Olga estava a arrumar o meu cabelo. Eu odiava quando ela ajeitava meu cabelo, ela sempre apertava demais, me dava dor de cabeça, e ela sempre reclamava de meus cabelos serem longos demais e que os fios se embaraçam fácil.
– "Senhorita, seu cabelo está grande demais. Não gostaria que eu cortasse um pouco?" disse com sua voz estridente, penteando meus cabelos. Nego com a minha cabeça pois não os corto pois queria que ficassem como os da minha mãe.
Através do espelho conseguia ver sua face de cansaço, suas rugas e testas marcadas, sua corcunda, seu cabelo loiro e seus olhos azuis que um dia foram mais brilhantes que uma vela no escuro. Conheço Olga desde que me entendo por gente, desde que minha mãe morreu ela sempre cuidou de mim como se fosse sua filha.
Olga se retira do quarto, batendo as enormes portas de mármore. Me olho no espelho, meu cabelo está preso acima de minhas orelhas com uma trança como se fosse uma coroa, ela havia colocado algumas flores amarelas, pintadas de ouro. Hoje era a coroação de meu irmão postiço. enquanto admirava meu cabelo, uma das ajudantes de Olga deixou meu vestido em cima de minha cama. Ele é amarelo, possui babados brancos, e detalhes dourados em suas mangas, visto aquela abominação. Pareço um bolo.
Quem diria, Angelina Stownli, a princesa bastarda, a donzela pirada. Faria uma aparição após 5 anos da morte de sua mãe. Eu estava parecendo um bolo, odiava aquele vestido, mal conseguia me mexer nele, além disso ele era super pesado. Nada que eu não aguentasse. Escuto batidas na porta, e logo uma voz aguda, avisando que deveria ir pois estava na hora de receber os convidados que logo estariam aqui para o baile de coroação de meu irmão, não concordava com que ele fosse coroado, ele é muito novo, tolo. Sua única preocupação era flertar com as donzelas de famílias nobres. Coloco minha máscara dourada, havia flores feitas de ouro ao redor dela.
Na noite anterior, eu havia sonhado que meu irmão morreria esta noite. Em sua coroação.
Desço as escadas, tentando manter um sorriso em meu rosto. Não havia motivo para sorrir, o reino de Soline seria governado por um tolo, seria a nossa queda. E não havia outra opção além de sorrir, e ver tudo se afundando ao meu redor, a escadaria parecia enorme, finalmente terminei de descer, vou em direção a onde estava o trono de meu pai e de meu irmão que estavam acima de uma pequena escadaria eram feitos de mármore, possuem o símbolo do sol em sua cabeceira, acima havia uma vidraça com um sol e uma margarida.
Ambos estavam sentados, possuíam uma postura de autoridade, estavam de azul marinho com detalhes dourados, mas somente meu irmão estava com um manto amarelo com o símbolo do reino bordado em dourado, era um sol. – "Vossa majestade, rei. Vossa alteza." Digo fazendo uma referência, perto de seus tronos.
Eu odiava aquilo. Meu irmão me olhava com desprezo, como sempre. Desde pequeno, ele sempre me odiou, por meu pai ter se casado com minha mãe depois que a mãe dele havia morrido. Quando eu era pequena estava caminhando pelo jardim quando achei um pássaro, um filhote para ser exata. Ele estava machucado, fui correndo mostrar para ele, ele o arrancou da minha mão e o atirou no chão aos meus pés, disse que ele era fraco igual a mim, é que nunca conseguiria ser ninguém, então pertencia ao chão. O pássaro havia morrido.
– "Você está linda Angelina. Está parecendo sua mãe." disse meu pai, ríspido, ele possuía uma taça de vinho em suas mãos. Aparentava estar começando a ficar bêbado.
– "Obrigada, pai." Tento forçar um sorriso, é fazer com que minha voz soasse doce o suficiente para disfarçar o ódio que estava por estar ali, saio rapidamente.
– "Aproveite a festa querida." escuto ao fundo após ter dado as costas ao trono.
