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Mia Capell

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Mia Capell

AQUELE SONHO ME perturba novamente, mas diferente de antes, o local está encharcado e lodoso. O sol sádico que me feria e consumia passa a acariciar minha pele com suas línguas de fogo. Eu ainda posso enxergar, pois seu brilho ofuscante está mais fraco hoje.

Ainda que meus olhos ardam, vejo a minha carne soltando e sinto o cheiro de queimado. Por algum motivo, não sinto dor.

— 'Tá doendo? — A voz ecoa, sendo vazia e distante — Posso fazer parar.

Não respondo e nem encaro o meu próprio sol sádico. Fecho os meus olhos e sinto os flagelos flamejantes tocarem e queimarem o contorno do meu rosto, mas, novamente, não há dor.

— Diga apenas que sim. — A voz sedutora beija minha pele, influenciando minhas cordas vocais a pronunciarem o que é de seu desejo. Seu tom se torna mais grave e urgente: — Seja minha.

◇◇◇

Acordo e encaro um teto diferente do normal. O ar ao meu redor é pesado e úmido, mas ironicamente não há cheiro de mofo. Sento-me na cama e sinto minha cabeça pesada e tonta. Olhando ao redor, percebo que não conheço o local.

Meu coração acelera, palpitando contra minhas costelas. Olho para minhas vestimentas e encontro uma larga camisa, junto com um abrigo batido. O cheiro daquele perfume não está presente em minhas memórias, mas é muito bom.

Saio da cama revestida de lençóis brilhosos e escuros. O ambiente é totalmente sombrio e mal enxergo ao meu redor. Caminho lentamente, procurando não causar alvoroço ou alertar ao meu atual "sequestrador" que acordei. Não recordo de nada desde que desmaiei, nem mesmo o rosto de quem me salvou daqueles homens.

Pensando melhor nisso, paro onde estou e toco nas vestimentas masculinas que uso. Com certeza eu não estava com isso antes de chegar aqui, o que significa que alguém trocou as minhas roupas. Sendo positiva, talvez não tenha me secado ou me dado um banho quente, o que seria realmente constrangedor.

— Droga, nem sei onde 'tô...

Encontro a porta com o meu tato e giro a maçaneta. Devo estar sendo um tanto ingrata, mas tenho os meus motivos. Afinal, quase fui estuprada e agora me encontro com roupas diferentes e em uma casa totalmente desconhecida.

Há um grande silêncio no cômodo e, no momento em que abro a porta, ouço o rangido típico de quando tentamos abrir sem sermos notados.

Encolho-me, mas sigo adiante. Corro em trote para fora daquele estúdio amplo. O corredor é mais iluminado, me deixando ver suas paredes vermelhas decoradas. Ao dobrar em um corredor qualquer, vejo a porta aberta no final do caminho.

De onde estou, vejo as nuvens iluminadas com os relâmpagos. Ouço o som forte da chuva e também percebo o carpete molhado perto da porta.

Direciono-me até lá, ignorando o senso de perigo ou o instinto de fuga. Estou assustada, confusa e curiosa. Aquela tormenta parece chamar pelo meu nome, instigando e me desafiando a penetrá-la sem hesitações. Meus pés param antes que eu passe do batente da porta.

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