BEBÊ

25 7 25
                                    


Eu não coloquei expectativas na maternidade. Quando meu filho nasceu, esperava as dificuldades usuais: noites sem dormir, fraldas intermináveis, choros incontroláveis. Mas o que ninguém me disse é que o choro do meu bebê seria diferente.

Ele não parava. O som agudo ecoava pela casa, um lamento constante que parecia vir das profundezas da sua pequena alma. Dia e noite, seus gritos não cessavam. Eu tentava de tudo: niná-lo, cantar para ele, trocar suas fraldas, alimentá-lo. Nada funcionava. O desespero começou a tomar conta de mim. As olheiras profundas sob meus olhos eram um testemunho das noites insones.

Naquela noite, exausta e desesperada, eu fiz o que qualquer mãe faria: fui à internet em busca de respostas. Entre fóruns e artigos médicos, um site chamou minha atenção. Era simples, com um fundo preto e letras vermelhas, como se alguém o tivesse feito às pressas. O título prometia uma solução para o meu problema: um "feitiço" que acalmaria o bebê.

Eu hesitei. Não sou uma pessoa supersticiosa, nunca acreditei em magia ou coisas do tipo. Mas naquela hora, sozinha, com o som incessante do choro de meu filho cortando o silêncio da noite, eu estava disposta a tentar qualquer coisa.

Segui as instruções à risca. Recolhi os ingredientes simples que a página indicava: uma vela branca, uma fita vermelha, e um pouco de água de uma fonte natural. A parte final era a mais estranha: eu deveria pingar uma gota do meu sangue na água enquanto murmurava o nome do meu filho.

Quando terminei, o choro cessou instantaneamente. Por um momento, tudo parecia normal. Olhei para o berço e vi meu bebê dormindo tranquilamente, a paz em seu rosto tão diferente das últimas semanas. O alívio que senti foi indescritível.

Mas a tranquilidade não durou. Naquela mesma noite, eu acordei de um pesadelo horrível. No sonho, meu bebê estava sendo levado por sombras que sussurravam palavras que eu não compreendia. Acordei com um sobressalto, o coração disparado. O quarto estava escuro, exceto por um brilho fraco vindo do berço.

Levantei-me, trêmula, e caminhei até lá. O brilho não era normal. Era como se uma luz fria emanasse de dentro do meu filho. Quando me aproximei, vi seus olhos abertos, mas não eram os mesmos olhos que eu conhecia. Eles estavam completamente negros, como se o vazio o tivesse possuído.

Recuei, assustada. O bebê abriu a boca, mas o choro que veio não era humano. Era um som gutural, profundo, que fez meu sangue gelar. Naquele momento, percebi o erro que havia cometido. Aquele feitiço não tinha acalmado meu filho. Tinha trazido algo para dentro dele, algo que não pertencia a este mundo.

Nos dias seguintes, a situação só piorou. Meu filho não chorava mais como antes, mas o silêncio era ainda mais perturbador. Ele me observava com aqueles olhos negros, seguindo cada movimento meu. Às vezes, eu o encontrava em lugares onde não o tinha deixado, como se ele pudesse se mover sem que eu percebesse.

Na terceira noite, acordei com uma sensação de sufocamento. Quando abri os olhos, vi o rosto do meu filho bem próximo ao meu. Seu sorriso era largo, inumano, e seus dentes – que ele ainda nem deveria ter – eram afiados como lâminas.

Eu gritei, empurrando-o para longe. Ele caiu no chão, mas se levantou rapidamente, como se nada tivesse acontecido. Aquele não era mais o meu bebê. Algo havia tomado seu lugar, algo terrível e antigo.

Eu não sabia o que fazer. A cada dia que passava, sentia que estava perdendo a minha sanidade. As pessoas ao meu redor percebiam que algo estava errado, mas como eu poderia explicar? "Meu bebê foi possuído por algo que invoquei sem querer?" Ninguém acreditaria em mim. Eu não acreditaria se não estivesse vivendo aquilo.

Então, uma noite, ouvi um sussurro. Era uma voz feminina, suave, mas cheia de malícia. "Você abriu a porta", ela disse. "Agora, não há como fechá-la."

Eu corri até o berço, desesperada. Quando cheguei, ele estava vazio. O desespero tomou conta de mim. Procurei por toda a casa, mas não o encontrei. Foi só quando ouvi a risada – aquela risada distorcida, que não poderia vir de um bebê – que percebi que ele não estava mais em lugar algum. Pelo menos, não em um lugar que eu pudesse alcançar.

Eu não coloquei expectativas na maternidade. Mas agora, percebo que deveria ter colocado um limite. Porque, quando você abre a porta para o desconhecido, nunca sabe o que pode entrar. E, às vezes, o preço é muito mais alto do que você poderia imaginar.

***




Imagem meramente ilustrativa:

Imagem meramente ilustrativa:

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.



REDOMA CREEPYOnde histórias criam vida. Descubra agora