013

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Helena

── Gabriel, eu tô com medo! — avisei com os pés na água, sentindo a cabeça dele pousar no meu ombro. ── Mas isso aqui tá lindo!

── Não precisa ter medo, não tem perigo. Só que provavelmente a gente vai tomar um caldo quando voltar para próximo da areia com as ondas — falou, me abraçando pelas costas, e eu ri levemente, apreciando o momento, o toque e a companhia.

A ideia dele foi simplesmente me trazer para o meio do mar em uma prancha. Bom, não é bem o meio do mar, é só uma parte mais funda onde já não quebram tantas ondas e um pouco distante da orla. Eu bati o pé na hora de entrar, mas além do oceano estar calmo, eu queria saber como era a sensação de ficar longe da costa. A vista é incrível, com as luzes acesas ao longe e a luz do luar refletindo na água.

── Que ideia diferente, eu gostei! — falei, encostando meu corpo contra o dele, que estava atrás de mim e me segurava levemente pela cintura.

── Posso te contar uma coisa?

── Hm? — murmurei, deitando a cabeça para trás e encarando o céu.

── Eu nunca trouxe ninguém aqui. Digo, para um rolê assim. Mas você comentou que estava meio pra baixo e eu, quando fico meio mal, faço isso. Aí achei que talvez te ajudaria, até porque você também tem a mesma conexão com a natureza que eu tenho — contou em um tom de voz baixo, e eu senti um sorriso se formando em meus lábios.

── Gabriel... Tu não vale nada! — falei, passando a mão no rosto. ── Cafajeste! Confio sim que você nunca trouxe ninguém.

── É sério, pirada — resmungou. ── E eu valho muito sim, tá?!

── Tá bom — falei, encarando a luz do luar refletindo na água. Que momento perfeito!

── Quer me contar o que aconteceu hoje?

── Minha mãe vai casar de novo, e sei lá, eu e minha irmã não aceitamos muito bem a ideia de que ela vai casar com um dos melhores amigos do nosso pai — contei. ── E ela não entende isso! A gente meio que discutiu, aí chegou minha tia comentando que viu os posts que marcaram a gente, aí eu meti o pé para não passar raiva e surtar totalmente — comentei, e senti suas mãos apertarem minha cintura com mais força.

── Que barra, nega — falou em um tom de voz calmo. ── Pô, nem imagino como deve ter sido chato para você lidar com essa discussão e com sua tia enchendo mais ainda sua cabeça. Família é foda!

── Não, eu acho que é só a minha mesmo. Não sei, a família do meu pai eu sempre fui extremamente próxima, mas depois que ele morreu... Foi pá, não conseguia mais ver eles da mesma forma e acabei me afastando.

── Como assim? Não conseguia ver da mesma forma?

── É. A família dele só tinha homem: meus tios, meus primos, e ironicamente todos eles são extremamente parecidos. Toda vez que eu olhava para eles, eu enxergava meu pai, aí me afastei e hoje em dia não converso com ninguém. Mas eles eram totalmente diferentes da minha família por parte de mãe.

── Foi assim que lidou com o luto?

── Foi. É uma forma bem idiota, mas eu tinha doze anos, então não me culpo. Hoje em dia, resolvo todos os meus problemas assim: só sumindo.

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora