PRÓLOGO

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Angelina seguiu da recepção até o quarto em que o pai estava em uma fração de segundos, Edgar estava tão fraco como nunca esteve, mas quando viu a filha ele parecia ter ganho um fôlego a mais. O olhar de Angelina encontrou-se com o do pai, ela caminhou rapidamente tocando as mãos dele e as beijando.

— Por favor, papai. Me diga que você ficará bem. Por favor! — ela falava enquanto chorava. Edgar ficava comovido, então ele levanta o rosto da filha devagar.

— Querida, se acalme. — ele fala aos sussurros.

— Eu não consigo. Não consigo. — Angelina fala com as sobrancelhas retraídas, a sua expressão era de dor e medo. Edgar sabia que sua saúde estava comprometida, mas como ele diria a filha?

— Angelina, você é a menina dos meus olhos, eu preciso muito da sua força, assim eu serei forte. — Edgar diz. Angelina olha para o pai com muita atenção.

— Pai, eu sinto muito, você viu tantas pessoas te dando as costas, a pesca enfraquecer, as dívidas... — Angelina enumerava as desgraças que Edgar teve de enfrentar.

— Somente consegui chegar aqui porque queria lutar por você. Angelina, me ouça, não permita que sua mãe ou qualquer outra pessoa te renda, seja como sempre foi. — Edgar diz sentindo seu corpo amolecer. Angelina toca o rosto do pai com piedade.

— Te prometo. — Angelina diz. Então Rosália, mãe dela e esposa de Edgar, entra no quarto. Com os braços cruzados, ela observa os dois.

— Rosália, venha aqui por favor. — fala Edgar vendo a esposa ali parada. Rosália se aproxima lentamente. — Proteja Angelina. — Edgar diz como se fosse uma ordem, Rosália e Angelina se entreolham.

— Não se preocupe, meu bem. Não pense muito nisso agora, você precisa ficar calmo. — Rosália fala. Edgar então fecha os olhos, Angelina corre desesperada chamando os médicos.

Os médicos adentram o quarto.

— Por favor, saiam da sala. — O médico diz adentrando o quarto com uma pequena equipe de enfermeiros.

Angelina e Rosália saem, o coração da jovem doce de olhos azuis ficava ali dentro da sala. Então assim que a porta se fecha, Angelina procura colo nos braços da mãe. Dali, elas ouviam frases como "Reanimem ele!!!", "Quanto mais tempo, menos chance".

Alguns minutos depois daqueles segundos eternos e dolorosos, Rosália e Angelina foram informadas de que apesar das inúmeras tentativas, Edgar havia falecido. Era difícil dizer como seria a partir daquele momento, mas o passado poderia ajudar-nos a entender melhor.

Quando jovem, Edgar herdou a pequena indústria pesqueira do pai, ao longo dos anos e tendo um olhar astuto para os negócios, ele conseguiu o que parecia improvável: tornou-se o maior empresário da cidade. Edgar não era um homem daqueles que saem engravatados para o trabalho, ele amava o mar mais do que qualquer outro lugar, era o seu diferencial e certamente o ajudou a conquistar o coração da população de Areia Branca. As sardinhas e cavalinhas eram a especialidade da fábrica Castilho.

Bem, tudo ornou perfeitamente por quase 30 anos, o que ajudou Edgar a construir um patrimônio significativo, mas as águas que correm nunca são as mesmas. Perdendo valorização pela classe política, Edgar recusou-se a fazer negócios com os Bonifácio, isso fez com que ele perdesse lugar no mercado enquanto surgiam novos concorrentes. Até que ele sequer conseguia pagar mensalmente os funcionários.

Por outro lado, Edgar tinha a sua única filha, a doce Angelina Reis. Aquela era a razão para que ele lutasse tanto pelo conquistado, ele queria assegurar o bem-estar dela.

DOIS DIAS APÓS A MORTE DE EDGAR – VELÓRIO DE EDGAR

Para a população de Areia Branca a morte de Edgar era um fato chocante e entristecedor, até mesmo a prefeitura havia dado três dias de luto pela morte do pescador, o primeiro e grande empreendedor partia tão repentinamente. Mas para Angelina era uma dor inexplicável, se via nos olhos dela o quanto ela já havia chorado, eles estavam mais pequenos e avermelhados. Rosália mantinha-se com uma postura mais estável, ela recepcionava aqueles que vinham prestar as últimas condolências.

