Além Das Nuvens

Despedidas e Novos Começos

    O céu estava nublado na manhã em que Sofia e seus pais deixaram a cidade onde ela crescera. A mudança fora uma decisão difícil, mas inevitável. Seu pai, um engenheiro civil, havia sido transferido para um grande projeto em uma cidade maior, e a oportunidade de crescer na carreira era impossível de recusar. Sua mãe, uma professora de literatura, também viu a mudança como uma chance de começar de novo, em um novo ambiente, com novos desafios.

Sofia, por outro lado, não se sentia tão entusiasmada. A pequena cidade onde passara toda a sua vida era mais do que apenas um lugar; era onde estavam suas memórias, seus amigos, e cada canto familiar que a confortava. O jardim da casa onde ela aprendeu a andar de bicicleta, o parque onde passou tardes inteiras fotografando flores e animais, e a escola onde, apesar das dificuldades, havia criado laços significativos. Cada uma dessas coisas parecia estar se afastando dela enquanto as caixas eram empilhadas no caminhão de mudanças.

— Vai ser uma nova aventura, Sofia, — disse sua mãe, tentando animá-la enquanto embalava os últimos livros da estante. — Pense nas novas pessoas que você vai conhecer, nas novas histórias que você poderá contar através das suas fotos.

Sofia tentou sorrir, mas o peso da despedida era mais forte. Ela sabia que seus pais estavam fazendo o possível para que a transição fosse suave, mas a verdade era que ela não queria ir. A ideia de começar em uma nova escola, sem ninguém conhecido, a enchia de ansiedade.

Seu pai, percebendo o desconforto da filha, se aproximou e colocou uma mão reconfortante em seu ombro. — Sei que isso é difícil, Sofia, — disse ele com sua voz calma. — Mas às vezes, as mudanças são necessárias para crescermos. Você é forte, e tenho certeza de que vai se adaptar rapidamente.

Sofia apenas acenou com a cabeça, desejando acreditar nas palavras de seu pai. A verdade era que ela se sentia completamente despreparada para essa nova fase da vida. O único conforto que ela tinha era a câmera que pendia ao redor de seu pescoço, um presente de aniversário de seus pais, dado a ela no ano anterior. A fotografia havia se tornado seu refúgio, uma maneira de expressar o que palavras não conseguiam. Quando tudo ao redor parecia estar fora de controle, ela podia capturar momentos e mantê-los intactos, congelados no tempo.

Naquela manhã, quando finalmente partiram, Sofia se permitiu olhar pela janela do carro e observar sua antiga casa desaparecer ao longe. Ela segurava a câmera nas mãos, embora não tirasse fotos. Era como se ela estivesse tentando guardar na memória cada detalhe daquele lugar que tanto significava para ela.

A viagem foi longa e silenciosa, pontuada apenas por ocasionais comentários de seus pais sobre o que fariam na nova cidade. Eles falaram sobre as possibilidades de novos empregos, as oportunidades de aprendizado, e até mesmo sobre as lojas e restaurantes que gostariam de explorar. Sofia ouvia, mas sua mente estava distante, ainda presa ao que deixara para trás.

Chegaram à nova casa no início da noite. Era maior que a antiga, localizada em um bairro tranquilo, cercada por árvores e com um jardim espaçoso. Para os pais de Sofia, era o lugar perfeito para recomeçar. Para Sofia, era apenas mais um lembrete de que tudo havia mudado.

— Vamos fazer dessa casa um lar, Sofia, — disse sua mãe enquanto abria as janelas para deixar o ar fresco entrar. — Você verá que vai se acostumar em pouco tempo.

Mais tarde, após desfazer algumas caixas e organizar os quartos, Sofia saiu para o jardim com sua câmera. O crepúsculo estava chegando, e a luz dourada que caía sobre as folhas criava um cenário bonito e melancólico. Sofia levantou a câmera e começou a tirar fotos, tentando capturar a beleza do momento, mesmo que seu coração ainda estivesse preso ao passado.