· What we did last summer

94 4 3
                                    


Satoru Gojo

No helicóptero em alta velocidades, brinco com minhas unhas, tentando disfarçar o nervosismo que me domina. Aqui, em meio a esse contexto, meu vício em tecnologia está se mostrando mais forte do que pensei: apenas algumas horas se passaram desde
que meu celular foi confiscado, o que é uma conduta de praxe, e nenhum aluno tem acesso ao aparelho durante o ano letivo;
minhas mãos, no entanto, ainda anseiam pelo pequeno objeto que era minha vida inteira até agora. É como se tivesse perdido um membro.

Sem celular por dez meses. Engulo em seco. Como vou sobreviver a isso? Viro o rosto para o lado, em direção a Calvin. Ele parece muito mais tranquilo, largado no banco, observando o oceano que se estende sob nós até o infinito. Seu rosto não possui um
traço de preocupação sequer quanto ao mundo – talvez tenha esquecido que essa é a razão pela qual estamos indo para o
inferno. Eles contam histórias sobre este lugar. E, além de um site com as informações mais básicas possíveis, histórias são tudo o que somos capazes de conseguir. Meu pai estudou aqui; segundo
ele, foi a experiência mais miserável de sua vida. Hoje ele é Secretário de Estado, então acho que, no fim das contas, a miséria valeu a pena.

Alguns dizem que a academia está localizada bem no centro do Triângulo das Bermudas; outros, que é guardada por sereias e pelo próprio Kraken. É como um culto: os alunos entram no começo do ano, saem no final e nunca mais relatam em detalhes o que passaram lá dentro. Meu avô, que também estudou aqui, disse que, hoje em dia, virou um depósito de delinquentes; de filhos bastardos, rebeldes e desajustados de pessoas ricas que
querem desesperadamente empurrar seu lixo para fora dos holofotes. Ou para debaixo do tapete, pelo menos por um tempo.

Calvin e eu somos exatamente isso: um lixo podre que precisa ser mantido escondido para o bem da vida política de nosso pai. Para ser sincero, se está tão puto pelo que fizemos no verão passado, então deveria apenas nos matar e atirar nossos corpos nesse oceano. Nos pouparia de toda essa tortura.

Nego com a cabeça. Para de ser tão mórbido, Satoru. Se estivesse no lugar do seu pai, você faria a mesma coisa.

Pelo isolamento da ilha, poucas pessoas sabem o que acontece dentro dos limites da Academia Masters ao longo do ano. Sei que só aceita garotos, e que seus métodos de ensino são muitíssimo rigorosos, mas isso é tudo. Talvez seja melhor não saber muita coisa: assim, tudo o que vier pela frente será uma surpresa.

Começo a roer as unhas. Odeio surpresas.

Sigo mirando o oceano, de um azul-escuro profundo. Parece correr sob o veículo em alta velocidade. Uma falha nas engrenagens do helicóptero, um deslize, e ninguém nunca conseguiria localizar nossos corpos.

Então, ergo os olhos.

No horizonte, algo se projeta, rompendo a paisagem até aquele momento plácida e imutada: um castelo.

Suspiro e me afundo no assento. Engulo em seco conforme nos aproximamos.

O castelo está no topo de uma colina, no centro da ilha. É maior do que imaginei; mais intrigante também. Parece uma
falha, uma miragem, uma pincelada de tinta preta sobre uma tela em branco, algo que não deveria existir. Não há nada ao
redor, em todas as direções, além de quilômetros e quilômetros de água. Não há escapatória, e não há misericórdia.

É a Academia Masters, não há como confundir.

Esse é o meu novo lar.

-» Entre neblina e desejo / SatosuguOnde histórias criam vida. Descubra agora