XXVIII - As Crianças Matam Por Seu Pai

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"Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz

E você
Era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país"

João e Maria - Chico Buarque

Os dois retornavam para casa, caminhando lentamente como se estivessem com medo de deixar os sentimentos no asfalto molhado

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Os dois retornavam para casa, caminhando lentamente como se estivessem com medo de deixar os sentimentos no asfalto molhado. Ayla virou-se para ele e seus olhos brilhavam como naquele dia, quando se abriram pela primeira vez. Lúcifer sorriu singelamente, retirando uma mecha de cabelo molhado do rosto de Ayla e vendo um filme passar por sua cabeça.

Já fazia vinte e três anos...

13/07/2001 - 08:00 AM - Hospital de Caridade de Serrana do Sul - Rio Grande do Sul, Brasil.

O lugar parecia limpo e a equipe médica bem atenciosa. Não tinha um fluxo muito grande de pessoas, o que era ótimo para evitar a circulação de vírus indesejados.

Ele entrou pela porta branca e o cômodo que cresceu diante de si era inteiramente dessa cor, a não ser pelos adesivos e desenhos infantis nas paredes que denunciavam para o que era aquela sala.

Nela, apenas uma mulher loira dormia profundamente em uma das camas. Ela parecia exausta, com olheiras profundas abaixo dos olhos e bastante pálida.

Ela respirava tranquilamente escondida embaixo de alguns cobertores, deixando apenas o braço que recebia o soro para fora.

Ele deu as costas para ela e caminhou até a estrutura de plástico que simulava um berço. Dentro, um bebê recém nascido dormia seu primeiro sono fora do útero da mãe.

Ele observou o serzinho, intrigado, pois era tão pequeno e delicado. A pele estava rosada e quase camuflava o bebê na coberta rosa que o aconchegava.

Ele tocou na plaquinha anexada ao berço e leu o nome do bebê com atenção.

— Olá, pequena Ayla — ele sorriu e passou dois dedos carinhosamente pela cabeça delicada da bebê. Ela se revirou no berço e uma de suas mãozinhas agarrou o dedo dele. — Eu irei te proteger desse mundo cruel em que você nasceu.

Quando finalmente Helena pode voltar para a casa com Ayla, a primeira coisa que ele percebeu foi que aquele lugar era perigoso demais para uma criança.

Principalmente por conta da escada e pelo fato de que o segundo "andar" era só um corredor ligando as portas, portanto existia um perímetro extenso com um grande risco de queda.

Uma irmã do pai de Ayla se propôs a ajudar Helena, mas a loira não parecia muito feliz com a presença dela e as duas discutiam o tempo todo, ou pelo menos os momentos em que Helena não estava dormindo profundamente.

A loira sofreu com uma série de anemias depois de dar à luz e precisou fazer um tratamento intensivo de reposição de vitaminas, então ela não podia amamentar e passava quase o tempo todo adormecida por conta da anemia.

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