Gabriel
── De verdade, qual o seu problema? — Pedro perguntou, segurando uma long neck na mão enquanto o tatuador finalizava a tatuagem no meu braço.
── Cara, a gente nem namorava. — Me defendi. ── Solteiro não deve fidelidade, curto cada momento com ela, tenho sim sentimento, mas eu vou ser fiel de graça enquanto ela provavelmente também fica com outros caras?
Pedro respirou fundo e colocou a cerveja sobre a mesa, sentando-se de frente para mim enquanto passava as mãos no rosto.
── Não é porque a Yasmin te meteu chifre à esquerda e à direita que a Helena vai fazer igual, seu traumatizado. — Rebateu alto, e o tatuador parou a tatuagem por um segundo para olhar o surto do meu amigo enquanto eu arregalava os olhos, logo sentindo o cara voltar a furar minha pele. Sophia começou a rir jogada no sofá.
── Uma cena que eu nunca imaginei ver é o Pedro sendo consciente, principalmente em relacionamento. — Ela disse, levantando-se enquanto encarava o celular. ── Tô indo, melhoras para superar a Lê aí, Gab.
── Vai aonde? — Perguntei.
── Sair com ela! — Respondeu como se fosse óbvio, e eu fiquei indignado. ── E com as meninas.
── Você é minha irmã! Tá contra mim?
── Tô!
── A Marina vai? — Pedro a encarou e a mais nova assentiu com a cabeça. ── Onde vocês vão?
── Ah, alguma balada, não sabemos ainda qual. Tchau, babacas, e Gabriel, tomara que o tatuador inflame sua tatuagem para doer bastante em você. — Respondeu saindo, e eu bufei.
As palavras do meu amigo ecoaram pela minha cabeça. Eu projetei nela tudo o que aconteceu na minha última relação e acabei sendo babaca de graça como escudo para caso ela fizesse o mesmo, só que ela não fez.
── Pedro? — Chamei.
── Fala, Cadú.
── Tá doendo. — Falei encarando a parede. ── Vai me chamar de emocionado se eu falar que eu amo ela?
── Vou, mas antes fosse só emocionado, você foi um emocionado babaca! — Respondeu, encarando seu celular. ── Xi, programação pra mim, e você vai junto. É uma chance de ou você sofrer vendo a Helena com outros ou de tentar conversar com ela.
── Do que cê tá falando?
── Elas vão para o Le Revê, essa porra fica na puta que pariu e eu que não sou bobo de deixar a Marina ir sozinha.
Respirei fundo, pensando se deveria ir ou não. Não quero ficar no pé dela, ela precisa de um tempo e tá até certa em se afastar, eu já tentei contato, mas não mudou nada. O que mais me apavora é que ela simplesmente sumiu do mapa, não me removeu das redes sociais ou parou de me seguir, não posta nada, não saiu em página de fofoca e não fez showzinho na internet, inclusive ignorou todas as minhas tentativas de contato e isso já faz uma semana.
── Tá, a gente vai. — Respondi, fechando os olhos.
Ao fechar os olhos, automaticamente me veio na cabeça o olhar dela, a forma como os olhos ficam pequenos quando ela sorri, a cena do nosso primeiro beijo no meio do mar. Foi a mulher mais louca e intensa que eu conheci, ela inclusive deu o primeiro passo de contar o que estava sentindo, nunca fez joguinhos.
Eu saí perdendo, essa é a real. Helena é linda de corpo, rosto e de postura.
── Pronto. — O tatuador falou, e eu encarei a porra do João Frango minúsculo tatuado no meu braço.
Pedro deu uma risada baixa ao ver a tatuagem e balançou a cabeça. Algumas horas se passaram e a essa altura eu já havia me arrumado e meu amigo também, fomos no carro dele. Durante o trajeto até o Le Revê, o silêncio no carro era pesado. Eu tentava ignorar o turbilhão de pensamentos na minha cabeça, mas a cada esquina que passávamos, o arrependimento de ter estragado tudo com a Helena só aumentava.
Quando finalmente chegamos à balada, o som pulsante das músicas e a fila de pessoas na entrada me fizeram perceber que aquela noite seria uma daquelas que ou poderia me afundar ainda mais ou me dar uma chance de consertar tudo.
Scooby me olhou de soslaio enquanto estacionava.
── Última chance de desistir, Medina. — Ele disse, tentando ser sério, mas com aquele sorriso debochado e aquele ar de criança encapetada que ele tem.
── Vou encarar, não tenho nada a perder, né? — Respondi, mais para mim mesmo do que para ele.
Assim que entramos na balada, fomos envolvidos pelo ritmo da música e as luzes coloridas. Olhei ao redor, procurando por ela, mas as pessoas dançando e se divertindo dificultavam a busca. Meu amigo deu um tapinha nas minhas costas e apontou para o bar.
── Melhor a gente pegar uma bebida antes, vai que você precisa de coragem líquida.
Assenti, e fomos até o balcão. Pedro pediu dois shots de tequila e entregou um para mim. O álcool desceu queimando, mas foi o suficiente para me dar aquele impulso inicial. Continuamos ali no bar por um tempo, observando o ambiente. Finalmente, no meio da pista de dança, eu a vi. Helena estava com um grupo de amigas, incluindo Marina e Sophia, e parecia estar se divertindo. Ela ria de algo que uma das meninas dizia, seu sorriso iluminando todo o seu rosto.
Eu congelei por um momento. Ela estava linda, radiante, como sempre. E naquele instante, percebi o quão idiota eu havia sido.
Pedro me cutucou.
── Eu vou atrás da minha mulher, cê vai comigo ficar de vela, tentar se entender com a sua mulher ou vai ficar aqui sozinho? — Cruzou os braços.
Eu bufei.
── Vamos lá.
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lentes no horizonte, gabriel medina.
Fanfic── Aquela lá é a Leninha, filha dos ventos, pior que furacão. Onde passa faz estrago! 01.08.2024