Me chame de pecador

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Genya andava sobre o vilarejo sem rumo, se questionando se realmente fez a escolha certa. Ele se sentou em uns dos bancos e respirou pesadamente, sentiu um vazio no peito. Mexia os dedos polegares, a saudade é um sentimento angustiante. Escutou alguém se sentar ao seu lado antes de olhar para ver quem seria, percebeu que era o pilar da serpente que havia sentado ao seu lado. Havia recebido uma carta essa manhã e a guardou no bolso sem sequer a ler. Será que era dele?

— Genya, certo? –Murmurou enquanto a cobta passava em seu pescoço.

— Sim... –Sua cabeça se abaixou ainda mais e seus dedos continuaram a se mexer.– o que precisa?

— Ah. –Puxou o ar enquanto colocava as mãos atrás de si– Entre você e o pilar da névoa.

— Não tenho nada a comentar sobre isso. –Ele ergueu suas mãos e cobriu seu rosto com elas.

— Genya, eu sei o que o pilar do vento disse pra você. –Sua voz permaneceu calma e fria, a cobra levantava para olhar para Genya.

— Por que se importa? –Questionou se levantando e o seu lábio inferior tremeu– Ele tá certo de qualquer modo.

— Você pensa isso? –Se levantou logo em seguida e apontando o dedo para as costas dele.– Só se vive uma vez, Shinazugawa.

— Eu não posso deixar Muichiro ir pro inferno... E ainda por minha culpa. –Sua voz estremesseu e logo agarrou o seu peito, sentindo ele queimar.

— E daí?

— Uh?

— E daí que você vai pro inferno, e daí que isso é pecado? –Disse se aproximando de Genya e seu tom de voz ficou mais profundo– Não temos certeza que terá um julgamento no final, vai deixar seu amor ir embora só por causa disso?

— Você acha que eu seria capaz de falar com ele depois de tudo isso? –Sua cabeça se abaixou e colocou a mão na bochecha direita, onde Muichiro lhe deu o tapa.– Isso ainda dói.

— Muichiro vai ficar fraco por causa disso. E também, você não o ama? –Cruzou os braços e se escorou na árvore ali perto.– Pro amor não existe essa coisa de pecado.

— É fácil falar. Você e eu somos diferentes, você é o santo e eu o pecador. –Proferiu ainda em seu tom de voz fraco, ele cerrou os punhos com força.

— Genya. –Ele se aproximou e colocou uma de suas mãos no ombro– Você ainda o ama?

— Amo... –Sua cabeça se levantou e respirou fundo.

— Então o que está esperando? –Seu tom de voz ficou mais impaciente enquanto dava um leve empurrão no mesmo.

— Eu tenho medo. –Sua voz ainda trêmula afirmou em um tom indeciso.

— Medos não vão fazer a gente seguir em frente. –Andou para frente mais um pouco e ficou de costas para o mesmo– pense no que eu disse.

Vendo o hashira sair, sua mente se embolou em uma repleta confusão. O que ele iria fazer? Andou em direção a mansão, ainda confuso sobre o que fazer. Pensando nas palavras de iguro. A chuva de verão se derramava sobre a estrada do vilarejo, molhando cada pedaço de terra do jardim da mansão borboleta. Genya olhava pela janela as gotas escorrendo sobre ela, saberia se dizer que, ainda estava se sentindo horrível e sentindo falta de seu amado. Tinha dúvida se havia feito a escolha certa ou não, mas que essa escolha doía, não era dúvida nenhuma.

O céu se despejava, como se estivesse entristecido. Olhou para a janela uma última vez antes de se levantar para sair, seu coração havia um grande buraco que não podia se preencher. Pensou que talvez fosse algo que iria passar, mas cada vez mais a imensidão dentro dele se estendia. Ele pegou a carta que havia recebido está manhã, que nem sequer leu. Ele a abriu segurando-a firme.

"Não deixe que alguém te diga o que é certo ou errado, vá atrás de seu amor, e não olhe para trás."

Pensou nas palavras de iguro novamente.

"Ir atrás de seu amor"

O que significava? Pensou mais uma vez antes de olhar para a chuva lá fora. Ele sentia tanta falta de Muichiro, será que realmente importava ser pecado ou não? Pois o amor é muito mais que qualquer crença ou fé. Pensando na carta que havia lhe dito e nas palavras de Obanai, uma luz parecia ter surgido, algo novo a se tentar...

Viver ou não viver...
Amar ou não amar

"Eu escolho a primeira opção"

Foi em direção a porta de saída, e a abriu. Seu coração estava acelerado, o que aconteceu? Ele nem sabia explicar, mas não queria ficar sozinho novamente.

— Genya, aonde vai com essa chuva? –Kocho perguntou indo até ele com uma expressão surpresa.

— Vou atrás daquilo que nem deveria ter deixado. –Falou olhando para fora e logo olhou para a mesma novamente.

— Você não pode ir com essa chuva, vai ficar doente desse jeito! –Pegou em seu ombro, ainda com uma expressão surpresa.

— Agradeço a sua preocupação, Kocho. –Ele retira a mão dela com delicadeza de seu ombro e a aperta levemente.– Mas agora, é eu quem vai fazer um novo objetivo.

Ele se virou de costas e deu um longo suspiro, e correu para dentro da chuva. A água caía por todo seu corpo e sentia as gotas frias escorrendo sobre sua pele, fazendo leves arrepios na espinha. Agora tinha um novo objetivo, agora, se tinha feito a escolha certa ou errada não sabia. Ele parou de correr por alguns instantes e logo olhou para debaixo de uma árvore que estava ali.

— Genya! –A voz doce e suave ecoou sobre o local como um rugido de um leão.

— Muichiro! –Gritou correndo até o mesmo com toda velocidade.

Os dois corriam na direção um do outro, as lágrimas eram levadas pelas gotas de água da chuva. Quando finalmente estavam perto um do outro, Genya deu um forte abraço nele. Segurando-se que agora finalmente estava tudo bem.

— Genya...

— Eu senti tanto a sua falta. –Seu aperto aumentou, e seu coração começou a acelerar.

— E-Eu também. –Retribuiu o abraço e logo olhou para o maior.

— Me desculpe por ter te deixado. Eu não queria isso, de verdade. –Seu tom de voz era choroso, e as lágrimas ainda eram levadas pela chuva.

— V-Você disse...

— Sim, eu disse. Mas se te amar for pecado. –Ele se afasta do abraço e olha profundamente em seus olhos azuis e abre um sorriso fraco– Quero que me chame de pecador. Se te amar for um crime, me chame de criminoso.

— Ah... –Seu rosto se curvou em um sorriso tímido e alegre. E ele afundou a sua cabeça em seu peito– Prometa uma coisa. Vamos ficar juntos até o fim?

— Vamos ficar juntos até na nossa próxima reencarnação. –Deu-lhe um abraço apertado, e sorriu.– Não vou me importar com o que as pessoas falam.

— Genya! –Seu sorriso se alargou– Eu vou te amar... Como um idiota ama.

Pensamentos e fés não importavam mais, agora a única coisa que queria mais que nunca seria amar esse garoto de cabelos bicolores e olhos oceânicos. Profundos como o mar e belo como uma dança na chuva. O amor se espalha de forma espontânea sobre o local chuvoso.

Suas esperanças eram baixas, porque essas pessoas são tão velhas. Mas pelo menos, sabia que agora não estava sozinho.

"Eu nunca estive sozinho."

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