Marcos Bonifácio estacionava sua caminhoneta, junto aqueles que faziam parte de seu gabinete de prefeito. Ele chegava para prestar o último adeus a um amigo de anos, estrategicamente ele havia trazido também o filho Martim, este que lançará a candidatura para suceder o pai na prefeitura em questão de dias. Martim chama a atenção daqueles que estavam ali pelos terreiros, ele podia notar as pessoas o olhando, mas se tem algo que ele não temia era os olhares curiosos.

Subindo as escadas e chegando a porta de seis folhas abertas que davam acesso a sala da casa, Marcos entrou junto do filho, os dois foram vistos por Rosália que ao vê-los, foi praticamente correndo cumprimenta-los.

— Rosália, sinto muito pelo meu amigo, eu realmente estou partido com essa notícia. Edgar não só era um grande empresário, ele era um homem exemplar. — fala Marcos colocando a mão sobre o peito.

— Obrigada pelas suas palavras. Martim, eu não o via desde sua ida para a capital, você ainda era um menino. — diz Rosália olhando para Martim.

Martim a olha.

— Sinto muito pelo seu marido. — Ele fala olhando para Rosália.

— Muito obrigada, querido. — Rosália responde. — Vou pedir para que sirvam café para vocês, por favor, se acomodem! — Rosália os deixa sozinhos e vai na direção da cozinha da casa.

Rosália era muito gentil com aqueles que tinham poder. Martim olha para o pai com muito tédio.

— Ficamos aqui até que horas? — Martim pergunta olhando para Marcos.

— Nós acompanharemos até o fim do enterro. Você deve mostrar sentimentalismo, Martim. — Marcos diz como se ordenasse ele. Então, Martim faz uma expressão ligeira de desinteresse. Marcos caminha até o caixão e passa a mão sobre a madeira como se fizesse um carinho.

Martim observa o ambiente melancólico, entediado o suficiente, ele vê a porta do escritório meio aberta. O que chama sua atenção é a coleção de anzóis postos na parede, ele adentra o escritório com os braços cruzados, enquanto admira cada um deles e imagina que histórias teriam por trás. Sem perceber que havia alguém mais ali, ele recorda os quadros que a mãe pintava, que hoje estavam empoeirados no porão do casarão que o pai morava quando ele era criança.

Martim ouve um soluço que rouba sua distração e o traz de volta a realidade, então ele olha para a mesa, e há uma mulher debruçada sobre ela chorando de forma silenciosa. Sem saber como agir, mas comovido pela situação dela, Martim se aproxima lentamente e tira um lenço do bolso. Ele pigarreia estendendo a mão para ela com o lenço. Então ela levanta um pouco a cabeça, acreditando ser a mão de Inácio, ela pega o lenço e levanta-se para abraça-lo.

— Eu não sei o que fazer, meu mundo está desabando rápido demais. Não sei como vou continuar sem ele comigo. — ela o abraça repentinamente. Martim fica estático, por que ela o abraçou? Ainda não percebendo que estava abraçando a pessoa errada, Angelina chora sobre o ombro dele. Martim não entendia a situação, mas toca o cabelo dela como se a consolasse.

— Você precisa ser forte, mesmo que isso doa. — Martim diz. Então Angelina ouve aquela voz rouca e afasta o corpo do dele. Ela fica tão surpresa vendo que abraçou a pessoa errada.

— Quem é você? E por que está aqui dentro? Pervertido! — ela fala quase aos gritos. Então Martim a encara.

— Você que me abraçou e agora está me chamando de pervertido. — Ele diz a encarando.

— Claro. Você é mesmo um! Entrou aqui sem que eu percebesse, isso é estranho. Quem é você? — ela questiona. Martim então pensa que a conhecia, não era ela a menina que vivia implicando com ele quando ele ainda morava em Areia Branca?

— Martim. Martim Bonifácio. — Ele releva depois de uma pausa. Angelina fica ainda mais surpresa e entende que se trata do filho do prefeito. Obviamente ela também se lembra de brincar com Martim quando era criança.

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⏰ Última atualização: Aug 17 ⏰

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