Verão de 73

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Nenhuma nuvem atrapalhava o espetáculo do astro-rei naquela manhã. Enquanto sua luz refletia no mar azul e na minha pele pálida com mesma intensidade, as pessoas livres com seus corpos dourados exalando energia me faziam sentir vivo também.

O que é estranho. Como poderia sentir tudo aquilo, uma vez que eu estava dormindo?
Cada sensação que tive — o calor, o vento no rosto, a temperatura da água em espumas que tocava os pés — era tão real quanto se eu estivesse acordado. Até mesmo o toque pesado de um estranho no meu ombro alertou os sentidos.

Do meu lado estava dois personagens estranhos para mim, mas de alguma forma, me sentia próximo a eles.
— É melhor usar protetor! — Disse o homem do meu lado.
— Já passei. — Menti. A verdade é que eu não fazia ideia se terminaria o dia parecendo um camarão.
— Então me ajuda aqui! — Ele virou as costas e me deu um frasco laranja.

— Cara, não acredito que vou mudar daqui. — Confessa para mim. Não sei como vai ser.

Eu não sabia o que dizer. Ah! Relaxa. Vai dar tudo certo? Não lembrava de nada antes daquele momento.

Enquanto eu espalhava o protetor, reparei em sua marca de nascença com formato de uma gota d’água. Não contive um sorriso que não teve pressa de desaparecer. De repente me senti verdadeira e deliciosamente parte daquilo.

— Então, vão ficar sentados enquanto o dia passa?

— Anunciou o outro já se levantando e carregando um pedaço de isopor grosso.

— Bora, surfar!

Já acordado, aproveitava as brechas na minha rotina para lembrar das cenas embaralhadas na mente e que dava tanta saudade. Vibramos no carro dirigindo a toda numa estrada vazia, pulamos de um penhasco dezenas de vezes, não demonstrando nenhum cansaço. Sendo derrubados por um esplêndido pôr do sol.

E então as coisas mudaram. O sol levou sua energia e a noite nos trouxe uma despedida. Antes de acordar eu disse “Adeus”.

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