SETEMBRO

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•• EU, VOCÊ e o que não dizemos! ••
Quando os olhos falam, as palavras silenciam.
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"Todas as amizades mudam. Mas as boas se fortalecem com as mudanças." - WI-FI RALPH

SERIA MUITO INAPROPRIADO se eu dissesse que fiquei totalmente excitada ao sentir o corpo de Donavan contra o meu naquele sofá apertado? Talvez! Principalmente porque quando ele se virou e ficou de frente para mim, ele estava dormindo.
Seu nariz colado ao meu, nossos lábios a um centímetro de se tocarem.
Ele me enlaçou em seus braços num abraço apertado e meu corpo inteiro estremeceu.
Meu coração batia tão forte que era ensurdecedor.
A respiração tranquila de Donavan misturada a minha completamente desregulada.
Apesar dele estar magro devido ao acidente, seu físico diferente ainda era atraente e seu cheiro, meu Deus, o seu cheiro me embriagou.
Senti o calor percorrer minhas veias queimando minhas bochechas.
Me desvencilhei delicadamente de seus braços para não acordá-lo e fui ao chão.

O silêncio da casa era quase absoluto, exceto pelo sutil som da respiração de Donavan. O remédio que ele havia tomado há pouco mais de uma hora o mantinha em um sono tão profundo que nem o barulho da minha queda conseguiu despertá-lo. Ali, adormecido no sofá, ele parecia vulnerável, quase ingênuo, como se as sombras que às vezes via em seus olhos tivessem se dissipado por completo.

Com cuidado, peguei a manta que estava dobrada sobre o braço do sofá e a estendi sobre ele. O gesto simples, de cobri-lo, trazia um calor inesperado ao meu peito, uma espécie de ternura que eu não ousava nomear. A tranquilidade em sua expressão me fez sorrir, e por um breve momento, o mundo parecia mais leve, quase sem peso.

De volta ao meu quarto, sentei-me sobre a cama e abri meu caderno de desenho. A capa preta, inconfundível, era obra das minhas próprias mãos. Ali, naquelas páginas rabiscadas e repletas de traços, eu guardava algo mais profundo do que simples esboços: eram as sensações que Donavan despertava em mim, um emaranhado de emoções que eu tentava capturar em cada detalhe de seus retratos. Às vezes, um simples olhar ou gesto seu era o suficiente para alimentar minha inspiração.

O som do alarme da porta interrompeu meus pensamentos. O clique suave me avisou que alguém havia entrado. Fechei o caderno e o deixei sobre o criado-mudo antes de descer as escadas.

Era meu pai. Ele estava com as mãos cheias de sacolas de supermercado, um sorriso cansado mas afetuoso no rosto. Sem dizer uma palavra, me aproximei para ajudá-lo, compartilhando um momento de silêncio confortável enquanto organizávamos as compras na cozinha.

- Tudo bem por aqui?

Eu assinto enquanto guardo as compras no armário.
Evito contar sobre a queda de Donavan no banho e da sua forte enxaqueca.
Bárbara chega logo em seguida.
Eles trocam carinhos e conversam sobre o dia.

- Chloé, obrigada por ficar com Donavan e cuidar dele. - Bárbara me agradece com um abraço.
- O fisioterapeuta me disse que você avisou que Donavan não estava se sentindo bem e por isso remarcou a sessão.

- Ah sim, foi isso mesmo. - falo sem jeito.

- E como ele está agora, melhorou?

- Ele está dormindo no sofá lá embaixo, na sala de jogos.

- Há quanto tempo ele está dormindo?
Bárbara parece preocupada.

- Umas duas horas, eu acho.

- Ele tomou alguma medicação?
Ela começa ficar agitada.

- Sim, ele se queixou de dor de cabeça então eu dei a ele o remédio prescrito.

Bárbara não diz nenhuma palavra e sai correndo em direção a sala de jogos.
Meu pai larga as compras e corre atrás dela e eu vou junto, claro.
Quando chego lá embaixo ela está visivelmente preocupada.

EU, VOCÊ e o que não dizemos!Onde histórias criam vida. Descubra agora