A noite estava insuportavelmente silenciosa. O relógio na cabeceira marcava três e quarenta e dois da manhã, e eu me sentia sufocada por essa quietude, como se o mundo inteiro estivesse dormindo, mas minha mente se recusasse a descansar. Encarei as costas nuas do homem deitado ao meu lado, ouvindo sua respiração tranquila, indicando que já estava em um sono profundo.Voltei a encarar a parede do quarto enquanto minha mente era tomada, mais uma vez, pela manchete do artigo que havia lido mais cedo.
"Rebeca Andrade e Gabi Guimarães confirmam relacionamento durante entrevista."
Quando recebi a notificação de Jordan com o link da notícia, meus olhos congelaram na tela. Eu podia sentir meu coração batendo na garganta, a respiração ficando cada vez mais difícil. Rebeca... e Gabi. Juntas. A imagem delas sorrindo na entrevista perfurou meu peito como uma lâmina afiada, cada risada delas ecoando como um soco em meu estômago. Rebeca sorria pra ela a cada fala, o mesmo sorriso que ela me dava quando me via nos ginásios e corria para me abraçar. E, embora estivesse doendo, tudo que pude fazer foi engolir o choro e sorrir de volta para Jonathan quando ele se aproximou.
Faz três anos desde Tóquio. Três anos desde que nós nos amamos em segredo, fugindo de olhares curiosos, compartilhando noites roubadas, beijos desesperados, e promessas sussurradas no silêncio do quarto de hotel. Mas a vida seguiu seu curso cruel. Eu me casei com um homem que eu pensei que me completaria, mas que, na realidade, apenas preencheu um espaço vazio — um espaço que sempre foi dela. Foi uma decisão tomada mais com a cabeça do que com o coração. O homem ao meu lado era tudo o que eu deveria querer: gentil, amoroso, compreensivo. Mas, no fim do dia, era Rebeca quem eu queria ao meu lado. Eram os lábios macios dela que eu queria sentir, o toque dela que eu queria no meu corpo, a risada dela que eu queria ouvir.
E agora ela está com outra pessoa.
Minha mão tremeu ao pegar o celular. Eu sabia que não deveria ligar. Sabia que era um erro. Sabia o quão patética eu parecia fazendo isso. Mas a dor era tão intensa, tão insuportável, que eu me sentia incapaz de enfrentá-la sozinha. Antes que eu pudesse pensar duas vezes, já havia discado o número de Rebeca. O som da ligação sendo feita foi como um martelar constante em minha cabeça, cada toque me lembrando que eu estava prestes a abrir uma ferida que nunca cicatrizou.
E então, ela atendeu.
ㅡ Simone? - A voz de Rebeca era suave, quase sussurrada. ㅡ O que foi? Aconteceu alguma coisa?
Por um momento, eu não disse nada. Apenas ouvi a respiração de Rebeca do outro lado da linha, o som familiar que costumava ouvir enquanto a segurava nos meus braços. Eu queria dizer tantas coisas, mas as palavras não vinham. Era como se cada pensamento estivesse preso em minha garganta junto do meu choro.
ㅡ Eu vi a notícia. - consegui sussurrar finalmente, a voz embargada.
Houve um silêncio, e eu quase podia sentir a tensão do outro lado da linha.
ㅡ Ah… - Rebeca suspirou, a voz soando compreensiva, mas cautelosa. ㅡ Você viu…
ㅡ Você está feliz? - A pergunta saiu antes que eu pudesse segurá-la. Sabia que não tinha o direito de perguntar, mas precisava saber.
ㅡ Sim. - respondeu Rebeca. ㅡ Gabi... Ela me faz bem.
Fechei os olhos, mordendo o lábio inferior para impedir o choro. Eu não queria ouvir aquilo, no fundo esperava que ela dissesse que não estava feliz, ou que pelo menos hesitasse em responder. Mas eu a conhecia o suficiente para saber quando estava mentindo, e esse não era o caso.
ㅡ E você, Simone? Como você está? - A pergunta de Rebeca era carregada de uma gentileza que só tornava as coisas piores.
ㅡ Eu estou… - Minha voz falhou. Como eu poderia descrever o vazio constante que sentia? Como poderia dizer que, apesar de estar casada, meu coração ainda pertencia a ela? ㅡ Estou... sobrevivendo.
O silêncio se instalou novamente, pesado, sufocante. Eu sabia que Rebeca entendia o que eu queria dizer, mesmo que as palavras não fossem pronunciadas.
ㅡ Simone... a gente precisa seguir em frente. - disse Rebeca, sua voz cheia de pesar. ㅡ O que tivemos em Tóquio... foi lindo. Mas acabou. A vida continuou para nós duas.
ㅡ Mas eu nunca te esqueci, Rebeca. - Confessei, finalmente permitindo que as lágrimas caíssem. ㅡ Eu tentei, mas... Não consigo. Toda vez que eu fecho os olhos, é você que eu vejo.
ㅡ Eu também sinto sua falta. - Rebeca admitiu, a voz dela tremendo ligeiramente. ㅡ Mas... o que podemos fazer agora? Você escolheu ir embora. Está casada. E eu... eu estou tentando ser feliz com outra pessoa. Eu te esperei por tempo suficiente.
As palavras dela eram como um tapa na cara, uma realidade que eu não queria enfrentar, mas que não podia mais ignorar. Eu sabia que ela estava certa. Mas isso não tornava as coisas menos dolorosas.
ㅡ Eu sei. - Sussurrei, minha voz se partindo em mil pedaços. - Eu só... eu precisava ouvir sua voz.
ㅡ Eu estou aqui. - Rebeca respondeu suavemente. ㅡ Mas essa é a última vez, Simone. Por favor, siga em frente. Você merece ser feliz também.
Eu assenti, mesmo sabendo que ela não podia ver. Eu queria dizer tantas coisas, mas nenhuma delas faria diferença agora. Tudo que eu conseguia era sentir a dor se espalhando, como uma ferida que nunca cicatrizaria.
ㅡ Boa noite, Rebeca. - eu disse, finalmente, sabendo que era uma despedida definitiva.
ㅡ Boa noite, Simone. - ela respondeu, com a voz cheia de carinho. ㅡ E... cuida de você, tá?
O som da ligação sendo encerrada foi como uma faca cortando o silêncio da noite. Eu fiquei ali, na escuridão, abraçando o travesseiro, sentindo as lágrimas correrem livres pelo meu rosto. Tudo que restava agora era a saudade, a dor, e o som da voz dela, ecoando na minha mente como uma lembrança de um amor que eu sabia que nunca mais seria meu.
Eu fechei os olhos, tentando encontrar algum alívio no choro, mas tudo que sentia era um vazio imenso. E, enquanto a noite avançava, eu soube que, por mais que tentasse, nunca conseguiria deixá-la para trás.
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a tua voz (rebiles)
FanfictionUma noite silenciosa e solitária traz à tona memórias do amor que Simone Biles e Rebeca Andrade compartilharam em segredo. Agora, três anos depois, Simone se vê presa entre a realidade do presente e a dor de um sentimento que nunca conseguiu deixar...