição confortável, mesmo que o travesseiro já estivesse amassado e a sensação de vazio começasse a pesar em meu peito. O outro lado da cabeceira parecia tão distante quanto meus pensamentos. O sol insistia em invadir o quarto, atravessando as cortinas brancas com uma persistência irritante. Por mais que a luz tornasse impossível ignorá-lo, a preguiça era mais forte. Eu não queria me levantar, não queria ajustar as cortinas para bloquear o que parecia ser um lembrete cruel da realidade.

A desordem do quarto de hóspedes refletia perfeitamente o caos interno que eu tentava controlar. Roupas espalhadas pelo chão, tênis amassados na frente da porta, e um coturno sujo de lama desde aquela tarde na floresta com Katsuki. Cada objeto parecia carregar lembranças de momentos que, de alguma forma, agora pareciam mais distantes, quase inalcançáveis.

Perdi a noção do tempo. Talvez eu tenha dormido, ou talvez apenas estivesse fingindo. Por horas, me forcei a ignorar os sentimentos que insistiam em transbordar. O peso no peito era sufocante, meu rosto estava inchado de tanto chorar, as lágrimas secas marcando a pele como cicatrizes de uma batalha interna que eu já sabia que estava perdendo. O sol continuava a invadir o espaço, queimando meus olhos fechados, mas eu não podia, não queria, enfrentá-lo. Não queria reviver as lembranças dolorosas de ontem, ainda que soubesse, no fundo, que tudo aquilo tinha sido real. A realidade estava ali, junto com a dor, e ambas pareciam inescapáveis.

Enterrei o rosto no travesseiro, como se pudesse bloquear a luz e, com ela, todas as memórias de Katsuki. Ele me odeia. Durante todo esse tempo, eu me forcei a acreditar que poderia quebrar essa barreira, mas agora a verdade parecia clara: ele nunca me viu como algo além de uma fonte de frustração. Seu ódio, embora disfarçado em provocações e explosões de temperamento, era o único sentimento que conseguia nutrir por mim.

E eu? Eu não conseguia evitá-lo. Katsuki era tudo para mim. Ele significava tanto que às vezes eu mal conseguia respirar ao seu lado. O desejo de protegê-lo era quase instintivo, uma necessidade de envolvê-lo nos meus braços e mantê-lo seguro, como se o mundo não estivesse preparado para lidar com alguém como ele. Katsuki, com sua intensidade quase brutal, era uma alma quebrada, fragmentada por dentro, mas era justamente por isso que eu o amava tanto. Sempre fui atraído por almas profundas, aquelas que escondem abismos por trás dos olhos. Como Newton explicou, toda ação gera uma reação, e Katsuki era a personificação dessa lei. Quanto mais ele se aproximava, mais eu me desmanchava. Bastava um olhar dele, e eu sentia minhas forças me abandonarem, como se meu próprio corpo deixasse de me pertencer.

“O que você fez comigo, gatinho?” – murmurei para mim mesmo, enroscado nas cobertas. – “Acabei gostando de você mais do que achei que seria possível.”

Com esforço, forcei meu corpo pesado a se levantar da cama. Meus músculos protestavam, como se cada movimento fosse uma luta contra a gravidade. Arrastei-me até o banheiro e liguei o chuveiro, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo, tentando lavar o cansaço e a dor, mas sabendo que algumas cicatrizes eram mais profundas do que a pele poderia esconder.

Depois do banho, me vesti com o que encontrei mais próximo: uma regata branca que estava largada no chão. Cheirei-a antes, só para ter certeza de que ainda estava limpa. Coloquei uma calça de moletom preta e meus chinelos Havaianas, que já estavam desgastados pelo tempo, quase amarelos, com aquele pequeno símbolo brasileiro na alça. Respirei fundo antes de abrir a porta do quarto. Eu precisava sair dali. Não sabia exatamente para onde ir, mas qualquer lugar seria melhor do que continuar preso naquela espiral de pensamentos.

𝗦𝗧𝗔𝗥𝗕𝗢𝗬, ᴋᴀᴛsᴜᴋɪ ʙᴀᴋᴜɢᴏᴜOnde histórias criam vida. Descubra agora