9 anos de idade
Meu rosto estava contra o travesseiro enquanto meu irmão secretamente tratava minhas feridas. O remédio se misturava com suas lágrimas salgadas e seus soluços. Ele pediu perdão por se machucar, prometeu-me que nunca mais cairia. Mas eu sei que é mentira, diferente de mim ele pode brincar, chorar e errar.
Se eu fosse normal, eu também poderia?
— Karl, onde você está?
A voz doce da minha mãe ecoou, logo pude ouvir o som de seus saltos pisando devagar, degrau por degrau, ela adentrava cada vez mais no porão.
— É melhor você ir, se a mamãe te vê aqui vai ficar furiosa comigo. — digo apressado. — Vá rápido! Se esconda!
— Eu sabia que estava aqui. — a mamãe apareceu, com um sorriso dócil. — Você sabe que não pode entrar aqui, Karl.
— Mamãe, eu quero dormir aqui com o meu irmão! — exclamou Karl, irritado.
— Você tem a saúde frágil. E nós já conversamos várias vezes sobre dormir aqui. Suba agora, filho.
Ele correu do meu quarto emburrado, deixando-nos sozinhos.
— Por que ele insiste em dormir aqui?
— Eu não sei, mamãe, ele...
— Não sabe? Aposto que tem seduzido ele com esse seu jeito educado. E lembre-se de não me chamar de mãe quando estivermos sozinhos. — deu as costas para mim. — Eu jamais teria dado à luz a um monstro.
Desviei o rosto, sentindo meu rosto queimar.
Vergonha e raiva ferviam dentro de mim. Esses eram os únicos sentimentos que eu conhecia bem.
— Prepare-se está noite, irei te punir, por estar obrigando Karl a vir nesse lugar imundo tratar suas feridas.
Eu não o obriguei.
— Fique sem roupa me esperando.
Ela vai fazer aquilo de novo?
Eu não quero.
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𝐀𝐒𝐒𝐎𝐌𝐁𝐑𝐀-𝐌𝐄
Diversos𝐖𝐢𝐥𝐥𝐢𝐚𝐦 carrega o peso de um legado sombrio: filho de um notório assassino em série, sua existência é marcada pelo estigma e pela suspeita. Em um cenário em que todos o vê como uma extensão dos crimes de seu pai, ele se blindou contra o mundo...