008

526 77 6
                                    

Já fazia três dias desde o que aconteceu no quarto da baladin. Ela não havia me mandado mensagem, eu  também não mandei. Talvez fosse a confusão na minha cabeça, ou o medo de magoar a morena, que me mantinha em silêncio.

Eu precisava afastar esses pensamentos. O foco agora era o jogo, que começaria em menos de uma hora. Estávamos no vestiário, todos reunidos em um grande círculo. Ze estava no centro, sua presença era imponente.

— Sabemos que um jogo contra o Japão nunca é fácil. São ralis atrás de ralis. Mas vocês estão fortes. Apenas mantenham o foco — disse Ze, sua voz firme ecoando no espaço. Aplaudimos em uníssono, absorvendo a energia.

— Demos tudo para chegar até aqui. Treinamos incansavelmente. Agora é hora de mostrar para o que viemos nessas Olimpíadas — acrescentou Gabi, nos inspirando com seu entusiasmo.

Após uma breve oração, nos preparamos para entrar em quadra. Hoje, eu não estaria entre as titulares. Bergman assumiria meu lugar. Mesmo assim, senti o peso da responsabilidade. Estava pronta, mesmo fora da linha de frente.

Quando entramos na quadra, o som dos aplausos e gritos foi ensurdecedor. Ficamos surpresas com o tamanho da torcida. Era sempre especial sentir essa energia, e com tantos brasileiros presentes, sabíamos que esse apoio seria o combustível necessário para nos impulsionar rumo à vitória.

As titulares foram chamadas uma a uma. Embora eu não começasse como titular nesse jogo, sabia que em algum momento teria minha chance de entrar, seja para ajudar nas trocas ou, talvez, no último set decisivo.

O jogo começou com o saque das japonesas. Nyeme recebeu com precisão, direcionando para Macris, nossa levantadora titular, que rapidamente armou o ataque para nossa capitã. O som do primeiro ponto marcado ecoou pelo ginásio, um início promissor.

[...]

No terceiro set, estávamos em desvantagem, 15x9. Ze, percebendo a necessidade de mudar o ritmo, decidiu me colocar em quadra no lugar da Aninha. Antes de entrar, me aproximei do técnico, determinada.

— Ze, a Gabi está cansada — apontei para cacheada que suspirava e estava visivelmente cansada— Deixe-me entrar no lugar dela. Eu consigo segurar as pontas, e ela pode ver o jogo de fora.

— Não — Ze respondeu, seco. — Entra no lugar da Ana Cristina e faz o seu.

Sem mais discussões, corri para a linha de substituição. Ana Cristina correu em minha direção e, após o toque de mãos tradicional, pisei na quadra. Gabi foi a primeira a bater em minha mão, seguida por Carol. Seus olhares eram de confiança e incentivo.

— Vamos, vamos, vamos!

[...]

Match point para nós. Fui para o saque com o coração disparado. Gabi fez o sinal, pedindo para sacar na posição 5, e eu segui sua ordem. A recepção japonesa falhou, mas elas conseguiram recuperar a bola, devolvendo-a de graça para a nossa quadra.

Gabi recebeu com precisão. Roberta fez um levantamento perfeito e, sem hesitar, nossa capitã atacou. As japonesas defenderam o ataque de Gabi, mas quando uma das jogadoras tentou contra-atacar, o maior paredão subiu. Carolana bloqueou o golpe com uma força brutal.

A morena se virou, batendo no peito e soltando um grito de euforia. No impulso, pulei em seu colo. Ela me segurou com firmeza, colocando as mãos nas minhas coxas, e me girou no ar.

— AE, CARALHO! POHA, VAI COMER SUSHI NO SEU PAÍS! — gritou Thaisa, tão animada quanto nós. Carol me colocou no chão, e todas nos abraçamos.

— Estão vendo? — murmurei, deixando todas intrigadas. Thaisa olhou ao redor, sem entender. — O ouro chegando!

Entre rivais - Hande baladinOnde histórias criam vida. Descubra agora