Como um lobo

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O som do meu celular me acordou, e ao ver o nome no visor, um sorriso involuntário surgiu nos meus lábios: era meu pai. Atendi imediatamente, sentindo uma onda de calor e nostalgia. "Oi, filha! Estou com saudade," ele disse, sua voz carregada de carinho e um toque de tristeza. "Quando você pode vir me ver?"

A saudade apertou meu coração como um laço, e eu me lembrei das tardes ensolaradas que passamos juntos, rindo e contando histórias. "Oi, pai! Também estou com saudade. Vou tentar ir no próximo fim de semana," respondi, tentando transmitir o quanto ele significava para mim. O tom da sua voz me fez perceber o quanto ele estava sentindo a minha falta, e isso me deixou inquieta.

Após desligar, a lembrança da noite anterior me invadiu. Eu havia tentado conversar com Lídia sobre Jackson, buscando uma forma de expressar a preocupação que me consumia. Queria convencê-la de que era melhor ficarmos longe dele — a maneira como ele olhava para nós, como se fosse um predador em busca de sua presa, me deixava desconfortável. Mas a conversa não fluiu como eu esperava; ao contrário, havia um clima tenso entre nós.

Lídia parecia defensiva, suas sobrancelhas franzidas e o tom da voz mais baixo do que o normal. "Você está exagerando," ela havia dito, com uma expressão que misturava desdém e preocupação. Isso só aumentou a distância entre nós; eu podia sentir que ela não queria ouvir o que eu tinha a dizer. A tensão pairava no ar como uma nuvem pesada — algo que nunca havia sentido antes em nossa amizade.

Agora, enquanto passava a hora do almoço sozinha na cozinha, minha mente vagava longe do prato diante de mim. O cheiro do arroz e feijão misturava-se com as lembranças dos momentos em família que eu tanto valorizava. Eu estava pensativa sobre meu pai e a saudade que sentia dele; imaginava seu sorriso caloroso ao abrir a porta quando eu chegasse à sua casa.

Olhei pela janela e observei as pessoas passando apressadas na calçada. Cada uma delas parecia tão focada em seu próprio mundo, enquanto eu lutava para entender o meu. A ideia de rever meu pai trazia um conforto imenso, mas também um peso na consciência sobre a situação com Lídia.

Decidi que precisava resolver essa situação com ela antes de qualquer outra coisa. A amizade dela era preciosa demais para mim para deixar que um garoto estragasse tudo. Eu queria recuperar a leveza das nossas conversas e risadas — não poderia deixar Jackson ser uma sombra entre nós.

Com esses pensamentos fervilhando na cabeça, percebi que precisava encontrar coragem para falar com Lídia novamente e esclarecer as coisas antes que se tornassem irreparáveis.

Após decidir que precisava conversar com Lídia, peguei o caminho rumo ao campus. O sol brilhava intensamente, mas meu coração estava pesado, ansioso pelo que poderia encontrar. Enquanto caminhava, revivia as memórias das nossas conversas e risadas, e isso me dava um pouco mais de coragem.

Conforme me aproximava da área de convivência, ouvi vozes elevadas, uma tensão palpável no ar. Acelerando o passo, fui atraída pelo som. Quando cheguei perto, consegui ver Lídia e Jackson em uma discussão acalorada. O olhar de Jackson era cortante, e suas palavras eram carregadas de raiva. "Não se intrometa na minha vida, Lídia!" ele gritava, enquanto segurava os braços dela com firmeza. A expressão dela era uma mistura de desespero e determinação, mas a maneira como ele a apertava me fez sentir um frio na barriga. Algo estava muito errado.

Meu instinto gritou para eu intervir, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Jackson me viu e, num movimento brusco, me empurrou para o lado. Não sei se ele realmente queria me machucar ou se foi um gesto impulsivo da raiva que o dominava. O impacto fez com que eu esbarrasse em uma mesa próxima, e o vaso de vidro que estava lá caiu no chão com um estrondo ensurdecedor. O vidro se estilhaçou em mil pedaços, e um dos cacos cortou meu braço.

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