O Diário de Kessie - Entre dois Mundos

Sem Noticias

Querido diário, a minha vida mudou completamente depois dele. Eu desejava apenas paz depois de tudo que vivi, mas de alguma forma, eu só desejava saber o que se passava na mente dele. Era como se eu estivesse presa em um labirinto, e cada passo que dava só me levava de volta para mais perguntas. A confusão me consumia.

Estava tarde e eu e Lidia estávamos no bar perto de Cornell. Ela estava bêbada e eu já estava no mesmo caminho. As risadas e as músicas altas tentavam me distrair, mas a imagem de Alex não saía da minha cabeça. "Vamos brindar à liberdade!", Lidia exclamou, levantando seu copo. Eu sorri forçosamente, tentando me convencer de que estava tudo bem, mas a verdade era que a bebida era apenas uma maneira de esquecer Alex e como ele me tratou na C4.

Decidi que precisava sair um pouco do bar e fui até os fundos para esperar na fila do banheiro. O ar fresco lá fora era um alívio momentâneo, mas logo percebi que minha mente continuava agitada. Enquanto esperava, escutei vozes altas vindo do beco ao lado.
"Você não pode simplesmente fazer isso! Aquele cara não é de confiança!" dizia uma voz masculina, cheia de raiva. Meu coração disparou ao reconhecer os mesmos caras da C4. Eles estavam discutindo sobre algo sério, algo que podia ser perigoso.

Mas antes que eu pudesse pensar em voltar para dentro do bar ou me afastar dali, senti uma mão em meu ombro. Quando me virei, deparei-me com uma garota desconhecida.
"Ei! Você está bem? O que está fazendo aqui sozinha?" ela perguntou com um olhar preocupado.

Eu hesitei por um momento, mas a intensidade da situação me fez perceber que talvez precisasse de alguém ao meu lado agora. "Estou... só esperando o banheiro," respondi, tentando parecer despreocupada.
Ela franziu a testa, olhando em direção ao beco. "Acho que você deve ter cuidado. Esses caras não parecem bons."

"Provavelmente são piões do cartel," a moça diz, sua voz carregada de preocupação.
"Cartel?" eu pergunto, tentando processar a informação. A última coisa que eu queria era me envolver com algo tão perigoso.
"Sim. Aqui em Nova York, é bem comum. Eu não sei muito sobre isso, mas sei que eles fazem alguns favores," ela continua, olhando para o beco como se estivesse avaliando cada movimento. "Mas você precisa ter grana."

"Eu já ouvi isso antes," eu falo, lembrando de conversas passadas e de como essas histórias sempre pareciam tão distantes da minha realidade.
"Como?" a moça pergunta, curiosa.
"Deixa pra lá, obrigada," digo, decidida a não me aprofundar mais. Saio do beco e entro no bar novamente, sentindo o som da música e as risadas me envolverem como um abraço acolhedor. A luz fraca e as vozes altas pareciam me proteger do mundo lá fora.

Assim que voltei para a mesa de Lidia, ela estava rindo alto com um grupo de caras que acabaram de chegar. Eu não queria mais pensar no cartel ou nos piões; apenas desejava aproveitar aquele momento de distração.
"Você demorou! O que aconteceu?" Lidia perguntou com um sorriso bobo no rosto, já com outro copo na mão.
"Ah, só conversei com uma garota sobre... nada importante," respondi, tentando disfarçar minha inquietação.

Ela deu uma piscadela. "Nada importante? Ou você encontrou algum príncipe encantado no beco?"
Ri, mas minha mente ainda estava longe dali. Enquanto observava os caras ao redor, não consegui deixar de pensar no que a moça havia dito.

Os dias se passaram e a ausência de Alex pesava como uma sombra sobre mim. Eu tentava seguir em frente, mas a lembrança de seu toque ainda dançava em minha pele, como se ele houvesse deixado uma marca indelével. Sempre que fechava os olhos, era como se eu pudesse sentir a pressão de suas mãos, o calor de seu corpo próximo ao meu. A vida continuava ao meu redor, mas parecia que eu estava presa em um instante que não conseguia deixar para trás.

Cris aparecia com frequência, sempre gentil, com aquele sorriso fácil que iluminava o ambiente. Ele me cumprimentava com um aceno e um "Oi, como você está?" que soava quase como um ritual. Mas havia algo em seu olhar que me fazia sentir que ele queria dizer mais, algo que ele se segurava para não revelar. Era um misto de preocupação e interesse, e eu não sabia como lidar com isso. Às vezes, me pegava pensando se ele estava apenas sendo um amigo ou se havia algo mais por trás da sua gentileza.

Depois daquela noite no bar, comecei a notar detalhes ao meu redor que antes passavam despercebidos. As pequenas coisas começaram a se destacar: conversas sussurradas em corredores, olhares furtivos entre pessoas que pareciam conhecer segredos uns dos outros. E então veio o mais intrigante: reuniões secretas em Cornell entre o diretor e o pai de Alex. Eu os via entrando em uma sala reservada, suas expressões sérias e concentradas falavam mais do que palavras poderiam expressar.

Certa noite, enquanto passava na frente do prédio da C4, uma cena estranha chamou minha atenção. Havia uma fila de pessoas aguardando para entrar, cada uma delas com uma expressão de ansiedade misturada com expectativa. O lugar emanava uma aura de mistério; as luzes piscavam e a música alta ecoava pela rua deserta. O que acontecia lá dentro? A curiosidade me consumia, mas também havia um receio latente — o tipo de lugar onde segredos podiam ser guardados e vidas poderiam ser mudadas para sempre.

Com o passar dos dias, minha mente continuava presa à mesma pergunta: será que Alex estava bem? A incerteza me atormentava. Eu queria saber se ele ainda pensava em mim, se estava seguro ou se havia se envolvido em algo perigoso demais para voltar atrás. As imagens dele surgiam na minha mente como flashes: seu sorriso despreocupado, seu olhar intenso quando me dizia algo importante. Cada memória era um lembrete do quanto eu sentia falta dele.

Querido diário, assim eu seguia, mergulhada em pensamentos confusos e sentimentos contraditórios, enquanto o mundo ao meu redor girava cada vez mais rápido.