Memórias recentes

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Os irmãos sentiram o desespero invadi-los novamente ao ouvir um grito vindo de uma casa próxima. A voz, carregada de ódio e desprezo, os atingiu como um golpe certeiro: "SAIAM DAÍ! VÃO NOS CONTAMINAR COM O VÍRUS! SUMAM LOGO, SEUS INÚTEIS! JÁ NÃO SERVEM PARA NADA, PELO MENOS FAÇAM O FAVOR DE NOS DEIXAR EM PAZ!"

O impacto das palavras foi instantâneo. Apavorados, com o coração acelerado e quase em lágrimas, os irmãos recolheram rapidamente as poucas compras que haviam feito e saíram correndo, como se a própria sombra os perseguisse. Após alguns minutos, sem direção, encontraram uma rua sem saída, deserta e esquecida pelo tempo. Lá, no fim daquela rua solitária, eles se permitiram desabar, sentando-se no chão frio.

Luke, com os olhos marejados, quebrou o silêncio: "Me desculpem... Eu só queria que tivéssemos um lugar para chamar de lar. Sinto tanto por não conseguir... Me perdoem, por favor."

Claire, já cansada de carregar o peso da situação, tentou confortá-lo: "Luke, não é culpa sua. Você fez o que pôde. Não é, Hony?"

Honyer, com uma expressão de dor no rosto, assentiu: "Sim, Luke. Isso não é algo que você provocou. Você não precisa pedir perdão por algo que está fora do seu controle."

Mas as palavras de consolo pareciam não alcançar Luke, que deixou as lágrimas escorrerem livremente pelo rosto. De repente, uma ideia surgiu em sua mente, e ele, enxugando os olhos com as costas da mão, murmurou: "Eu acho que podemos fazer algo..."

"O que, Luke?" Honyer perguntou, tentando entender o que o irmão estava pensando.

Luke apertou os olhos, como se estivesse se preparando para enfrentar a própria incerteza. "Eu... acho que conheço um lugar onde posso ficar. Se eu der tudo o que tenho para vocês, podem se virar sem mim. Eu posso ajudar vocês a sobreviver."

Honyer franziu a testa, confuso e preocupado: "Mas não podemos te deixar sem nada. E se algo der errado?"

"Eu me viro," Luke respondeu, tentando soar confiante, mas a hesitação era evidente.

"Certeza?" insistiu Honyer, agora com a voz trêmula.

"Não... mas eu garanto que vocês terão uma chance," Luke respondeu, a voz falhando de leve.

Claire, tentando encontrar uma saída naquela situação desesperadora, concordou: "Podemos tentar... Mas se der errado, acabaremos todos perdidos, Luke."

"Eu sei," ele sussurrou, sabendo que a esperança era tênue, mas ainda assim, era tudo o que lhes restava.

Luke estendeu o dinheiro para os irmãos, tentando manter a voz firme. "Fiquem com o que compramos hoje, e com o dinheiro," disse, forçando um leve sorriso. "Eu não queria que chegasse a isso, mas sabia que, cedo ou tarde, teríamos que seguir por caminhos diferentes. Esse momento chegou."

Claire sentiu os olhos se encherem de lágrimas, mas ela segurou o choro, inspirando fundo. "Luke, só... nos avise, tá? Queremos saber como você está, sempre que puder."

Luke assentiu, com um olhar determinado. "Sempre que precisarem me encontrar, estarei no bairro de Solaika. Não importa a distância, a gente vai dar um jeito." Ele deu um passo para trás, mas não com tristeza, e sim com a esperança de que, apesar de tudo, essa separação os tornasse mais fortes.

Um dia se passa, e Luke se encontra deitado na cama mais macia que já sentiu em sua vida. Ele se senta devagar, ainda confuso, enquanto tenta lembrar-se dos acontecimentos recentes. Na noite anterior, ele havia se ajoelhado ali mesmo, desesperado, implorando por ajuda. Apesar de Butter já ter feito o possível, Luke insistiu em agradecer-lhe por todo o carinho e apoio. Butter era sua única esperança, o amigo que restava.

Perdido em seus pensamentos, Luke é trazido de volta à realidade por uma batida na porta do quarto.

— Quem é? Pode entrar — diz Luke, a voz ainda embargada pela manhã.

A porta se abre, e um homem entra em silêncio, deixando uma bandeja com café na cama antes de sair, sem dizer uma palavra.

— Obrigado... — Luke murmurou, olhando para a porta que se fecha. A falta de resposta o deixa com a sensação de um diálogo inacabado.

Após comer rapidamente, Luke se apressou a sair do quarto, percebendo que estava imóvel há muito tempo. Ao abrir a porta, dá de cara com Butter, que está parado ali, com os olhos cansados e o cabelo desgrenhado.

— Bom dia, Luke. Como foi a noite? — pergunta Butter, a voz arrastada pelo sono.

— Bom dia, Butter. Bem, foi difícil dormir... Ainda me preocupo com meus irmãos. Mas, deixando isso de lado, o conforto, a comida... foi tudo ótimo. Muito obrigado por tudo. Sinceramente, não sei como te agradecer o suficiente. O que posso fazer para retribuir?

— Não se preocupe com isso, Luke. Conversaremos mais tarde sobre isso. Fico feliz que tenha tido uma noite confortável. Desejo boa sorte para seus irmãos. Tenho certeza de que eles estão se cuidando bem — diz Butter, esboçando um sorriso.

— A-ah... sim, claro... Eles vão ficar bem — Luke responde, sentindo-se envergonhado. A calma inabalável de Butter o deixa sem jeito, sem saber como reagir na maioria das vezes.

A Última Investigação: Desvendando a Própria MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora