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Naiane

Eu sabia que em algum momento as questões das idas ao Canadá podiam dar muito errado, mas eu não tinha noção do quanto. É muito estranho dizer que nós brigamos por esse motivo, tão conhecido pelas duas, mas eu também consigo entender o quão difícil é para a Carolina ficar comigo longe, tendo as meninas em um momento que eu simplesmente não posso levar uma ou outra por conta dos compromissos delas, mas ao mesmo tempo fico com meu coração na mão, porque eu não posso deixar de ir.

Eu sei da falta que eu faço pra dentro da nossa rotina, sei do quão difícil é pras crianças entenderem que eu vou, mas que eu volto principalmente pra Amélia por todas as questões principalmente a de que quando ela tá amuada eu preciso dar o peito, mesmo que eu já não esteja mais produzindo tanto leite.

Dormimos brigadas depois do dia lindo de aniversário que Carol teve, e a semana se arrastou, porque eu precisei confirmar minha ida, porque eu precisei estar mais presente no hospital, por conta das demandas que eu vou deixar de cumprir no período que eu estiver em Toronto.

E me dói muito, porque eu lembro que no início da nossa relação o medo da Ana Carolina, era que eu simplesmente fosse embora e deixasse ela sozinha aqui no Brasil, ainda que naquela época o contexto fosse diferente, a realidade era completamente diferente da que temos hoje, muito por conta da carreira da Carol está consolidada, e nós vivemos uma vida confortável com as nossas filhas.

No entanto, é como se o dinheiro não fizesse sentido, a partir do momento que ela não consegue deixar tudo, vir comigo e trazer as crianças.

Fim de semana, o caos total dentro de casa, Lila com as suas demandas com o ballet e as aulas extras de inglês, Amélia começando uma gripe chatinha, Carol amuada por causa do cansaço de trabalho e da nossa falta de diálogo e eu tentando andar tudo como se eu fosse um palhaço equilibrista.

Saí do hospital mais cedo e aproveitei para buscar a Lila na dança, queria conversar um pouco com ela, sem a irmã e esses momentos nossos tem sido muito bons, porque ela é muito esperta e dá conta de responder tudo que a gente propõe para ela.

— Filhota... Mamãe quer conversar uma coisa, mas primeiro como é que foi seu dia me conta tudo?

Estávamos já dentro do carro, eu já tinha prendido a bonitinha no cinto e comecei a dirigir devagar, para sair da rua que ficava a companhia de balé que a pequenininha dança.

— O meu dia foi bom mãe, comi o lanche todo, e também a dança foi boa hoje. E a conversa? Conversa agora!

— Então filha, a mãe vai precisar fazer aquela viagem de novo, lembra, lá pro Canadá? — Vi pelo retrovisor minha filha assentir, mas já com o semblante completamente mudado — Então e aí eu vou precisar da sua ajuda pra cuidar da Mia, e da mamãe Ana pra mim! Você consegue?

Ela negou de pronto e pôs um bico nos lábios.

— Mas a mamãe diz que você não demora, mas você sempre demora. Então eu não quero que você vá, ou então eu quero ir junto!

— Você não pode ir com a mãe dessa vez, meu amor! Você está na aula, tem o balé, tem a Amélia pra você cuidar por mim... Eu juro dessa vez não vou demorar, a mamãe vai ficar 10 dias, é pouco a gente pode se falar todo dia... O que que você acha?

— Aí a mamãe Ana vai chorar e aí agora quem vai cuidar dela chorando? A dinda Rosa veio da última vez, e aí trouxe docinho pra ela, mas ela não parou de chorar, porque ela falava que estava com saudade! Não quero ver minha mãe chorando de novo. Que eu choro junto, eu sou criança.

Contar das viagens passa a ser mais difícil a partir do momento que ela cresce mais, porque parece que ela entende, parece não, ela entende... Que eu vou ficar um longo período fora e ela fica muito magoada e eu fico muito magoada junto. Porque a minha vontade é simplesmente desistir, mas eu não posso é por ela e pela Amélia que eu não posso.

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