Aviso: Possíveis gatilhos para os mais sensíveis; caso sinta-se desconfortável, pode pular o capítulo sem prejuízo ao contexto da história principal. Resumo disponível ao final.════════ ××× ════════
15/01/2015, 18:12 (8 anos atrás)
Uma rua estreita, cercada por árvores frondosas, cuja copa fechava-se sobre nós, quase sufocando a pouca luz dos postes. O ambiente era quase sombrio, envolto em um silêncio inquietante, quebrado apenas pelo ronco do motor do carro. A janela entreaberta deixava entrar uma brisa gélida, que cortava meu rosto como navalhas invisíveis, trazendo consigo o odor penetrante das camélias, flores típicas daquela região. A calma que reinava no exterior contrastava brutalmente com a tensão dentro do veículo. Um cenário perfeito para uma discussão.
— Eu não entendo como você consegue tirar notas tão baixas, [Nome]! Você não tem outra obrigação! — meu pai vociferava, com o rosto contorcido de irritação enquanto mantinha as mãos firmes no volante. Minha mãe, sempre tão serena, apenas intervia ao final, com sua voz doce e apaziguadora.
— Ela ainda é uma criança. [Nome], vai melhorar, certo? — perguntou minha mãe, mais como uma afirmação do que como uma dúvida. Assenti de forma quase automática, ainda abalada pela situação, meus olhos marejados, prestes a transbordar. Sabia que lágrimas eram a fraqueza de meu pai.
Ele suspirou, agora mais controlado.
— Eu sei... — disse, num tom mais baixo, quase murmurando. — Mas não quero mais ver notas baixas. Vou tentar estar mais presente nos seus estudos. O pai está apenas estressado... Como puderam cortar a estrada principal justamente no trajeto da empresa?
— Bem que te avisei que valia mais a pena deixar o casaco para trás. — minha mãe retrucou, já o mais velho apenas bufou em resposta.
A estrada parecia se estender infinitamente, reta, com pequenas curvas e lombadas. De repente, uma luz intensa surgiu à nossa frente, como um raio de sol em meio à escuridão. Ela se aproximou rapidamente, cada vez mais ofuscante, até que tudo se apagou.
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O caos invadiu minha mente. Gritos estridentes se misturavam ao som abafado de tiros. Meu corpo tremia incontrolavelmente, congelado de terror. O pânico tomou conta quando ouvi os gritos de minha mãe, tão agudos e cheios de dor, ecoando na escuridão. Ela foi a primeira a sucumbir, arrancada de mim de forma brutal, sem sequer ter a chance de se despedir. Dois homens de silhuetas indistinguíveis a agarraram pelos cabelos, iniciando ali o fim de sua vida.
— Deixem minha filha fora disso! — foram as últimas palavras de meu pai, pronunciadas com uma desesperança mortal, antes de ser alvejado sem piedade.
Eu me encolhi atrás dos bancos, paralisada, sem conseguir fazer nada. O que aconteceu comigo depois, não sei ao certo. As imagens de meus pais contorcendo-se de dor até morrem no sofrimento ficaram gravadas em minha mente, corroendo o que restava de minha infância.
Tudo se transformou em uma mancha borrada na minha memória. Mais tarde, minha psiquiatra me explicaria que isso era resultado do trauma.
— Uma criança! Encontrei uma criança! — a voz de um homem fardado ecoou na minha mente, tentando me arrancar do torpor. — Agora você está a salvo, querida. — Sua expressão mudou drasticamente quando seus olhos recaíram sobre mim, reconhecendo imediatamente a ligação entre mim e os corpos ausentes de meus pais.
O trauma me envolveu como uma sombra, permitindo que eu chorasse apenas quando olhei ao redor e percebi a extensão do horror. Não havia corpos, apenas um carro virado, com as portas escancaradas. Cacos de vidro e pequenas poças de sangue, já meio secas, eram tudo o que restava. Aquela cena era diferente do que eu recordava, mas o que eu sabia?
— Sua família, querida? — perguntou o bombeiro, mas nenhuma palavra saiu da minha boca.
— Ren, leve a criança para a ala médica antes que os jornalistas cheguem. — Ele suspirou, derrotado. — Que azar ser filha daquele casal.
— Silêncio, ainda não sabemos de nada. — rebateu outro, mas as palavras soaram ocas, como se fossem parte de um diálogo ensaiado, destinado a se desintegrar no ar.
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16/02/2015
— Não entendo por que o tribunal está arrastando tanto esse julgamento. Deus, proteja minha família. — minha avó murmurava entre os dentes, seu rosto abatido pela tristeza.
— É um caso complicado sem os corpos. O mais provável é que decretem como um acidente. — respondeu meu avô, que ainda estava vivo naquela época.
— Isso é uma farsa!
Meus dias tornaram-se uma prisão, confinada no quarto, com visitas diárias de psiquiatras e policiais. Era coisa demais acontecendo ao mesmo tempo, e eu só queria meus pais de volta. Queria poder abraçá-los, brincar com eles, estar com eles. Tudo havia mudado, e uma criança como eu não conseguia expressar, tampouco entender, o turbilhão de emoções que me consumia. Rina, minha amiga, ligava todos os dias. Sua inocência infantil era um raio em meio ao desespero, mas mesmo assim, atendi poucas vezes.
Sentia que o tão esperado dia do tribunal, pelo qual minha avó tanto ansiava, não traria a alegria que eu precisava.
"Eu só quero a mamãe e o papai."
...
Resumo: O capítulo fala sobre a experiência traumática vivida pela [Nome] durante uma viagem de carro com seus pais. Enquanto discutiam sobre as notas da criança, a família sofre um acidente. Após o acidente, ela presencia de forma confusa e dolorosa a violência que resulta na morte de seus pais, atacados por dois homens. Ela é encontrada em estado de choque por socorristas, mas a cena ao seu redor parece diferente do que ela lembra. Com o tempo, a criança lida com o luto e o impacto psicológico do ocorrido, enquanto seus avós enfrentam a frustração com a lentidão do processo judicial relacionado ao caso, devido ao desaparecimento dos corpos. Ao longo de tudo, a [Nome] só deseja ter seus pais de volta.
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𝐃𝐚𝐠𝐠𝐞𝐫 - 𝐊𝐚𝐠𝐞𝐲𝐚𝐦𝐚 𝐱 [𝐍𝐨𝐦𝐞]
Fiksi Penggemar𝗞𝗔𝗚𝗘𝗬𝗔𝗠𝗔 𝗫 𝗟𝗘𝗜𝗧𝗢𝗥𝗔 Em busca de mudanças e respostas, [Nome] retorna à sua cidade natal, sem saber que o que a aguarda vai muito além de meras recordações. O que começa como um romance juvenil, logo se transforma em um envolvente mist...