O crepúsculo lançava suas sombras longas e retorcidas sobre a cidade, onde o vento uivava melancolicamente entre as ruínas de outrora prósperos edifícios. A natureza parecia ter se rebelado contra a humanidade, reclamando o que era seu por direito. As árvores, agora secas e deformadas, estendiam seus galhos como mãos esqueléticas, sugerindo uma ameaça invisível. O ar estava impregnado de uma névoa densa e sufocante, que trazia consigo um odor pútrido e familiar de morte.
Na esquina da Rua das Magnólias, um velho lampião ainda resistia, balançando ao sabor do vento, seu fraco brilho lutando contra a escuridão opressiva. Foi sob essa luz trêmula que o primeiro aviso apareceu. Uma carta, de papel amarelado e bordas queimadas, repousava no parapeito de uma janela quebrada. As palavras, escritas com uma caligrafia irregular e desesperada, pareciam saltar do papel, como se implorassem por serem lidas.
"Àqueles que ainda respiram e se movem na penumbra deste mundo em ruínas, saibam que há um culpado. Alguém entre vós é responsável por este apocalipse iminente. Encontrai o responsável, ou perecereis todos."
A mensagem espalhou-se rapidamente, como uma praga invisível, sussurrada de boca em boca, aumentando o medo e a desconfiança entre os sobreviventes. A cada nova carta encontrada, o pânico crescia, e as acusações voavam como flechas envenenadas. A cidade, já à beira do abismo, agora se via mergulhada em uma paranoia coletiva.
Entre os habitantes, destacava-se um pequeno grupo de indivíduos que, movidos por um misto de coragem e desespero, decidiram investigar a origem das cartas. Entre eles estava Elisa, uma jovem de olhos profundos e tristes, cuja família havia sucumbido à praga que varreu a cidade meses antes. Havia também Álvaro, um homem de meia-idade, cuja expressão endurecida escondia um passado de tormentos. E por fim, Joaquim, um ancião cuja sabedoria era respeitada por todos, mas cujo olhar agora refletia uma sombra de dúvida.
Eles se reuniram na velha igreja, agora um santuário de desolação, onde as velas acesas lançavam sombras dançantes nas paredes cobertas de fuligem. Ali, sob os olhares vazios das estátuas dos santos, juraram descobrir quem era o responsável pelo estado deplorável do mundo. Mas enquanto faziam seus votos, uma presença invisível os observava, sorrindo na penumbra, sabedora de que a verdade seria mais terrível do que qualquer um poderia imaginar.