Gabriel
── Vocês dois não têm casa, não? — Perguntei, alternando o olhar entre minha irmã e meu melhor amigo, ambos esparramados no sofá, jogando Uno.
── Eu até tenho, mas a sua casa é mais divertida. — Pedro admitiu, e eu ri. Sophia parecia abatida.
── O que você tem, bafo de bunda? — Perguntei, dando um leve tapinha na cabeça dela enquanto me sentava com eles e pegava minhas cartas.
── Briguei com a mãe. — Ela respondeu simplesmente, e eu soltei as cartas, a encarando preocupado. Sophia é a filha que nunca deu dor de cabeça, então era estranho elas brigarem. Geralmente, a mãe brigava era comigo. ── Eu... não sei, me estressei com ela e falei demais. Ela meio que invadiu meu espaço pessoal. Eu estava estressada, ela me julgou, e eu xinguei.
Essa é a complicação com nossa mãe; ela realmente não sabe respeitar o espaço pessoal dos filhos. Comigo foi igual, só melhorou quando eu fui embora.
── Bom, acho que, independente do que ela fez, ela é sua mãe. Você mora com ela, meio que você tem que, sabe, respeitar! — Falei, e ela me olhou com tédio.
── Cara, você brigou com ela por causa da sua ex que te tratava mal. Você não pode me julgar. — Ela retrucou, e eu rolei os olhos.
── Pedro? — Olhei para meu amigo, esperando que ele me defendesse.
── Ela tá certa, garanhão. — Respondeu ele.
── Mas enfim, sei como a mãe pode ser chata muitas vezes com essa coisa de não respeitar espaço pessoal. Comigo foi assim até eu sair de casa, e acho que com você vai ser a mesma coisa. Ainda mais considerando que você é mulher, então ela pega mais pesado. — Aconselhei, voltando minha atenção para as cartas.
── Mas enfim... — Ela balançou a cabeça. ── E aquele lance da Choquei? Você e a Lê estão namorando? — Perguntou, e eu neguei com a cabeça.
── Não, só vazou uma foto nossa se pegando, mas não estamos em nada sério. Eu ainda fico com outras mulheres, e sei que ela também faz o mesmo. — Respondi, indiferente.
── O quê? Isso não faz sentido nem para você, Gabriel. — Pedro falou. ── Cara, você tá todo caído por essa mulher. Te conheço, a última vez que ficou assim acabou casado e brigado com sua mãe e seu padrasto. Mas acho que a Helena não faria vocês brigarem!
── Não é... — Neguei com a cabeça. ── Eu realmente curto a presença dela, gosto de estar com ela. A companhia dela me traz paz, mas não tá rolando sentimento, isso eu afirmo.
── Alguém vai fazer uma homenagem pro Scooby e tatuar um João Frango. — Sophia implicou. Pedro riu, e eu rolei os olhos.
Por que é tão difícil acreditarem no que eu falo? Na noite passada, a gente se encontrou e eu a vi com uma carinha triste. Pareceu ainda pior quando um cara se aproximou dela. Eu estava no aniversário de uma amiga e me senti na obrigação de pelo menos ver como ela estava. Quando confirmei que ela não estava bem, senti que devia tentar animá-la. E até que funcionou; tive uma ideia meio aleatória e boba de levá-la para o meio do mar na minha prancha à noite, arriscando algum tubarão comer nossas pernas, mas no final deu tudo certo. Aquela noite intensificou meu carinho por ela.
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lentes no horizonte, gabriel medina.
Fanfiction── Aquela lá é a Leninha, filha dos ventos, pior que furacão. Onde passa faz estrago! 01.08.2024