Juliette foi atrás do marido assim que se recuperou e o encontrou no closet arrumando duas malas.
- Olhe para mim e seja sincero comigo.
Ele virou e a encarou.
- Tem outra mulher na sua vida?
Rodolffo fechou os olhos e depois os abriu cheios de lágrimas.
- A única mulher que me teve nesses anos todos foi você e por um tempo ainda vai continuar sendo por que terminar um relacionamento não significa terminar o sentimento.
- Não vai embora.
- Eu preciso ir. Os caminhos que eu quero percorrer, não são os mesmos que você quer andar. Juliette não é falta de amor, o quê acabou foi a parceria e principalmente o entendimento.
- Eu retiro o DIU. Nós teremos um filho. Será feita a sua vontade.
- Não. Uma criança não é um boneco e o nosso atrito vai muito além dessa questão.
- Aqui é melhor que no Brasil, mas lá nós éramos mais felizes. Tínhamos amigos. Eu sinto saudades da sua antiga vida.
- Vai ter muito tempo para desfrutar da sua vida agora.
Ele voltou a arrumar a mala e Juliette se pôs na sua frente.
- Diz que não gosta de mim olhando nos meus olhos...
- Não vou dizer uma mentira por que eu te amo Juliette.
- Então não se vá, por favor. Por favor.
Ela disse isso e se atirou nos braços de Rodolffo. Ele poderia ter se libertado dela, mas não fez.
A apertou no abraço, cheirou seus cabelos e beijou sua boca com paixão.
- Até parece que foi ontem o nosso primeiro beijo. - ele disse chorando. - Eu não casei para separar.
- Eu te amo. - ela disse também chorosa.
Delicadamente ele a pôs nos braços e a levou para a cama. A amou sem pressa e o maior objetivo no ato era que ele fosse eterno. Mas quando saciados, ela o abraçou e ele a apertou contra o peito.
A viu adormecer e só depois que ela estava dormindo pesado foi que ele voltou a arrumar suas coisas. No seu lugar ele deixou um travesseiro e junto dele, um bilhete:
Não é a falta de amor que nos separa, mas só o amor não é suficiente para nos manter juntos. Obrigado por tanto. Foram anos incríveis e nós fazemos parte da história um do outro. Fui seu primeiro namorado e você foi a minha primeira namorada. Descobrimos juntos o amor, o prazer e a vida conjugal. Sempre haverá amor, mas Rodolffo e Juliette acabou.
Aos prantos Juliette leu o bilhete e entendeu que Rodolffo não era mais seu marido de fato. Nada mais poderia ser feito, além do divórcio.
...
O primeiro dia de Rodolffo separado foi um dos mais duros que ele tinha lembrança. Estava desolado e até na empresa, onde ninguém olhava muito para os outros, era perceptível a sua tristeza.
Fernando era brasileiro e seu colega de trabalho. Ao ver ele com os olhos inchados e o fato de estar sem aliança logo lhe disparou um alarme.
- Rodolffo está tudo bem?
- Está. - ele respondeu secamente.
- Não parece, mas se precisar de alguém para desabafar, estou aqui.
Rodolffo acenou positivamente para o colega e só. Seus olhos estavam no computador e ali ele ficou por umas 12 horas. Bebeu água algumas vezes, porém não fez nenhuma refeição.
- Rodolffo... Está na hora de ir. Nós já fizemos muitas horas extras hoje.
- Não quero ir. Posso passar a noite trabalhando.
- Cara... Parece que as coisas estão difíceis, mas se matar de trabalhar não vai melhorar nada.
- Não tenho mais para onde voltar. Não há um jantar para saciar a minha fome. A Juliette não está mais me esperando.
- Vocês pareciam tão perfeitos.
- É... Mas os perfeitos muitas vezes não sabem amar.
- É... Isso é verdade. E o quê é mostrado, nem sempre é vivido. Agora vamos. Temos que ir.
Rodolffo estava numa espécie de hospedaria. Ali tinha onde dormir e se banhar, mas as refeições eram sempre fora dali.
...
Naquele mesmo dia Juliette pediu para sair da empresa onde trabalhava. Todos lamentaram a sua saída, mas não restavam motivos para continuar nos Estados Unidos.
Com os anos de trabalho que teve no país, ela adquiriu algumas boas economias. Rodolffo e ela eram bem regrados e sempre pensavam no futuro.
Bens em comum não tinham a dividir e como o divórcio era de comum acordo, logo estariam os dois divorciados. E essa é a primeira iniciativa que tomará ao retornar ao Brasil.
Apesar de ainda chorar, decidiu que o quê lhe restava era tocar o barco e seguir em frente. Mas antes disso, enviou uma mensagem ao ex marido.
- Retorno ao Brasil em dois dias. Se quiser ficar com a casa, esteja aqui nas primeiras horas. Vou viajar ainda na madrugada. Se não for do seu interesse, vou avisar ao proprietário.
Rodolffo demorou a responder, mas depois lhe escreveu:
- Eu quero ficar na casa.
...
Dois dias passaram logo e com uma bolsa de mão, junto de duas malas, Juliette saiu da porta principal da casa.
Rodolffo estava encostado no carro e ficou a observando caminhar em sua direção.
- Eu posso ir te deixar no aeroporto Juliette.
- Não. Eu já estou esperando um táxi. Aqui estão as outras chaves, sei que você ainda tem as suas.
Rodolffo recebeu e a olhou.
- Dois sacos de lixo que estão na área de serviço são coisas que eu não quero mais. Pode se desfazer na próxima coleta, por favor?
- Sim.
- Ao chegar no Brasil vou entrar com o pedido de divórcio. Certamente você resolverá tudo na embaixada.
- Você pode me avisar quando for feito?
- Sim. Eu te aviso.
A condução de Juliette chegou e ela deu uma última olhada para a casa que viveu nesses três anos. Seus olhos nublaram de lágrimas e ela nem disfarçou.
- Adeus Rodolffo. Boa sorte.
- Boa sorte. Que Deus te acompanhe e proteja.
- Eu li o bilhete... - ela quis dizer mais, mas só finalizou. - Você sempre viverá comigo de alguma forma, não sei qual, mas Deus me diz isso.
Ele ficou sem palavras e parado viu a mulher da sua vida partir.
...
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A sua partida
FanfictionO fim nem sempre é fácil, mas por vezes é necessário. Foi assim que Juliette tentou enxergar o fim do seu casamento com Rodolffo, mas as coisas não são tão simples assim.