"Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser felizE você
Era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país"João e Maria - Chico Buarque
Os dois retornavam para casa, caminhando lentamente como se estivessem com medo de deixar os sentimentos no asfalto molhado. Ayla virou-se para ele e seus olhos brilhavam como naquele dia, quando se abriram pela primeira vez. Lúcifer sorriu singelamente, retirando uma mecha de cabelo molhado do rosto de Ayla e vendo um filme passar por sua cabeça.
Já fazia vinte e três anos...
13/07/2001 - 08:00 AM - Hospital de Caridade de Serrana do Sul - Rio Grande do Sul, Brasil.
O lugar parecia limpo e a equipe médica bem atenciosa. Não tinha um fluxo muito grande de pessoas, o que era ótimo para evitar a circulação de vírus indesejados.
Ele entrou pela porta branca e o cômodo que cresceu diante de si era inteiramente dessa cor, a não ser pelos adesivos e desenhos infantis nas paredes que denunciavam para o que era aquela sala.
Nela, apenas uma mulher loira dormia profundamente em uma das camas. Ela parecia exausta, com olheiras profundas abaixo dos olhos e bastante pálida.
Ela respirava tranquilamente escondida embaixo de alguns cobertores, deixando apenas o braço que recebia o soro para fora.
Ele deu as costas para ela e caminhou até a estrutura de plástico que simulava um berço. Dentro, um bebê recém nascido dormia seu primeiro sono fora do útero da mãe.
Ele observou o serzinho, intrigado, pois era tão pequeno e delicado. A pele estava rosada e quase camuflava o bebê na coberta rosa que o aconchegava.
Ele tocou na plaquinha anexada ao berço e leu o nome do bebê com atenção.
— Olá, pequena Ayla — ele sorriu e passou dois dedos carinhosamente pela cabeça delicada da bebê. Ela se revirou no berço e uma de suas mãozinhas agarrou o dedo dele. — Eu irei te proteger desse mundo cruel em que você nasceu.
Quando finalmente Helena pode voltar para a casa com Ayla, a primeira coisa que ele percebeu foi que aquele lugar era perigoso demais para uma criança.
Principalmente por conta da escada e pelo fato de que o segundo "andar" era só um corredor ligando as portas, portanto existia um perímetro extenso com um grande risco de queda.
Uma irmã do pai de Ayla se propôs a ajudar Helena, mas a loira não parecia muito feliz com a presença dela e as duas discutiam o tempo todo, ou pelo menos os momentos em que Helena não estava dormindo profundamente.
A loira sofreu com uma série de anemias depois de dar à luz e precisou fazer um tratamento intensivo de reposição de vitaminas, então ela não podia amamentar e passava quase o tempo todo adormecida por conta da anemia.
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Meu Diabo Particular
Misterio / SuspensoE se o próprio Lúcifer fosse seu anjo da guarda? Ayla, uma gaúcha que nunca saiu do próprio estado, viveu as primeiras décadas de sua vida sob o olhar protetor de seu exótico anjo da guarda: o próprio Diabo. Mas, com o surgimento de uma ameaça imine...