" Encarei o lado de fora da janela em silêncio, me sentindo cansado...
Pensei em ficar deitado mais um pouco, não conseguia ter coragem para me levantar, mas ouvi a TV lá em baixo, passando aquele mesmo programa chato de corrida de cavalo...
Meu corpo cansado se ergueu com dificuldade, quase cedi a deitar de volta.
Meus passos quase ecoavam pela casa, enquanto meus pés se apoiavam pelos degraus da escada caminho abaixo.
A luz forte da grande janela da cozinha incomodou meus olhos, que vão logo até minha mãe, o sorriso dela parecia forçado.
Murmurei baixinho, ainda meio adormecido. - "Mamãe...?"
- "Bom dia bebê... Dormiu bem?" - Mamãe pergunta, se agachando na minha altura.
- "Não... Não consegui dormi..."
- "Ah, meu filho... Depois a gente pode resolver isso, tá? Eu vou te pedir um favor..."
- "... Qui foi?"
- "Seu pai... Ele tá bebendo bastante esses dias, você mesmo percebeu"
- "Uhm... Ele também fede..."
Mamãe ri, com tom um pouco falho. - "Eu sei, mas só diga isso pra mim, tudo bem?"
- "Mhm..."
- "O que eu queria te pedir é pra você falar com o seu pai, ele não tá sendo muito legal comigo , mas ele gosta muito de você, então vai te responder... Pode fazer isso pra mim?"
- "Tá booom..." - Assenti e me dirigi para a sala, notando a escuridão das cortinas fechadas, enquanto o som do ventilador era quase tão alto quanto a TV.
Assim que vi papai estirado no sofá, meus pés pareceram ficar presos no chão.
- "Papaii... Mamãe perguntou se tá b-"
- "Meu menino...! Pode fazer um favor pro seu velho aqui. Vai na vendinha e pega minhas garrafas hein?" - Papai murmurou, incoerente, e me deu algumas notas velhas. E eu só decidi melhor a não questionar, então apenas saí.
Me lembra que mamãe sempre diz que entender o que papai fala é meu dom especial.
Sorri e passei pela cozinha; quando vi mamãe distraída, então resolvi não atrapalhar já que ela parecia estar no telefone.
Peguei o banquinho perto da porta e levantei para levar até de baixo do porta chaves, e procurei...
- Chave da moto... chave do quarto... Chave da casa! - Peguei a chave pelo chaveiro de abelhinha que mamãe colocou.
Dei três voltas na chave, e assim que abri a porta senti o vento frio levar poeira para meus olhos.
- "Aii..." - Cocei os olhos fechados enquanto continuei a andar, familiarizado com o caminho.
Olhei para um lado e o outro da rua, na pontinha da calçada; mas só foi o tempo do primeiro tom elevado ressonar.
- "Ei menino! Vai lá na sua vó também! Ajudar em alguma coisa lá, tua mãe mandou." - Papai resmungou no final, e bateu a porta com força.
Olhei para os dois lados de novo, ainda com a cabeça baixa, e vi um carro da polícia vindo pertinho.
Lembrei do meu carrinho da polícia de brinquedo, eu gosto de falar com os policiais, e quero ser um também, eles são legais.
- "Bom dia polícia!"
- "Bom dia!" - O homem da viatura acenou de volta, sorrindo um pouco.
- "Brinquedo 3 reais, brinquedos, m-muiito legais!" - Gritei e olhei os arredores, tinha bastante pessoas na rua hoje, mas ninguém parava.
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Insomnia - Miniconto
Mystery / Thriller"Ezequiel 18:19" •~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~• Envolta em uma névoa de mistério, a pacata cidadezinha testemunhou um verão inesquecível em 2002. As sombras se alongavam, e uma aura de melancolia pairava sobre as casas antigas. Um segredo obscuro...