Meu pai nunca me fez mal algum, mas nunca teve consideração por mim. Nunca lembrava de meus aniversários, sempre estava ocupado demais governando Soline, sempre ocupado. Ocupado até para o velório da própria esposa.
Me dirijo à mesa onde o vinho se localiza, nunca havia bebido, aquela máscara estava começando a me incomodar, odiava aquilo, odiava aquele bando de homens que nunca realmente se importam com seus reinos, nunca colocavam um pé nos vilarejos. Viro a taça rapidamente, o vinho desce quente pela minha garganta. Me sinto bambear as pernas.
– "A senhorita parece meio estressada." A sua voz era estridente, usava um tom de desprezo. Não respondo, observo a pista de dança, os casais rodopiavam. – "Não vai me responder?" Permaneço calada, e me dirijo ao jardim, ouço o homem me chamar de sem educação. Odiava ter que escutar pessoas falando sobre si mesmas de forma narcisista.
Ao chegar em uma distância segura retiro meus saltos dourados, eles estavam me incomodando. Desfaço meu cabelo, ele também estava me incomodando, as flores caem no chão. Jogo um dos pares do salto em uma árvore. Verifico se não há ninguém por perto, grito. Grito até que meus pulmões se esvaziam, hoje é o pior dia da minha vida. Ouço um barulho vindo de trás das moitas.
– "Quem está aí? responda agora." Digo com a postura reta, tentando não parecer uma desequilibrada. – "Eu sei que você está aí. Eu irei gritar." Abro minha boca para gritar novamente, esperando que tal pessoa aparecesse, eu não estava com medo, eu estava com um salto fino e pesado em minhas mãos. Eu sabia me defender.
Mentira.
Eu não sabia.
Antes que eu reagisse sinto uma mão tampando minha boca impedindo que eu gritasse, sinto um braço em volta da minha cintura. Me debato desesperada. Eu não queria morrer hoje.
– "Pare com isso vai me machucar, princesa." Ele disse. Sua voz soava como de um homem qualquer, seu tom era irônico, ele aparentava ser um pouco mais alto que eu, pela forma na qual me segurava, ele tinha cheiro de cinzas. – "Te soltarei, se me prometer que não vai gritar." Ele diz calmamente.
Ele retira sua mão de mim, me sinto leve. Pego o meu salto e viro para trás rapidamente, mas ele havia sumido, não havia sinal de ninguém por ali, nenhum sinal sequer, me sento na grama, fecho os olhos tentando entender o que acabara de ocorrer.
...
...
Escuto uma voz feminina gritar, o grito não aparentava ser de felicidade, mas sim de surpresa, uma surpresa nada legal. Estava vindo da sala do trono, de dentro do palácio. Em um ato desesperador, corro para dentro, eu estava descalço, havia terra em meus pés. Entro sem hesitar, havia uma multidão perto do trono. Rostos assustados por trás das máscaras olhando para somente uma direção. O trono de meu irmão. Do meu futuro rei, ou não mais.
Havia sangue na escadaria do trono, no trono também, o chão no qual era branco se encontrava vermelho. O Rei havia morrido, havia uma flecha em seu peito, juntamente a ela uma fita vermelha, nessa fita havia algo escrito "Mors regis, fors vivit", "morte ao rei, a chance vive". A chance era um grupo de rebeldes, os chamavam de bastardos dourados, que aparentavam ter sumido desde a morte de minha mãe, a 5 anos atrás, eles a mataram. E agora mataram o meu irmão.
Algo.
Não.
Estava.
Certo.
Não havia mais nada, como deixaram um bastardo dourado entrar na porcaria do palácio. Meu irmão havia morrido, eu não sentia nada por ele. Mas me sentia mal e estava com medo. Oque era para ser um dia feliz havia se tornado um dia triste. O dia mais escuro para Soline.
Liam Stownli estava morto.
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O raio mais escuro do Sol
Fantasy"Mors regis, fors vivit", "morte ao rei, a chance vive". A chance era um grupo de rebeldes, os chamavam de bastardos dourados, que aparentavam ter sumido desde a morte de minha mãe, a 5 anos atrás, eles a mataram.